26 de outubro de 2011

DESABAFO - PARTE III - Eduardo Chaves*

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Resta ainda uma pergunta, que não quer calar: e a escola em que o aluno aprende um bocado de coisas, daquelas que conseguem que ele, ao sair delas, saiba o suficiente para entrar numa universidade (quem sabe uma universidade particular, através do ProUni) e para obter, um dia, um diploma universitário? Essa escola é útil?

Bom… Esse tipo de escola admitidamente é útil para que seus alunos entrem na universidade. E entrar na universidade é necessariamente bom? Bom para todos? A resposta correta talvez seja: Talvez… Dois talvezes intencionais, porque a resposta depende da universidade, depende da pessoa… Esse é um outro problema de nossa sociedade: ela sugere que todos devem ir para a universidade. Será que a universidade é para todo mundo, independentemente de seus interesses e capacidades? Será, no espírito de Cristovam Buarque, que qualquer universidade é melhor do que nenhuma universidade?
Assim como a escola, a universidade não garante a preparação do aluno para a autorrealização, para a satisfação nos planos pessoal, interpessoal e profissional. A situação, portanto, é complicada. Uma simples reforma, uma mera “melhorada” nesse sistema escolar não será suficiente para torná-lo realmente valioso, em termos de aprendizagem, educação e desenvolvimento humano. 

Hoje se fala muito em dar uma “repaginada” em alguma coisa. Repaginar parece ser o verbo da moda, prestigiado por escritores afetados: o Carrefour está “repaginando” suas lojas, diz um jornalzinho distribuído de graça no ABC; a prefeitura de Barcelona deu uma boa “repaginada” na cidade com apenas 22 bilhões de Euros quando dos Jogos Olímpicos de Barcelona, diz alguém em entrevista na CBN… Uma “repaginada” era o que a gente antigamente chamava de uma “guaribada” e que mais recentemente se chamou de um “tapa”… Qualquer que seja o nome, uma melhorada, uma guaribada, um tapa, uma repaginada não bastam para tornar a escola útil para a aprendizagem, para a educação, para o desenvolvimento humano, para a vida. 

Falo aqui não da escola admitidamente ruim, mas da escola considerada relativamente boa (aquela que ajuda o aluno a entrar pelo menos numa universidade conveniada com o ProUni). A escola reconhecidamente ruim é inútil, como vimos, até mesmo para ajudar o aluno a aprender a ler e escrever – algo admitidamente útil para a sua educação, para o seu desenvolvimento humano, para a sua vida. No entanto, esse básico do básico é muito pouco para justificar tanto gasto, tanto discurso, tanto faz-de-conta. 

Não precisamos “repaginar” a escola, mas reinventá-la a partir do zero. É indispensável inventar ambientes de aprendizagem novos. A tecnologia nos ajudará a fazer isso, mas só a tecnologia não basta: a tecnologia, deixada a si mesma, ou deixada exclusivamente na mão de engenheiros, cria réplicas fiéis de ambientes de aprendizagem tipicamente escolares, nos quais, por mais paradoxal que pareça, não se aprende muita coisa de útil. 

Até que essa reinvenção aconteça, precisamos encontrar formas de colocar um basta nesse desperdício de tempo (do aluno) e de dinheiro (do país, do aluno, de seus pais, mesmo que o aluno e os pais não paguem nada, porque o rapaz está deixando de ganhar dinheiro enquanto frequenta uma escola em que não aprende nada). 

Quem sabe um Código do Aprendente, que responsabilize e puna a escola, na pessoa de seus gestores e professores, quando seus alunos não aprendem? 

* Eduardo Chaves é pHD em Filosofia, consultor de várias instituições educacionais e colaborador do Blog da Editora Ática.

Extraído de: Blog da Editora Ática