26 de novembro de 2011

100 ANOS DE MÁRIO LAGO - Laura Macedo



Mário Lago é referência das mais importantes quando o assunto é cultura brasileira. A sua história se confunde com a do nosso teatro de revista, do rádio, do cinema, da música popular, da política, da militância, da boemia e, porque não, do Rio de Janeiro e do Brasil.

Ele completaria 100 anos no dia 26 de novembro. Para lembrar seus sucessos, Chico Pinheiro, apresentador do programa Sarau (Globo News) conversa com Mário Lago Filho, um dos cinco filhos, com Cristina Buarque de Holanda e músicos que trabalharam com Lago. 

Confiram, na íntegra, os dois programas apresentados nos dias 18 e 25 de novembro de 2011, clicando aqui.


Mário Lago: 
26/11/1911 - Rio de Janeiro 
30/05/2002 - Rio de Janeiro

Ator, produtor, diretor, compositor, radialista, escritor, poeta, autor de teatro, cinema, rádio e TV, frasista, militante sindical, ativista político e boêmio.

BIOGRAFIA

Ele nasceu na histórica Rua do Resende, no Rio de Janeiro, em 26 de novembro de 1911, filho único de Antônio Lago, um jovem compositor, maestro e violinista de sucesso, de uma família de músicos; e de Francisca Maria Vicência Croccia Lago, jovem descendente de calabreses, oriunda também de família de músicos.

Mário e Zeli passeiam no 
Campo de Santana 
com o primeiro filho, 

Antônio Henrique.
Mário Lago foi criado no bairro da Lapa, no Rio. Formou-se em Direito, mas jamais exerceu a profissão. Chegou a trabalhar como jornalista e estatístico, mas por pouco tempo. Desde criança, a arte exerceu absoluto fascínio sobre ele; uma atração igualada apenas pela política, pela boemia e pela família. A todas elas se dedicou com igual empenho e paixão.

Falecido em 30 de maio de 2002, Mario Lago foi casado por quase 50 anos com Zeli Cordeiro Lago. O ator deixou cinco filhos (Vanda, Antonio Henrique, Graça, Luiz Carlos – falecido em 2010 – e Mário).

Mário Lago: AUTOR 

A estreia de Mário Lago aconteceu em março de 33, como autor teatral. A maior parte de suas peças foi escrita nas décadas de 40 e de 50, para o Teatro de Revista e para atores como Aracy Cortes, Elza Gomes, André Villon, Oscarito e Armando Nascimento.

No início dos anos 1970, escreveu a sua última peça teatral: "Foru Quatro Tiradentes na Conjuração Baiana", sobre a Revolução dos Alfaiates, na Bahia. Proibida pela Censura, teve uma única leitura pública, com participação do próprio Mário, ao lado dos atores Oswaldo Loureiro, Wanda Lacerda, Francisco Milani e Milton Gonçalves, entre outros.

Também escreveu roteiros e argumentos para o cinema, entre eles, o do filme Banana da Terra (1939), em parceria com João de Barro, o Braguinha.

Mário Lago: COMPOSITOR

Na música, estreou em 1936, com a marchinha “Menina, eu sei de uma coisa”, primeira parceria com Custódio Mesquita. O sucesso viria dois anos depois, com “Nada além”, da mesma dupla, na gravação de Orlando Silva.

"Nada Além" (Mário Lago/Custódio Mesquita) by Mário Lago:


Sozinho, ou em parceria com nomes como Ataulfo Alves, Chocolate, Roberto Roberti, Roberto Martins, Benedito Lacerda, Elton Medeiros e João Nogueira, Mário compôs sucessos como Ai, que saudades da Amélia, Atire a primeira pedra, Aurora, Enquanto houver saudade, Fracasso, Será e Dá-me tuas mãos, entre outras.

"Ai, que saudades da Amélia" (Mário Lago/Ataulfo Alves) by João Gilberto:


"Atire a primeira pedra" (Mário Lago/Ataulfo Alves) by Trio Nagô:


"Aurora" (Mário Lago/Roberto Roberti):


"Enquanto houver saudade" (Mário Lago/Custódio Mesquita) by Orlando Silva:


"Fracasso" (Mário Lago) by Francisco Alves:


"Será" (Mário Lago) by Carlos Galhardo:


"Dá-me tuas mãos" (Mário Lago/Roberto Martins) by Mário Lago:



Mário Lago: ATOR

Em 1942, estreou como ator de teatro, onde criou personagens de grande repercussão, como o Aprígio, no clássico O Beijo no asfalto, de Nélson Rodrigues.

No cinema, atuou em alguns dos principais filmes brasileiros, como O Padre e a Moça, de Joaquim Pedro de Andrade, Os Herdeiros, de Cacá Diegues, O Bravo guerreiro, de Gustavo Dahl, e Terra em transe, de Glauber Rocha.

Cena da novela Nina.
A popularização do ator veio com as novelas, a partir de 1966, destacando-se suas atuações em O Casarão, de Lauro César Muniz, Nina, de Walter George Durst, e Dancing Days, de Gilberto Braga, trabalhos que lhe renderam dois prêmios de Melhor Ator da Associação Paulista de Críticos de Artes e um Golfinho de Ouro.

Seus últimos papéis na TV foram a minissérie Hilda Furacão (1998), de Glória Perez, interpretando o velho boêmio Olavo; o especial Enquanto a Noite não Chega, em dezembro de 2000, e uma participação especial na novela O Clone, de Glória Perez, revivendo o personagem Dr. Molina, de Barriga de Aluguel, da mesma autora. Mário Lago gravou a novela no final de 2001, seis meses antes de falecer.

Mário Lago: RADIALISTA


No rádio, foi ator, autor de novelas, produtor e diretor. Seu trabalho mais conhecido foi a série Presídio de Mulheres, que escreveu para a Rádio Nacional e que liderou a audiência da emissora durante cinco anos seguidos. Em 1964, com o golpe militar, Mário Lago foi demitido da Nacional.

Mário Lago: ESCRITOR

Autor de 11 livros, Mário estreou com a coletânea de poemas políticos O Povo Escreve a História nas Paredes. Poeta e escritor - Sua produção literária inclui os títulos Chico Nunes das Alagoas, Na Rolança do Tempo, Bagaço de Beira Estrada, Rabo da Noite, Meia Porção de Sarapatel, Manuscrito do Heróico Empregadinho de Bordel, Segredos de Família e o infantil Monstrinho Medonhento, seu maior sucesso editorial.

Deixou um livro inconcluso, dedicado às memórias das boas “molecagens” que praticou ao longo da vida.

Mário Lago: MILITÂNCIA

Desde jovem, Mário se dividiria entre o trabalho artístico, uma intensa atividade política e a boemia. A participação política lhe rendeu seis prisões, a primeira em janeiro de 1932, e a demissão da Rádio Nacional, em 1964, o que resultou em quase um ano de desemprego. Na época do golpe militar, era procurador do Sindicato dos Radialistas do Rio de Janeiro, um dos mais combativos do país.


Mário participou de várias campanhas em defesa dos direitos humanos e do patrimônio do país, como O Petróleo é Nosso, Contra as Armas Nucleares, Campanha da Paz (durante a II Guerra), Anistia (décadas de 40 e 70), Contra a Censura, Diretas Já, Pela Condenação dos Assassinos de Chico Mendes etc.

No século XX, não há registro de movimento político do gênero que não tenha tido o apoio e a participação direta de Mário Lago. Curiosamente, jamais foi filiado a qualquer partido. A partir de 1989, passou a dar apoio e militância ao PT, mas sem vínculo de filiação.

Mário Lago – O HOMEM DO SÉCULO XX: DÉCADA A DÉCADA

Nas comemorações dos 95 de nascimento de Mário Lago, quando foi lançado o projeto Homem do Século XX, o artista foi retratado em um curto e delicioso livreto da jornalista Isa Cambará. O texto fala sobre o artista e a sua moldura – a sociedade brasileira – e foi dividido em 10 capítulos que representam as décadas do século.

Site Oficial: 100 Anos de Mário Lago – Homem do Século XX / História em Movimento. AQUI.


É bem provável que as gerações recentes não conheçam a totalidade da grande obra de Mário Lago, que completa 100 anos, já que, a partir da década de 1960, passou a dedicar-se cada vez mais à atividade de ator, na televisão e no teatro.

Na minha opinião é um dos artistas mais completos do cenário cultural brasileiro. A sua história se confunde com a do nosso teatro de revista, do rádio, do cinema, da música popular, da televisão, da política, da militância, da boemia e, porque não, do Rio de Janeiro e do Brasil.

Mário Lago foi muitos. E sua alma brasileiríssima há de perpetuar-se, infinitamente, no coração dos brasileiros.

Extraído do sítio de Luis Nassif

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