22 de novembro de 2011

HÁ 200 ANOS SUICIDAVA-SE O INQUIETO E GENIAL POETA HEINRICH VON KLEIST

Uma vida atormentada: da caserna à literatura, do sucesso fugaz à depressão profunda, de país em país. Em apenas 34 anos de uma existência terminada no suicídio, Kleist marcou o drama e a poesia europeias.

Heinrich Von Kleist
O excêntrico estilo de vida de Heinrich von Kleist confundia seus contemporâneos. Ele era um outsider, um pedinchão e uma "ave rara", em todos os sentidos. Onde quer que a ocasião se apresentasse, tirava vantagem da situação e das pessoas. Apesar disso, era dotado de uma mente genial. Em sua brevíssima vida, criou uma excepcional obra literária, que lhe garantiria um lugar póstumo entre os maiores poetas alemães.

Kleist nasceu em 18 de outubro de 1777, na cidade prussiana de Frankfurt no Oder (hoje no estado de Brandemburgo), numa família de nobres e militares com venerável reputação. O pai era comandante de companhia, e contratou um professor particular para lhe garantir uma sólida educação huguenote. Seguindo a tradição da família, após a confirmação o rapaz entrou para a vida militar, como soldado de uma guarnição de elite em Potsdam.

Paralelamente ao treinamento militar, Kleist encontrava ainda tempo para estudar música, e tornou-se um virtuose do clarinete. Contudo, enojado com o vazio da vida em caserna, ele pediu baixa em 1799. Para profundo desgosto da família, que não admitia ele ter aberto mão do emprego seguro e dos privilégios da classe militar.

Guinada para a literatura

Edição histórica da obra de Kleist
Com ambição ferrenha, mas nenhum plano ou meta, Kleist passa a estudar Direito em Frankfurt no Oder. Logo se entedia com a aridez erudita, e se volta para a cadeira de Literatura. Como um possesso, lê Friedrich Schiller, Christoph Martin Wieland e os filósofos mais populares na época. Agora Kleist estava decidido a tornar-se escritor autônomo.

Acompanhado da irmã Ulrike, realiza extensas viagens: Dresden, o Vale do Rio Elba, Estrasburgo e, por fim, Paris, onde conhece Wilhelm von Humboldt. Kleist costuma passar o tempo livre no Louvre, e os museus da cidade se transformam em seu retiro pessoal.

A confrontação com os escritos do filósofo alemão Immanuel Kant o precipitam numa profunda crise existencial, e ele busca refúgio na vida rural na Suíça. "Não vejo ninguém, não leio livros, jornais, enfim, não preciso de ninguém além de mim mesmo", relata. Nesse período Kleist completa seu primeiro drama, Família Schroffenstein. Em 1802 começa a escrever A bilha quebrada, que se tornará uma de suas obras teatrais mais populares.

Altos e baixos

Atormentado por uma inquietação doentia, viaja por diversos países nos anos seguintes, "muitas vezes como se chicoteado pelas Fúrias" – como conta numa carta. Acessos de loucura e um mal dos nervos redundam em grave colapso: Kleist queima parte de seus manuscritos.

Num momento de lucidez, candidata-se em 1804 a um posto no serviço público prussiano. No ano seguinte é transferido de Berlim para Königsberg, e a irmã vai morar com ele. Após a esmagadora derrota do exército da Prússia na guerra contra Napoleão Bonaparte, Kleist é preso como espião pelas autoridades francesas. Preso durante meses numa fortaleza, ele utiliza, porém, esse tempo para o trabalho literário, com Anfitrion (uma comédia segundo Moliêre) e a tragédia Pentesileia. Em 14 de agosto de 1807, é libertado.

De volta a Dresden, o dramaturgo e poeta tem uma recepção promissora: "Duas de minhas comédias – uma impressa, a outra em manuscrito – já foram lidas várias vezes em apresentações abertas, e sempre com aplauso reiterado". Num gesto ousado, ele funda uma revista de arte, mas fracassa fragorosamente como homem de negócios.

Opção pelo suicídio

Sepultura de Kleist e Henriette Vogel em gravura de 1882
Quando a estreia em Weimar de sua peça A bilha quebrada é malhada pelo colega Johann Wolfgang Goethe e vaiada pelo público, Kleist desaparece. Somente em 1810 as necessidades financeiras o trarão de volta a Berlim.

Ele tenta um recomeço com o jornal Berliner Blätter, volta a frequentar os salões literários na esperança de travar contatos úteis. No entanto, entra em choque com a censura. Em março de 1811 Kleist é forçado a fechar o jornal: está arruinado, e isso provoca uma ruptura dramática com sua família.

A decisão de dar um fim à própria vida amadurece dentro do artista frustrado. Juntamente com uma amiga, Henriette Vogel, vítima de moléstia fatal, Heinrich von Kleist dirige-se de coche até o lago Wannsee, onde primeiro mata sua acompanhante voluntária com um tiro de pistola, para suicidar-se em seguida.

* Autoria: Heike Mund / Augusto Valente - Revisão: Alexandre Schossler.

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