3 de dezembro de 2011

BIOGRAFIA RECUPERA A HISTÓRIA DE VIRGINIA WOOLF - Dellano Rios

A vida de Virginia Woolf (1882-1941) não pode ser explicada tendo como ponto único de observação seu fim trágico. Pelos menos, não na interpretação e reconstituição que dela faz o biógrafo Herbert Marder, austríaco, especialista na obra da modernista e autor de "Virginia Woolf - A medida da vida". 


A biografia é centrada nos 11 anos que antecederam o suicídio da escritora. O livro chegou às livrarias brasileiras na quinta-feira passada, lançado pela editora Cosac Naify.

Marder não é um biógrafo comum - daqueles que viajam de uma vida a outra, convertendo em prosa o dia a dia de pessoas célebres. Na verdade, ele é, antes de qualquer coisa, um estudioso de Virginia Woolf. A biografia da escritora, explica o autor no texto da introdução, foi a forma encontrada para se ter uma perspectiva ampla de obra que foi conhecida, pouco a pouco, em visadas microscópicas. Acadêmico, Marder escreveu dezenas de estudos interpretativos - entre artigos, ensaios e livros - sobre os escritos de Woolf. O problema é que a soma desses retratos não é o suficiente para reconstituir a personagem que habita todos eles.

Virginia Woolf nasceu em uma família de classe média alta inglesa. Estreou na literatura em 1915, com o romance "A viagem". Até o fim, esteve ligada ao universo dos livros - escrevendo ficção, ensaios e editando outros autores. Integrou o grupo de Bloomsbury, círculo intelectual proeminente no modernismo anglófono. A partir de 1925, quando lançou o clássico "Mrs. Dalloway", tornou-se reconhecida como uma das principais escritoras de seu tempo. Sua prosa era marcada pela introspecção, pelo recurso ao fluxo de consciência (o que, em parte, explica as frequentes comparações com a brasileira Clarice Lispector).

Entre suas principais obras, precisam ser citadas "Rumo ao Farol", "Orlando - Uma biografia", "As ondas" e "Os anos". Nessas obras, é notável a tensão entre o ímpeto modernista e a formação conservadora e elitista da escrita.

Passagens

É essa tensão o ponto central do livro de Herbert Marder. Sua paixão confessa pela literatura de Virginia Woolf não abala seu posicionamento crítico em relação à mulher e à obra.

Assim, a escritora emerge de uma maneira pouco usual. Não é (exclusivamente) nem a esnobe preconceituosa, que não via com bons olhos pobres, judeus e negros, nem a feminista revolucionária e excêntrica. A Virginia Woolf do livro de Marder tampouco é uma fusão dessas duas. Ela é, na verdade, o embate entre essas duas: a autora é uma mulher de luta e, ao mesmo tempo, um campo de batalha.

Recorrendo aos escritos ficcionais e confessionais de Virginia Woolf, Marder evidencia o papel da tensão em sua vida. Os rompantes de arrogância e elitismo, ao lado de um pensamento progressista e alinhados à política de esquerda, compõem uma figura contraditória, que, radicalmente humana, reconhecia seu caráter conflituoso.

Fonte do vídeo: Valor Econômico

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