2 de janeiro de 2012

DOZE: UM NÚMERO CHEIO DE MISTÉRIOS E PODERES - Günther Birkenstorck

Números são mais do que uma unidade de medida sem sentido. Eles servem organizar e ilustrar, além de terem uma estética própria. Com a entrada do novo ano, o número doze entra em evidencia e revela sua rica historia.

Números são coisa para empregados de escritório e contadores, para áridas estatísticas e para os matemáticos – que são geralmente considerados gente tímida. Eles são o oposto de sensualidade e prazer, da exuberância de cores e sons. Quem quer, mesmo, saber quantos gramas de açúcar contém um bombom, e quais as suas dimensões? Mesmo os motoqueiros que adoram motores barulhentos jamais iriam ilustrar sua preferência num gráfico de decibéis.

E quem é que já seduziu a pessoa amada elogiando o ângulo de seu nariz ou sussurrando-lhe complexas equações matemáticas ao ouvido?

Força numérica

Zodíaco é formado por 12
signos.
Números são conceitos sem conteúdo concreto: mas nem por isso são desprovidos de significado. A própria lista apresentada – conteúdo de um bombom, barulho de uma moto e juras de amor – corresponde a uma lei implacável da retórica: enumerar três elementos garante ao discurso o melhor efeito possível. Dois é pouco, quatro é demais, pois mais do que três exemplos diluem o efeito e destroem o arco de suspense. Forma é conteúdo, e essa forma está muitas vezes ligada a uma ordem, a qual se orienta pelos números, tanto na retórica quanto na poesia.

Mas, além disso, os números também estão associados a sentimentos e imagens. Na Alemanha, o sétimo ano é considerado o mais perigoso num casamento; diz-se que "o que é bom vem sempre em três"; sem falar na amaldiçoada sexta-feira 13. Os ditos e as expressões idiomáticas reproduzem crenças populares, as quais – embora hoje em dia ninguém mais creia nelas a sério – ainda definem a forma de pensar e sentir das pessoas.

O 12 tem destaque especial, no rol dos números plenos de significado. O Olimpo dos gregos é formado por 12 deuses principais, de Afrodite a Zeus; 12 signos do zodíaco adornam o firmamento, duas vezes doze horas resultam em um dia. Todo um sistema de cálculo, utilizado durante séculos, baseia-se no número 12, lado a lado com o sistema usual hoje em dia, baseado no dez.

Natureza e religião

Uma quantidade popular
O sistema duodecimal ainda é presente em nosso cotidiano. Uma dúzia de ovos ou de bananas é um conceito bem claro. E todo vendedor que se preza destaca a qualidade e originalidade de seu produto diante daquele "vendido às dúzias" – ou seja, a mercadoria de massa, de qualidade inferior, dos grandes atacadistas.

Costuma-se atribuir a adoção do 12 como modelo para medida às 12 fases lunares que marcam o decorrer de um ano. Daí, até dividir o calendário em 12 meses, segundo as luas, foi apenas um passo. Assim, o número 12 dá a impressão de ser naturalmente dotado de um significado especial – ou, para quem é crente, de uma força divina.

Os 12 apóstolos em "A Santa
Ceia",  de Leonardo da Vinci
Na Bíblia, ele é praticamente um leitmotiv. Doze apóstolos foram enviados para difundir a palavra de Deus pelo mundo; 12 tribos de Israel compunham o povo eleito; durante a noite cantavam-se 12 salmos. O Espírito Santo gera 12 virtudes: amor, alegria, paz, paciência, clemência, bondade, calma, brandura, fidelidade, modéstia, castidade e abstinência. Antigamente, a festa cristã do Natal incluía 12 dias e noites.

Também a cidade sagrada de Jerusalém é totalmente definida pelo número mágico. Ela possui 12 portas, onde estão 12 anjos. Além disso, quase todas as dimensões da cidade têm o 12 como base. Porém a Cabala, a tradição mística do judaísmo, transcende, de longe, esses significados pitorescos. Na doutrina apreciada por tantos esotéricos, todos os números portam consigo uma significação interna, representando entidades próprias, para muito além de sua aplicação prática.

E o futebol?

Contudo, longe da fé e da religião, há inúmeros exemplos que caracterizam o 12 como algo especial, em meio à diversidade numérica. A técnica de composição desenvolvida por Arnold Schönberg (1874-1951), entrou para a história como "música dodecafônica". Ele tratou em pé de igualdade todas as doze notas do sistema temperado, o que exige do ouvinte uma percepção musical extremamente bem treinada.

Gary Cooper e Grace Kelly
 no western que celebra o
 poder do meio-dia
De forma bem menos elaborada, mas nem por isso menos memorável, o número em questão foi imortalizado numa obra popular da história do cinema. Impossível imaginar um momento do dia mais apropriado para o heróico Gary Cooper enfrentar o vilão Frank Miller, do que as 12 horas: High noon (Matar ou morrer – 1952) é um westerns mais famosos de todos os tempos.

Diante das fases da Lua e das harmonias dos sons, é de se estranhar que outras instituições sociais não adotem o poderoso número. Talvez, um dia, o strike no boliche não signifique derrubar apenas dez pinos. E os craques da bola não sabem o que estão perdendo, ao ignorar o poder da religião e a tradição da Antiguidade, entrando em campo apenas com 11 jogadores por time: com 12, seria tão mais fácil criar um Olimpo do futebol!

Mas talvez tudo isso mude em breve, em consonância com o novo ano de 2012.

Extraído do sítio da Deutsche Welle

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