12 de janeiro de 2012

RUBEM BRAGA COMPLETARIA 99 ANOS HOJE - Fábio Castaldelli


Observar atentamente o cotidiano e, como quem investe numa conversa despretensiosa, apresentar a trivialidade do dia a dia em forma de texto. O assunto pode ser uma inexplicável rouquidão, o sumiço de um caderninho azul, ou o voo aprazível de uma borboleta amarela na esquina da Graça Aranha com a Araújo Porto Alegre, no Rio de Janeiro. Foi levando ao pé da letra a mania de fazer poesia em prosa de assuntos aparentemente banais como estes que Rubem Braga, que nesta quinta-feira completaria 99 anos de idade, direcionou sua produção e escreveu seu nome como um dos principais cronistas brasileiros.

O escritor Mario Prata teve a oportunidade de se encontrar com Rubem Braga uma única vez, em um famoso botequim em São Paulo nos anos 80. Declarado consumidor da obra do cronista, Prata faz coro aos que o consideram como um dos mais importantes do gênero de todos os tempos. "Rubem Braga tinha o dom de transformar banalidade em arte. Talvez por isso ele fora o melhor não apenas de sua geração, que teve nomes como Fernando Sabino, Henrique Pongetti e Paulo Mendes Campos, dentre outros, mas, até hoje, ninguém conseguiu chegar perto dele. O cara era cronista até numa mesa de bar", diz.

Rubem Braga, que fez cerca de 15 mil
cronicas: "cronista até numa mesa de
 bar, disse dela Mário Prata.
Foto: Rafael Silva
Não havia assunto perdido para o "Velho Braga", como ele mesmo gostava de se chamar. A própria falta de assunto por vezes se tornava tema de seus textos que, pela forma e estilo, pareciam contrariar tudo aquilo que preza o considerado bom jornalismo.

Enquanto as redações ferviam em busca de notícias com suas promessas de veracidade e imparcialidade, Braga exprimia em suas crônicas todo o inverso, oferecendo ao leitor uma visão particular sobre as coisas e uma linguagem por vezes rebuscada e fantasiosa. Se por um lado seus textos não concorriam às manchetes das páginas impressas, por outro serviam, ao menos, como fuga do jornalismo técnico e frio, sendo refúgio para os cansados de ler sobre politicagem, sangue e tragédia.

Contudo, o lirismo e a paixão pelos detalhes da rotina diária não impediram que Braga expressasse seu descontentamento sobre os problemas sociais e sua posição em favor da liberdade de expressão. Irritadiço e avesso à religião e ideologias políticas extremistas, Rubem Braga viveu e cronicou por diferentes governos e Estados brasileiros – esteve em redações do Rio de Janeiro, São Paulo, Recife, Porto Alegre e Belo Horizonte, entre outros. Lidou com a ditadura e retornou à presidência de Vargas, cobriu a Segunda Guerra Mundial como correspondente na Itália, assistiu à ascensão e queda dos militares no comando do Brasil e arriscou uma carreira de embaixador do Brasil, em Marrocos.

Em 62 anos de convívio no mundo jornalístico, estima-se que Rubem Braga tenha publicado cerca de 15 mil crônicas. Se os textos ficaram, o tempo passou para ele, que por volta das 23h30min de 19 de dezembro de 1990, morreu sozinho, aos 77 anos, num quarto de hospital no Rio de Janeiro, em decorrência de insuficiência respiratória.

Estante

Entre 1936 e 1990, Rubem Braga publicou inúmeros livros com reuniões de crônicas veiculadas em jornais e revistas brasileiros. Entre “O Conde e o Passarinho” (1936), “O Morro do Isolamento” (1944), “Com a FEB na Itália” (1945), “Um Pé de Milho” (1948), “O Homem Rouco” (1949), “A Borboleta Amarela” (1955), “A Cidade e a Roça” (1957), “Ai de ti, Copacabana” (1960), “A Traição das Elegantes” (1967), “O Verão e as Mulheres” (1990), “As Boas Coisas da Vida” (1988), além de uma reunião de textos seus organizados no livro “200 Crônicas Escolhidas” (1978).

Cachoeiro ainda respira o cronista


Rubem Braga nasceu no Espírito Santo, em Cachoeiro de Itapemirim, cidade em que nasceu outro Braga famoso, o cantor Roberto Carlos (não, não eram parentes). Tão logo cresceu, Rubinho, como era chamado pelos parentes, já demonstrava grande interesse pelas palavras escrevendo, aos 14 anos de idade, textos para o grêmio estudantil do colégio onde era aluno.

Apesar de sair do interior capixaba muito cedo, Rubem Braga nunca esqueceu sua cidade natal, tema, inclusive, de um grande repertório de textos do cronista. Resultado disso é que os cerca de 190 mil habitantes que moram em Cachoeiro reconhecem com orgulho sua importância para o município.

"O cachoeirense Rubem Braga apresentou nossa cidade para o Brasil. Essa herança deixada por ele é reconhecida por toda a população que tem no cronista uma profunda gratidão", diz a secretária de Cultura de Cachoeiro do Itapemirim, Cristiane Resende Paris. 

Nome de bairro, teatro, bienal e de uma lei de incentivo à Cultura do município, Rubem Braga continua presente na rotina dos cachoirenses das novas e velhas gerações.

Extraído do sítio do jornal ODiário.com 

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