7 de abril de 2012

GÜNTER GRASS DEFENDE-SE APÓS PUBLICAR POEMA TACHADO DE ANTISEMITA - Cláudia Hennen



Um polêmico poema afirmando que Israel põe em risco a paz mundial rendeu ao escritor alemão duras críticas. Na sequência, o autor defendeu-se em entrevistas concedidas à mídia alemã, dizendo sentir-se ridicularizado.

O escritor e Prêmio Nobel de Literatura Günter Grass ganhou destaque nas mídias alemã e internacional desde a publicação de seu poema Was gesagt werden muss (O que precisa ser dito, em tradução livre) na última quarta-feira. Em diversas entrevistas concedidas nesta quinta-feira (05/04), Grass defendeu-se das acusações de retrógrado e antissemita.

No poema de 388 palavras, o autor afirma que a potência nuclear Israel ameaça a frágil paz mundial. Após duras críticas depois da publicação, Grass disse sentir-se ofendido e ridicularizado pela imprensa alemã. O escritor de 84 anos de idade declarou à emissora alemã NDR ter previsto que seria rotulado como antissemita. "Trata-se de velhos clichês. Falou-se imediatamente, como era de se esperar, no termo antissemitismo."

Em toda a sua obra literária, o escritor discute o passado alemão, defendeu-se Grass em entrevista ao canal de televisão 3sat. "Em meus livros Die Blechtrommel [O tambor, na tradução brasileira] (1959) e Beim Häuten der Zwiebel [Nas peles da cebola] (2006) está presente o peso da minha geração, a discussão sobre os crimes de responsabilidade dos alemães. E, por isso, essa acusação de antissemitismo é de um ódio atentatório sem igual", declarou.

Olhar crítico

Grass admite ter errado ao falar em seu poema de Israel como um todo e não do governo israelense concretamente. Ele enfatiza sua simpatia pelo país, mas expressa preocupação sobre seu desenvolvimento. Um ataque preventivo contra o Irã poderia provocar um acidente nuclear ou até mesmo uma Terceira Guerra Mundial.

"Essa não é simplesmente uma pequena ação militar. Não é como se alguns mísseis fossem disparados e houvesse apenas algumas mortes, como afirmaram o senhor Barak [presidente dos EUA] e Netanyahu [primeiro-ministro israelense]. Trata-se de uma ação militar que terá consequências. A situação está se agravando. O perigo de operações de guerra em seguida é cada vez maior", considerou Grass.

O escritor também se mantém firme na crítica ao governo alemão, que, segundo Grass, coloca em prática "uma reparação hipócrita" ao fornecer e financiar uma parte dos custos de submarinos a Israel. Três dessas embarcações já estão operando e duas outras deverão ser entregues até o fim de 2012. Em março deste ano, acordou-se sobre o fornecimento de um sexto submarino, que terá um terço de seus custos bancado pela Alemanha.

Alerta de Grass

Grass admite ter errado ao falar em seu poema de Israel como um todo e não do governo israelense concretamente
Esses submarinos podem ser equipados com torpedos convencionais e também com ogivas nucleares. "Assim, nos tornamos corresponsáveis", afirma Grass. O escritor alerta também sobre o crescente isolamento da Alemanha em termos diplomáticos.

"Após as experiências da Segunda Guerra Mundial, temos nos esforçado até agora para tentar manter diálogos e negociações. Tais tentativas também estão em curso com o governo de Israel. Essa autocracia, decidir por si mesmo não importa o que os outros digam, é uma ruptura com a tática até então bem sucedida: enquanto se dialoga, não se dispara", diz.

Grass vê como uma obrigação lançar um olhar crítico sobre Israel. Para o autor, não se pode poupar o país. Isso seria "covardia diante dos amigos", citando as palavras do ex-chanceler federal alemão dos tempos da Guerra Fria, Willy Brandt.

Defesa israelense

Em Israel, não houve grande alvoroço sobre o poema de Grass, relata o jornalista e historiador Tom Segev, de Jerusalém. Pessoalmente, ele considera a obra "terrivelmente vã" e "embaraçosa". A comparação ente Israel e Irã distorce os fatos, diz. "É fato que o Irã ameaça destruir Israel, mas Israel nunca teve a intenção de destruir país algum."

Para Segev, Grass não é, porém, nem antissemita nem anti-israelense. "É legítimo criticar Israel, também na Alemanha. Às vezes é até mesmo necessário. Com relação à opressão dos palestinos, a crítica de fora é muito importante. Direitos humanos em um país só podem ser realmente defendidos de fora", opina o jornalista.

Há poucos meses, Segev fez uma visita a Grass. Ele gostaria que o Prêmio Nobel fizesse melhor uso "das últimas gotas de sua tinta" – como escreveu o poeta em um dos versos de seu polêmico poema –, escrevendo um belo romance.


Extraído do sítio Deutsche Welle

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