21 de abril de 2012

A REVOLUÇÃO DOS RICOS - André Figueiredo Rodrigues

Uma denúncia ao governador de Barbacena, em 1789, trouxe à tona a Inconfidência Mineira – inicialmente rotulada como movimento de aversão à cobrança alta de impostos em Minas.

A prisão de Tiradentes por Antônio Parreiras. 1914
Foi de uma denúncia feita ao visconde de Barbacena, governador de Minas Gerais em 1789, que veio à tona a Inconfidência Mineira, um movimento de contestação ao governo que administrava a capitania. A acusação, feita pelo coronel Joaquim Silvério dos Reis, dizia que alguns indivíduos pretendiam organizar um motim contra a derrama – uma cobrança sobre cada cidadão da região para completar a quantia mínima de cem arrobas anuais de ouro. Naquele ano, Minas devia aos cofres públicos cerca de 538 arrobas, ou o equivalente a quase oito toneladas de ouro.

Os revoltosos contavam com o temor da cobrança do quinto atrasado para obter apoio popular. Os sediciosos alimentavam o desejo de se ver livres das cobranças dos tributos e impostos feitas por Portugal, o que lhes garantiria liberdade comercial. Outro motivo de revolta era o ódio generalizado aos apadrinhados – pessoas que vinham para Minas Gerais, sob a proteção do governador, para administrar cargos públicos – que se aproveitavam de sua posição para se apossar de terras e rendas dos mineiros.

Para diminuir o prejuízo e preservar suas riquezas, os principais fazendeiros, exploradores de ouro e diamantes, criadores de gado, militares, contratadores, magistrados e eclesiásticos resolveram aderir ao movimento. Os inconfidentes, como o poeta Cláudio Manuel da Costa, o ouvidor Tomás Antônio Gonzaga e o ouvidor e proprietário de terras Inácio José de Alvarenga Peixoto, eram quase todos escravistas e constituíam a elite letrada da época. O processo instaurado também condenou cinco religiosos: o cônego Luís Vieira da Silva, proprietário de uma das melhores bibliotecas do Brasil, e os padres Carlos Correia de Toledo, José Lopes de Oliveira, Manuel Rodrigues da Costa e José da Silva e Oliveira Rolim. Ainda foram considerados culpados o tenente-coronel Francisco de Paula Freire de Andrada, comandante do Regimento de Cavalaria e a mais alta patente envolvida na Inconfidência, o sargento-mor Luís Vaz de Toledo Piza, o comerciante e contratador Domingos de Abreu Vieira, o cirurgião Salvador Carvalho do Amaral Gurgel, os doutores Domingos Vidal de Barbosa Lage e José Álvares Maciel e os latifundiários José Aires Gomes e Francisco Antônio de Oliveira Lopes, entre outros.

Onze pessoas foram condenadas à morte, mas dez tiveram a pena modificada e foram degredados para a África – os réus religiosos ficaram presos em Lisboa. O alferes Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes, considerado líder do movimento, foi enforcado, e teve a cabeça decepada e o corpo esquartejado no Rio de Janeiro, em 21 de abril de 1792.

* André Figueiredo Rodrigues é professor das Faculdades Guarulhos, do Centro Universitário Anhanguera de São Paulo e autor de "A fortuna dos inconfidentes: caminhos e descaminhos de bens de conjurados mineiros (1760-1850)" (Globo, 2010).


Extraído do sítio Revista de História.com.br

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