4 de abril de 2012

EDITORAS NA ALEMANHA: UM PANORAMA - Ernst Fischer


A Alemanha possui um sistema de editoras extraordinariamente diferenciado e eficaz, que responde perfeitamente tanto à demanda dos leitores de amenidades quanto à de quem busca literatura especializada ou científica.

A Lista de Endereços do Mercado Livreiro Alemão conta com aproximadamente 15 mil empresas relacionadas à produção e ao comércio de livros. Milhares destas, porém, só publicam esporadicamente. Uma estatística, englobando 2.200 editoras e baseada no volume do imposto sobre valor agregado pago por cada uma, revela quais delas exercem, de fato, atividades editoriais relevantes na Alemanha.

Entre estas empresas, 1.600 registram um faturamento abaixo de 500 mil euros anuais, embora sejam essenciais para a diversidade do mercado livreiro alemão, com ofertas por vezes altamente especializadas. Por outro lado, há 22 editoras com um faturamento anual que supera os 50 milhões de euros: 70% de todo o “bolo”.

Um só teto abriga muitas casas

No comércio de livros alemão, reconhece-se, portanto, uma clara tendência à concentração nas mãos de poucos. A Bertelsmann AG, por exemplo, reúne sob a marca “Random House” – com suas cerca de 200 editoras, o maior empreendimento editorial na área “Interesse Geral” do mundo – 46 editoras e imprints na Alemanha, incluindo algumas importantes que trabalham com livros de ficção de sucesso e de não ficção populares, como Heyne, Goldmann, btb, Blanvalet, C. Bertelsmann, Blessing, DVA e Siedler. Como grupo de mídia, a Bertelsmann pode fazer uso dos efeitos de sinergia entre todos estes setores, a fim de consolidar cada vez mais sua posição no mercado.

Um fenômeno semelhante ocorre com o grupo Holtzbrinck, que opera internacionalmente no mercado de mídia. Com editoras como Rowohlt, S. Fischer, Kiepenheuer & Witsch e Droemer Knaur, ele tem pelo menos participação em editoras populares de primeira linha. Neste grupo, as editoras concorrem umas com as outras de maneira ainda mais acirrada que no caso do Grupo Bertelsmann e podem – em caso de sucesso – planejar seus catálogos com relativa independência.


Com alguma distância em relação a estes dois grandes grupos de mídia, segue o grupo sueco Bonnier, que, sob a denominação Bonnier Media Deutschland, conseguiu se impor nas áreas de ficção e não ficção (editoras Piper, Malik, Pendo e Econ), no setor de livros de bolso (editoras List e Ullstein), assim como de livros infanto-juvenis (editoras ars edition, Thienemann e Carlsen). Quem ocupa o quarto lugar é a Weltbild, empresa de propriedade da Igreja Católica, que combina produção editorial com vendas por catálogos e em livrarias exclusivas.

O sucesso das independentes

Editoras independentes também têm sucesso econômico. Um exemplo de destaque é a Carl Hanser, que inclui em seu catálogo vários vencedores do Prêmio Nobel de Literatura e autores de sucesso, como Umberto Eco, por exemplo. Como é típico do sistema editorial na Alemanha, a Carl Hanser abriga também uma poderosa editora de livros e revistas voltados para a área técnica. De forma semelhante, a editora C. H. Beck, uma das líderes do setor jurídico especializado, acabou bem-sucedida em sua empreitada de criação de um setor voltado às ciências humanas. As editoras Hanser e Beck têm sede em Munique, cidade considerada a capital das editoras alemãs.

Uma situação mais difícil é enfrentada por uma empresa como a editora Suhrkamp, por exemplo, que precisa lutar para manter hoje a posição que assumiu nos anos 1960: a de uma editora que ditava (sob a marca “Suhrkamp-Kultur”) o zeitgeist, o espírito da época. Com a mudança de sua sede de Frankfurt para Berlim, a editora deixou claro este propósito: a capital do país passou a ser um importante centro da vida cultural na Alemanha, tornando-se cada vez mais atraente para editoras em geral.

Maior faturamento: editoras especializadas e científicas

Os nomes Suhrkamp, Hanser, Fischer e Rowohlt têm grande destaque público. O maior volume de capital, porém, flui para outros setores do sistema editorial. No topo da pirâmide econômica está a editora Springer, que se encontra nas mãos de grupos de investimento internacionais interessados exclusivamente em rendimentos. O grupo Springer Science Business Media, com 55 editoras filiadas espalhadas pelo mundo inteiro, e que, além de em livros e revistas nas áreas de ciências naturais, medicina, tecnologia e economia, apostou cedo nas tecnologias online, registrou na Alemanha um faturamento de 482 milhões de euros no ano de 2010.


Seguem no ranking o Grupo Klett e o Grupo Franz-Cornelsen, ambos atuantes no setor educativo, editando principalmente livros escolares, didáticos e de informações especializadas, com um faturamento entre 400 e 500 milhões de euros. A Random House Deutschland está apenas está em quarto lugar, à frente da Westermann, que marca pontos novamente na área de livros escolares, didáticos e juvenis. Com as editoras Haufe, Wolters Kluwer e Weka, o ranking é dominado por ainda mais empresas voltadas ao setor de publicações especializadas. As editoras de literatura popular encontram-se apenas entre o 20° e o 50° lugar da classificação.

As dinastias dominam

Na Alemanha, o setor editorial é organizado com base numa estrutura de economia privada. Uma grande porcentagem das editoras de destaque pertence a empresas familiares. As famílias e dinastias ocupam um lugar importante até entre grupos de mídia que contam com uma gestão empresarial.


Sob o ponto de vista da estrutura de propriedade, também merecem ser citadas as empresas que resultaram de fusões, como por exemplo as editoras Deutscher Taschenbuchverlag (dtv), fundada em 1961, e a UTB (Uni-Taschenbücher), fundada em 1970. Ambas tinham por meta proporcionar a publicação de títulos disponíveis em outras editoras em formato de livros de bolso, desde que essas editoras não dispusessem de programas próprios do gênero. As duas editoras, porém, logo começaram a lançar títulos originais nas áreas de literatura e estudos literários, adquirindo perfil próprio.

Situação atual e perspectivas para o futuro

No geral, a situação econômica das editoras de livros na Alemanha pode ser considerada saudável: afinal, desde 1992, o faturamento do setor aumentou 53%. Para 2010, os cálculos provisórios são de 5,4 bilhões de euros.


Ainda não é possível avaliar até que ponto o setor editorial alemão está preparado para enfrentar a digitalização. No início de 2011, 35% das editoras alemãs dispunham de e-books em seus catálogos (5,4% do faturamento). A participação no mercado como um todo continua, contudo, abaixo de 1%, sobretudo devido à regulamentação de preços no país. As grandes editoras resistem sobretudo no segmento dos best-sellers, por temerem a reprodução ilegal de conteúdos.

* Ernst Fischer é professor do Instituto de Editoração da Universidade Johannes Gutenberg de Mainz. Uma de suas especialidades é o mercado livreiro na Alemanha do século XVIII até hoje. Tradução: Renata Ribeiro da Silva.

Extraído do sítio do Instituto Goethe

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