14 de abril de 2012

A SEMANA DE 1922 TERMINOU - Rodolfo Borges



"1922 - A Semana Que Não terminou", de Marcos Augusto Gonçalves (Companhia das Letras), marca os 90 anos da Semana de Arte Moderna. 


Chegou ao fim, 90 anos e um mês depois de iniciada, a Semana de Arte Moderna. Pelo menos para mim. Foi quando eu fechei pela última vez “1922: A semana que não terminou” (Marcos Augusto Gonçalves, Companhia das Letras, 2012, 340 páginas). Não que o livro seja definitivo – se nem o autor tem essa pretensão, por que bancá-la? – mas a “reportagem histórica” que Marcos Augusto Gonçalves se propôs a fazer era o que me faltava para encerrar a semana mais famosa da nossa história artística.

O “1922” é reportagem naquele sentido de que tenta evitar (eu diria que consegue) se posicionar. O livro não crava a Semana de Arte Moderna como o evento de fundação da cultura nacional que entrou para a história, nem como a fraude artística que só teria sido percebida por volta da década de 1980. E se o julgamento fica para mim, enquanto leitor, digo que tendo para a segunda opção.


Não é o caso de botar em dúvida o talento de Mário ou Oswald de Andrade, de Di Cavalcanti, Anita Malfatti ou Menotti del Picchia, mas há tanto de extra-arte envolvido na reunião desse pessoal que seria ingênuo avaliar a semana de 1922 simplesmente como evento artístico. Até porque, quando a mostra foi organizada, os próprios participantes não tinham ainda a noção exata do que estavam produzindo ou queriam dizer – o discurso era confuso e o Manifesto Antropófago, de Oswald, por exemplo, surgiria apenas seis anos depois.


A Semana de 1922 foi mais a manifestação de uma vontade por mudança (ainda que ela estivesse sendo importada da Europa), e também de um desejo de aparecer, de chamar atenção. Conseguiram. Assim como conseguiram reforçar, com o patrocínio da elite paulistana (também nossa revolução artística foi feita de cima para baixo), o discurso de São Paulo como estado refundador do País e símbolo do progresso bandeirante – não por acaso o carioca Villa-Lobos, destaque musical do festival, mal é lembrado quando se fala nele.

Que os organizadores da semana tenham arregimentado agitadores para puxar vaias na segunda das três noites de eventos só reforça o caráter artificial da coisa. Talvez seja só a minha resistência a movimentos artísticos que envolvam mais de uma pessoa, mas o fato é que, depois dessa leitura, me sinto, enfim, confortável para relativizar a importância da maior semana da arte brasileira, que nunca me pareceu tão grande assim.


Ponto para Marcos Augusto Gonçalves, que, com agradáveis capítulos curtos e uma boa contextualização sobre os anos que antecederam a famigerada semana no Brasil e no mundo, contribuiu para o fim de um drama estético que me perseguia desde o colégio. Problema resolvido, pelo menos até sair o livro em comemoração aos 100 anos da semana de 1922.


Extraído do sítio Brasil 247

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