21 de abril de 2012

LÉSBIA - Cruz e Souza


Cróton selvagem, tinhorão lascivo, 
Planta mortal, carnívora, sangrenta, 
Da tua carne báquica rebenta 
A vermelha explosão de um sangue vivo. 

Nesse lábio mordente e convulsivo, 
Ri, ri risadas de expressão violenta 
O Amor, trágico e triste, e passe, lenta, 
A morte, o espasmo gélido, aflitivo... 

Lésbia nervosa, fascinante e doente, 
Cruel e demoníaca serpente 
Das flamejantes atrações do gozo. 

Dos teus seios acídulos, amargos, 
Fluem capros aromas e os letargos, 
Os ópios de um luar tuberculoso... 

(*) Lésbia (Clódia) foi mulher de Quintus Metellus Celer, filha de Appius Claudius Pulcher. Lésbia era um 'falsum nomen', segundo Ovídio. Assim foi freqüentemente celebrada em versos pelo lascivo Catulo a mulher cujo pseudônimo era Lésbia. Não foi difícil tirar tal conclusão, tendo em vista a admiração do poeta pela poetisa de Lesbos - Safo. Além disso, Apuleio (séc. I d.C.) diz que Lésbia é Clódia, pois os poetas elegíacos escolhiam um pseudônimo que tivesse o número de letras igual ao do nome verdadeiro, conforme os cânones da poesia alexandrina (Lesbia/Clodia). A Lésbia dos poemas catulianos, pesava-lhe a suspeita de ter causado a morte de seu marido e que, após se tornar viúva, se amantizara com Caelus Rufus, pondo de lado Catulo, amante que tivera durante a vida com o marido. (Filologia.org.br)


(**) João da Cruz e Sousa nasceu em Desterro, atual Florianópolis. Filho de escravos alforriados pelo Marechal Guilherme Xavier de Sousa, seria acolhido pelo Marechal e sua esposa como o filho que não tinham. Foi educado na melhor escola secundária da região, mas com a morte dos protetores foi obrigado a largar os estudos e trabalhar. Sofre uma série de perseguições raciais, culminando com a proibição de assumir o cargo de promotor público em Laguna, por ser negro. Em 1890 vai para o Rio de Janeiro, onde entra em contato com a poesia simbolista francesa e seus admiradores cariocas. Colabora em alguns jornais e, mesmo já bastante conhecido após a publicação de Missal e Broquéis (1893), só consegue arrumar um emprego miserável na Estrada de Ferro Central. Casa-se com Gavita, também negra, com quem tem quatro filhos, dois dos quais vêm a falecer. Sua mulher enlouquece e passa vários períodos em hospitais psiquiátricos. O poeta contrai tuberculose e vai para a cidade mineira de Sítio se tratar. Morre aos 36 anos de idade, vítima da tuberculose, da pobreza e, principalmente, do racismo e da incompreensão. (Jornal de Poesia)


Extraído do sítio Sonetos.com.br

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Os comentários serão moderados. Não serão mais publicados os de anônimos.