13 de maio de 2012

LITERATURA BRASILEIRA E O 13 DE MAIO

Em 13 de maio de 1888, a Lei Áurea foi assinada pela Princesa Regente Isabel de Bragança; era um anseio dos negros escravizados e resultado de uma sequência de outras leis que, aos poucos, encerravam o comércio de escravos: a Lei do Ventre Livre declarara livres os filhos de escravas nascidos a partir de 7 de novembro de 1831; a Lei Eusébio de Queiroz, promulgada em 4 de setembro de 1850 proibira a importação de escravos para o Brasil; a Lei dos Sexagenários, de 28 de setembro de 1875, libertara todos os negros maiores de 60 anos. D. Isabel ficou conhecida como A Redentora, embora saibamos que a libertação dos escravos fora impulsionada mais por razões políticas e econômicas do que humanitárias. A história da literatura brasileira contém diversos exemplos de autores que usaram o negro como tema de seus textos.


A literatura brasileira do período colonial pouco – ou quase nada – mostrou da cultura negra. No século XVII, o poeta barroco Gregório de Matos Guerra expôs o modo como os senhores enxergavam seus escravos:

Que falta nesta cidade?… Verdade.
Que mais por sua desonra?… Honra.
Falta mais que se lhe ponha?… Vergonha.

O demo a viver se exponha,
Por mais que a fama a exalta
Numa cidade onde falta
Verdade, honra, vergonha.

Quem a pôs neste rocrócio?… Negócio.
Quem causa tal perdição?… Ambição.
E a maior desta loucura?… Usura.

Notável desaventura
De um povo néscio e sandeu
Que não sabe que o perdeu
Negócio, ambição, usura.

Quem são seus doces objetos?… Pretos. 
Tem outros bens mais maciços?… Mestiços. 
Quais destes lhe são mais gratos?… Mulatos.

Dou ao demo os insensatos, 
Dou ao demo a gente asnal, 
Que estima por cabedal 
Pretos, mestiços, mulatos. 

O tema só foi realmente valorizado na segunda metade do século XIX, quando nossos escritores aliaram-se à causa abolicionista. A literatura romântica foi usada como instrumento de divulgação da causa. A poesia social de Castro Alves, poeta da terceira geração romântica, denunciava os maus tratos nos porões dos navios e retratava o desejo de liberdade, como no poema A cruz na estrada.

Caminheiro que passas pela estrada,
Seguindo pelo rumo do sertão,
Quando vires a cruz abandonada,
Deixa-a em paz dormir na solidão.

Que vale o ramo do alecrim cheiroso
Que lhe atiras nos braços ao passar?
Vais espantar o bando buliçoso
Das borboletas, que lá vão pousar.

É de um escravo humilde sepultura,
Foi-lhe a vida o velar de insônia atroz.
Deixa-o dormir no leito de verdura,
Que o Senhor dentre as selvas lhe compôs.

Não precisa de ti. O gaturamo
Geme, por ele, à tarde, no sertão.
E a juriti, do taquaral no ramo,
Povoa, soluçando, a solidão.

Dentre os braços da cruz, a parasita,
Num abraço de flores, se prendeu.
Chora orvalhos a grama, que palpita;
Lhe acende o vaga-lume o facho seu.

Quando, à noite, o silêncio habita as matas,
A sepultura fala a sós com Deus.
Prende-se a voz na boca das cascatas,
E as asas de ouro aos astros lá nos céus.

Caminheiro! do escravo desgraçado
O sono agora mesmo começou!
Não lhe toques no leito de noivado,
Há pouco a liberdade o desposou.

Cruz e Souza, o poeta mais importante do Simbolismo brasileiro, intensificou sua contra a escravidão após ter sido impedido de assumir um cargo público na cidade de Laguna. É de sua autoria Tropos e fantasias (1885), volume escrito em parceria com Virgílio Várzea, em que mostrava-se espantado com a postura da Igreja diante da escravidão:

Um padre escravocrata!… Horror! Um padre, o apóstolo da Igreja, que deveria ser o arrimo dos que sofrem, o sacrário da bondade, o amparo da inocência, o atleta civilizador da cruz, a cornucópia do amor, das bênçãos imaculadas, o reflexo de Cristo…

Um padre que comunga, que bate nos peitos, religiosamente, automaticamente, que se confessa, que jejua, que reza o - Orate Frates, que prega os preceitos evangélicos, bradando aos que caem surge et ambula.

Um escravocrata de. . . batina e breviário. . . horror!

Fazer d.a Igreja uma senzala, dos dogmas sacros leis de impiedade, da estola um vergalho, do missal um prostíbulo…

Um padre amancebado com a treva, de espingarda a tiracolo como um pirata negreiro, de navalha em punho como um garoto, para. assassinar a consciência.

Paço Imperial, Rua 1 de março, Rio de Janeiro. Ali foi assinada a Lei Áurea.
No século XX, Gilberto Freyre retratou as relações entre negros e senhores no célebre livro Casa Grande & Senzala; Jorge Amado difundiu a cultura negra baiana em todos os seus livros. A religiosidade trazida pelos africanos apareceu em textos como Tereza Batista cansada de guerra, Pastores da noite, Mar morto e Capitães da areia.

Com a promulgação da Lei nº 10.369, o estudo da história e cultura africanas passou a ser obrigatório nas escolas. Além da leitura de textos como os que foram citados neste post, é possível realizar ações que permitam a reflexão sobre a cultura negra e sua influência em diversas áreas de conhecimento.


Extraído do sítio Conversa de Português

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