19 de maio de 2012

COMO TANTOS OUTROS - Ossip Mandelstam

Picasso - Le Baiser
Como tantos outros, quero
pôr-me a teu serviço.
Embriagar-te com estes meus lábios
Que a aridez dos impulsos das gretas.

A palavra não sacia
a secura ardente de minha boca,
sentir uma vez mais,
o desabitar sonolento da brisa.

Os impulsos já são sombras,
porém tua voz me chama
e vou rumo a te - eu mesmo
réu rumo ao tormento.
Nem amor nem felicidade
posso dar-te por palavra:
Ah trocaram meu sangue
por outro mais violento.

Só um instante mais
e direi ao vazio
que não és senão dor
quanto de te me chega.
O mesmo que uma culpa
Atenazas-me rumo a te me atrai
tua delicada boca de cereja,
arrebatada de última doçura.

Voltar para onde te espero, tenho
medo se tu me faltar.
Nunca te desejei
como agora. E todos meus desejos
revertem logo em realidades.
Os impulsos já são sombras, 
porém tua luz me chama.


Ossip Emilievitch Mandelstam, nascido em Varsóvia, em 1891, é um dos maiores escritores do período soviético e do século XX. Suas primeiras produções ensaísticas começam  no período ginasiano, quando escreve O Crime e o Castigo em Boris Godunóv (1906), como trabalho para a escola. Depois viria o ensaio François Villon (1910), publicado na revista Appolón (1913), O Amanhecer do Acmeísmo (1012/1913), corrente da qual foi um dos principais representantes ao lado dos poetas Nikolái Gumilov e Anna Akhamatóva, O Interlocutor (1914), Pior Tchaadáiev (1914), Skriábin o Cristianismo (1915) e outros textos em prosa. Publicou ainda os livros: Tristia (1922), O Ruído do Tempo (1925, reminiscências publicadas no Brasil em 2000 pela Editora 34), O Selo Egípcio (1928), Viagem À Armênia (1930, reminiscências publicadas no Brasil em 2000 pela Editora 34), Lamarck (1932), Sobre A Fala Alemã (1932). Morreu em 1938, doente e enlouquecido num campo de trabalhos forçados na Sibéria.


Extraído do sítio Germinal Literatura

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