19 de junho de 2012

10 ANOS DA MORTE DE ROBERTO DRUMMOND SERÃO LEMBRADOS COM REEDIÇÃO DE LIVROS E DOCUMENTÁRIO

O escritor mineiro foi o criador de Hilda Furacão e torcedor apaixonado do Atlético Mineiro. Sua vida será resgatada em longa do diretor Breno Milagres.

“Escrevo esta crônica 12 horas antes do jogo Brasil x Inglaterra. Vocês sabem: sou fascinado com bolas de cristal, videntes, tudo que pode prever o dia de amanhã, o futuro e seus mistérios, o que está por acontecer. Mais do que nunca, gostaria de ter uma bola de cristal ou os poderes de vidente de minha amiga madame Janete, só para saber quem venceu, se a Seleção de Ronaldinho, se a seleção de Beckham.” Esse trecho é parte da crônica “Seja o que Deus quiser”, a última do jornalista e escritor Roberto Drummond e que foi publicada em 21 de junho de 2002, no Estado de Minas. No texto, o autor de Hilda Furacão demonstrava toda a sua ansiedade pelo clássico Brasil x Inglaterra, pela Copa do Mundo do Japão e Coreia, que seria realizado na madrugada seguinte. Roberto não conseguiu saber o resultado da partida, pois morreu vítima de um infarto justamente na hora da decisão.

No entanto, esperava, como se vê no fim da crônica, que a seleção canarinho se sagrasse vencedora: “Inglaterra é um adversário forte demais e vencer (ter vencido) o time de Beckham é carimbar o passaporte para o penta”. Mal sabia ele que o Brasil não só derrotaria os súditos da Rainha de virada e se sagraria campeão como quem faria o gol da vitória, Ronaldinho Gaúcho, é hoje o maior ídolo do seu time do coração, o Atlético Mineiro.

Passados 10 anos da morte de Roberto Drummond, é momento de destacar sua obra, sua paixão pelo futebol, o convívio com a família e os amigos, e seu legado para a literatura nacional. Entre os eventos para lembrar a data estão os relançamentos dos livros Ontem à noite era sexta-feira e Inês é morta, este ano, e do romance Hitler manda lembranças, em 2013, pela Geração Editorial; um documentário dirigido por Breno Milagres sobre a vida do escritor, além de uma homenagem da torcida atleticana no dia 23, durante o jogo Atlético X Náutico, pelo Campeonato Brasileiro, no Independência.

O jornalista, cronista e escritor Roberto Francis Drummond nasceu em Ferros, na Região Central do estado, em 21 de dezembro de 1933. Participou da chamada literatura pop, marcada pela ausência de cerimônias e pela proximidade com o cotidiano. Iniciou a carreira na extinta Folha de Minas, trabalhou no Binômio (onde conseguiu um surpreendente furo de reportagem, quando comprou um casal de nordestinos para provar que se explorava o trabalho escravo na região de Montes Claros), na revista Alterosa e nos jornais Hoje em Dia, Última Hora, no Jornal do Brasil – em sua temporada carioca – e no Estado de Minas, em diferentes épocas.

O destaque da sua primeira passagem pelo jornal, que durou 25 anos, foi a crônica esportiva, na coluna Bola na marca, assumida por ele em 1969. Além de cronista, foi repórter, vencendo dois prêmios Esso na década de 1960: com as reportagens “Interpretação econômica do futebol brasileiro” e “Mulher, receita mineira”. Foi subeditor dos cadernos “Segunda Seção” e “Turismo”. Voltaria em janeiro de 2001, escrevendo tanto para o EM Cultura quanto para o Esportes.

Teve passagens na televisão, mas se consagrou mesmo como escritor. Seu primeiro livro, A morte de D.J. em Paris surpreendeu pelas inovações estilísticas e de linguagem e foi aclamado pela crítica e público. Considerada como um divisor de águas da literatura brasileira contemporânea, a obra rendeu ao autor o maior prêmio literário brasileiro da época, o Concurso de Contos do Paraná – que antes havia premiado Dalton Trevisan, Rubem Fonseca e Garcia de Paiva. Transformado em livro de contos, recebeu o Jabuti, como autor revelação, em 1975, e teve imediato reconhecimento acadêmico tanto no Brasil como no exterior.

Seu grande sucesso literário foi Hilda Furacão, lançado em 1991 e que depois se tornou minissérie global revelando ao país nomes como o de Ana Paula Arósio e Thiago Lacerda. Atleticano fanático e apaixonado por Belo Horizonte, Roberto deixou a esposa, Beatriz, e a única filha, Ana Beatriz. E muitos amigos, que ainda hoje se emocionam ao falar de Roberto e relembrar suas histórias. “Roberto era uma figura humana fantástica. Gostava do jeito dele, muito curioso e engraçado”, recorda Ignácio de Loyola Brandão.

Conheça a obra completa de Roberto Drummond:
  • A morte de DJ em Paris (1975)
  • O dia em que Ernest Hemingway morreu crucificado (1978)
  • Sangue de Coca-Cola (1980)
  • Quando fui morto em Cuba (1982)
  • Hitler manda lembranças (1984)
  • Ontem à noite era sexta-feira (1988)
  • Hilda Furacão (1991)
  • Inês é morta (1993)
  • O homem que subornou a morte e outras histórias (1993)
  • Magalhães: navegando contra o vento (1994, coautoria J.G. Bandeira de Melo)
  • O cheiro de Deus (2001)
  • Dia de São Nunca à tarde (publicação póstuma)
  • Os mortos não dançam valsa (publicação póstuma)
  • O estripador da Rua G (publicação póstuma pela Fundação de Cultura de Belo Horizonte)
  • Uma paixão em preto e branco (publicação póstuma das melhores crônicas de Drummond sobre o Clube Atlético Mineiro)
Extraído do sítio Diário de Pernambuco

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