10 de junho de 2012

EM MEMÓRIA DE RAY BRADBURY

© colagem: Voz da Rússia
No dia 6 de junho, em Los Angeles, com 91 anos de idade, faleceu o clássico da literatura americana do século XX, o famoso autor de obras de ficção científica Ray Bradbury.

“Não sou inventor de histórias sobre planetas e foguetes, sou professor, ensino a vocês a vida”,- assim dizia o escritor clássico americano do século XX Ray Bradbury. O famoso escritor de obras de ficção científica faleceu no dia 6 de junho, em Los Angeles, na idade de 91 anos.

Já há mais de meio-século que Ray Bradbury continua sendo um dos autores estrangeiros mais procurados por leitores russos, incluindo os seus colegas de profissão. Boris Strugatski, um dos fundadores da literatura soviética de ficção científica, reagiu com grande tristeza ao seu falecimento. Ele disse: “Bradbury foi um dos melhores escritores da América, foi um dos meus preceptores, por quem nutria profundo respeito. Tenho lido os seus livros desde a infância”. Os livros de Ray Bradbury, - um total de nove romances e 400 novelas, - são editados em russo a partir da década de 60 do século passado e a sua reedição continua até hoje. Note-se que a “palma da vitória” pertence, assim como dantes, ao seu romance lendário “Crônicas Marcianas”, dedicado à colonização do Planeta Vermelho pelos habitantes da Terra. Ao recordar estas edições, ainda da época soviética, o autor de obras de ficção científica Serguei Lukianenko, popular nos dias de hoje, diz:

"Existia uma série famosa – a “Biblioteca de Obras de Ficção Científica Estrangeira”, muito boa, com excelentes traduções, e, como é natural, a gente fazia esforços para obter um livro destes. Bradbury foi um daqueles que continuava a escrever sobre pessoas, independentemente do local em que se encontravam – seja na Terra, em Marte ou nalgum mundo paralelo, - prossegue Serguei Lukianenko. – Bradbury conseguiu preservar o humanismo nas obras de ficção científica. Os seus livros são o enfoque de uma pessoa que olha o mundo com atenção, sabe compreender as pessoas e sabe relatar esta compreensão."


Na Rússia as obras de Ray Bradbury eram não somente lidas e relidas: muitas delas serviram de roteiro para adaptações cinematográficas de mais diversos gêneros. Pode-se recordar o filme televisionado de quatro novelas “O Vinho de Dentes-de-leão”, rodado na base do romance homônimo e autobiográfico do autor, e as obras cinematográficas anteriores, rodadas ainda na época soviética. Por exemplo, o desenho animado na base do seu conto “O Polígono”. As novelas de Ray Bradbury foram também adaptadas para filmes televisionados, que se transmitiam no quadro do seriado bem-sucedido de muitos anos “Este Mundo Fantástico”. O episódio mais notável desta série é “O Abismo de Chicago”. Hoje, podemos ver as personagens de Bradbury no palco teatral. Por exemplo, o eminente teatro de Moscou “Et Cetera” encenou a famosa antiutopia “Os 451 graus Farenheit”. Por uma coincidência mística, este espetáculo foi levado à cena precisamente no dia da morte de Ray Bradbury. Os artistas emocionados deram esta informação ao público diretamente do palco e no intervalo o diretor teatral Igor Yatsko falava do escritor usando o tempo passado do verbo.

"Ray Bradbury sabia criar com muita força uma paisagem futurista inverossímil, que é muito próxima do homem moderno..."

A jovem escritora russa Anna Starobinets acha que a atualidade de Ray Bradbury é resultado do seu humanismo.

"A julgar pelo seu último romance “Adeus Verão”, Bradbury tinha uma grande fé nos valores humanos do homem que se pode vencer a si mesmo, alcançar as estrelas e superar certos demônios em si ."

É surpreendente que Ray Bradbury, um representante brilhante da ficção científica e precursor de muitas inovações técnicas, tenha sido uma pessoa admiravelmente conservadora. Não gostava de todos estes “gadjets” eletrônicos, não usava computador, nem sequer viajava de avião e, de um modo geral, preferia não deixar por muito tempo a sua casa. O escritor, que era muito caseiro, nunca esteve na Rússia, mas há alguns anos falou de bom grado sobre a Rússia numa entrevista concedida à televisão russa e chegou a fazer mais um dos seus “vaticínios”: “Cedo ou tarde os russos aprenderão a se amar a si próprios e a acreditar em si, eles irão dominar o futuro – irão dominá-lo com ajuda do amor e não por meio de guerras e de ditaduras. É disso que me convence a literatura russa. Portanto, o nosso século ainda verá a Rússia emergir como uma grande potência”. Nesta mesma entrevista, Ray Bradbury entregou-se a reflexões sobre a sua própria morte e “profetizou” o seu próprio futuro: “Estarei aqui sempre – pelo menos uma caixa com os meus filmes e prateleiras com os meus livros permitem esperar que tenha ainda uma reserva de uns cem ou duzentos anos. Talvez não seja a eternidade mas já não é mau, não é?"


Extraído do sítio Voz da Rússia

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