8 de junho de 2012

LIVROS PARA JORNALISTAS - Ivan Moraes Filho



Dia desses a colega Larissa Brainer me pediu para eu fazer uma pequena lista sugerindo livros para jornalistas ou pretensos jornalistas. Eu fiz, mas ela acabou não sendo publicada. Agora, inspirado por Xico Sá, que acabou de publicar a dele, segue a minha. Naturalmente a lista, como tudo no jornalismo, é parcial e incompleta. Mas também é aberta à sua sugestão.

As Veias Abertas da América Latina (Eduardo Galeano) – Foi mal, tem que ler. É muito possível que algum professor já tenha indicado o livro, uma referência pra quem acha que o mundo podia ser um tantinho diferente do que é. Talvez você já tenha lido, talvez tenha lido duas resenhas para fazer alguma prova. A verdade é que vale muito a pena ler e vale muito a pena pensar em como seria uma sequência desse trabalho falando do que tem havido neste continente vasto e sem porteira de 70 pra cá. Se você já estiver suspirando e dizendo “Ah, mas isso é coisa de comunista saudoso”. “Ah, isso é coisa de viúva de Che Guevarra”, talvez você nem curta o resto da lista.

Chatô, o Rei do Brasil (Fernando Morais) – Não se trata de uma biografia de Assis Chateaobriand, um dos maiores barões da mídia que esse país já viu nascer, crescer e morrer. Trata-se da história da comunicação de massas no Brasil. Fundamental para quem está começando no batente e achando que vai mesmo “escrever, viajar e mudar o mundo”. Através das divertidas presepadas de Chatô (que poderia ter saído da imaginação de um Chico Anysio da vida), você percebe que o jornalismo que se fazia naquele tempo não é lá tão diferente do que a gente muitas vezes acaba tendo que fazer nesses dias de hoje.

Sem Logo (Naomi Klein) – Essa moça canadense sabe o que diz e o que escreve. Em seus livros (outro bom é “A doutrina do choque”) a escriba se esmera em apurar como poucos jornalistas que já li. Números, documentos, datas, eventos, encontros e desencontros. Nada escapa ao olhar dessa que é hoje uma das grandes vozes do movimento altermundista internacional. Basta dizer que em Sem Logo ela conecta os pontos entre a supervalorização das marcas, o declínio do mercado de trabalho no mundo desenvolvido, os perigos da desregulamentação do trabalho e a privatização do espaço público. Não tenha medo. O livro tem um final feliz (suficientemente feliz, diria).

Um defeito de Cor (Ana Maria Gonçalves) – Eis a única obra de ficção (ou não) que entra nessa lista. Através da história de Kehinde, uma menina africana sequestrada na infância para ser escrava em Salvador, a gente percebe o Brasil colonial de uma forma que não está em nenhum livro de história que já tenha passado pela minha mão. A escravidão de ganho, o mercado, as insurreições negras, a folga, os sonhos de quem está cativo. Uma forma de a gente perceber que a história tem vários lados (nem um, nem dois, nem três), de sacar que o racismo por aqui tá longe de acabar e que tem muito saber em lugares onde a gente menos espera encontrar.

Regulação das Comunicações (Venício Artur de Lima) – O professor Venício (da UNB) é um sociólogo mineiro que mora em Brasília e é uma das figuras que mais estuda esses coisos de lei, decreto, regras e outros blablablás que talvez você nunca tenha tido paciência de discutir, mas que afeta tua vida (inclusive de jornalista) desde o mercado de trabalho até a liberdade (ou não) de escrever o quer (ou não). É uma publicação pra você não engolir mais essa história de que regulamentar um serviço público é censura ou qualquer coisa que o valha.


Extraído do Blog Bodega 

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