22 de junho de 2012

UM RETRATO DA BELÉM DO FINAL DO SÉCULO XIX

Passados mais de 120 anos desde a primeira edição, em 1889, a Editora Estudos Amazônicos publica o livro “Contos Paraenses”, de João Marques de Carvalho. Lidos em conjunto, os textos reunidos na obra, organizados pelo Prof. Dr. Sílvio Holanda e pelo Prof. Msc. Elissandro Araújo, permitirão ao público em geral conhecer uma faceta pouco estudada sobre o escritor paraense, a de contista. É possível observar nesses contos temas como a relação entre o homem e o espaço urbano na Amazônia, as relações familiares e os tensos contrapontos entre história e ficção na literatura paraense. A reedição apresenta uma versão atualizada do livro, sem perder a tradição estética em que ele se inscreve, e traz algumas imagens inéditas, como um cartão postal enviado pela esposa de Marques de Carvalho a Belém e uma fotografia do escritor do ano de 1905.

De acordo com o editor Paulo Palmieri, a Editora Estudos Amazônicos está fazendo um mergulho profundo na valorização da literatura amazônica publicando “Contos Paraenses”, de Marques de Carvalho. “Depois de mais de cem anos estamos lançando a segunda edição deste livro”, ressalta Paulo Palmieri.

As narrativas são definidas como flagrantes urbanos numa Belém no final do século XIX, segundo o professor Sílvio Holanda. “Uma Belém que se moderniza e que muda seus hábitos. São cenas cotidianas e flagrantes urbanos que, às vezes, vão chegar até ao cômico. Belém pulsa nas páginas de João Marques de Carvalho, que fala, por exemplo, sobre o Ver-o-Peso, o comércio e o Teatro da Paz. Ele aborda uma Belém que vai da Gentil até a Igreja da Sé”, detalha.

O Ver-o-Peso e outras partes da cidade são abordados nos contos (Foto: Divulgação)
O livro é composto por treze contos e cinco poemas em prosa que apresentam cenas da vida urbana da Belém oitocentista. Os cenários dos contos são os mais variados e abrangem quase toda a área urbana central e periférica da cidade à época, do distrito de Icoaraci, no conto “Alegria gaulesa”, às Ilhas das Onças, em “Rio abaixo”. Através da obra, o leitor poderá conhecer os hábitos da população da capital paraense nos últimos anos de 1800. “Por exemplo, no conto ‘Noite de finados’, o leitor se depara com um quadro panorâmico de como as pessoas viviam esse dia em Belém, conhecendo os acontecimentos que começavam no cemitério de Santa Izabel e terminavam no Largo de Nazaré”, exemplifica Elissandro Araújo.

Reedição do livro tenta preencher uma lacuna editorial

A nova edição da obra apresenta notas explicativas do Prof. Dr. Sílvio Holanda e do Prof. Msc. Elissandro Araújo, que procuram explicitar termos da época, além de facilitar a compreensão dos textos. “A reedição se baseou no cotejo com o texto da primeira edição, mantendo as opções sintáticas do autor, mas atualizando o texto em harmonia com o acordo ortográfico vigente, as notas de rodapé buscaram tornar a leitura mais fluente para o público atual. A reedição apresenta, assim, uma versão atualizada do livro, mas que não perde de vista a tradição estética em que ele se inscreve”, afirma Elissandro Araújo.

Segundo Sílvio Holanda, a reedição da obra surge com o propósito de pôr em circulação textos ficcionais importantes da literatura da Amazônia do final século XIX, já que a disponibilidade dos mesmos no mercado é escassa. “É uma obra muito importante e que diz muito sobre a cultura amazônica, principalmente de Belém. Mas não tinha como as pessoas lerem porque não havia disponibilidade no mercado. Eu só tenho conhecimento da existência de dois exemplares: um no Centur e outro na Academia Paraense de Letras. Então, decidimos reeditar, principalmente, por causa dessa lacuna editorial”, explica.

A nova edição de “Contos Paraenses” contempla os seguintes contos: “Alegria gaulesa”, “A convalescente”, “Desilusão”, “A Serenata de Schubert”, “Que bom marido!”, “Noite de Finados”, “Rio abaixo”, “Ao despertar”, “O preço das pazes”, “História incongruente”, “A lição de ‘Paleógrafo’”, “Ao soprar à vela” e “No baile do Comendador”. Além desses treze contos, a obra conta com cinco “poemetos em prosa”: “Bidinha”, “Paráfrase ossiânica”, “O pároco da aldeia”, “Ao sol” e “Remember”.

Extraído do sítio Diário do Pará

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Os comentários serão moderados. Não serão mais publicados os de anônimos.