29 de julho de 2012

CRIADA PRIMEIRA ADEGA SUBMERSA DO MUNDO

A partir do próximo ano, os produtores que quiserem envelhecer seus vinhos em baixo d'agua terão um lugar para isso. Frank Labeyrie, do Château du Coureau em Côtes de Bordeaux Cadillac, irá criar o primeiro serviço de adegas submersas do mundo.

Chamado de Vin Mille Lieu Sous Les Mers, um trocadilho com o clássico francês de Jules Verne, Vinte Mil Léguas Submarinas,o serviço ficará a 150 quilômetros da costa do atlântico e terá cerca de mil metrôs de profundidade.


Labevrie acredita que a temperatura constante do oceano, zero luz e zero oxigênio irão ajudar o vinho envelhecer devagar, mantendo sua intensidade por mais tempo e produzindo um sabor mais profundo. Ele já envelheceu 10 mil garrafas de seu vinho Arcachon Bay, nos últimos cincos anos.

O vinho será guardado em um conteiner de metal reforçado, capaz de agüentar uma pressão de uma tonelada por metro cúbico, equipado com câmeras e um dispositivo de rastreamento,e com um selo de cera sobre as rolhas das garrafas originais.

O armazenamento será de, no máximo, 10 anos, e as garrafas serão trazidas à superfície de dois em dois anos para degustação, para que o proprietário decida se quer continuar o processo de envelhecimento submerso ou não.

O serviço irá custar cerca de 17 euros por garrafa, com um número minimo de garrafas por conteiner, e será lançado oficialmente em junho de 2013.

Extraído do sítio Revista Adega

28 de julho de 2012

COM INTENSA PESQUISA, TRADUTORES TRABALHAM EM FLORIANÓPOLIS PARA TRANSPOR GRANDES OBRAS LITERÁRIAS - Carolina Moura

Foco no original é uma das prioridades desses profissionais, que dão voz ao diálogo cultural para além das fronteiras do idioma.

Sérgio Medeiros e Dirce Waltrick do Amarante traduzem obras de autores como James Joyce, com muita pesquisa e trabalho minucioso. Foto: Janine Turco/ND

Ernest Hemingway, o escritor norte-americano de estilo limpo e sem floreios, leu Fyodor Dostoievsky e foi influenciado por ele. Sem dominar a língua russa, porém, ele leu a tradução de Constance Garnett — inglesa que traduziu 71 volumes da literatura russa, e que por extensão também foi uma influência no texto de Hemingway.

Uma coisa que passa despercebida pela maioria das pessoas que andam pelas prateleiras de literatura estrangeira nas livrarias, a tradução é fundamental na literatura. “Se não fosse pela tradução, o que entendemos por cultura não existiria. Cultura é um diálogo entre culturas, e a tradução é a voz desse diálogo”, diz Sérgio Medeiros, poeta, tradutor e diretor da Editora da UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina).

Ele e sua mulher, Dirce Waltrick do Amarante, publicaram recentemente “James Joyce. De santos e sábios”, coletânea de ensaios do irlandês. Eles agora trabalham em uma coletânea de cartas endereçadas a Nora Joyce, mulher do autor. Com prateleiras cheias de material de pesquisa para suas traduções, o casal tem grande rigor para manter a identidade do original. “Primeiro eu leio tudo para poder entender aquela linguagem. Aí vou tentar transpor ela para o português”, conta Dirce. “A gente tenta manter a complexidade ou a simplicidade de Joyce”, diz Sérgio, lembrando que a ciência, porém, não é exata — toda tradução é, no fim das contas, uma interpretação.

“Todo tradutor faz escolhas e elas estão presentes em todo o texto. Alguns de uma maneira mais proeminente, outras de maneira menos, mas a presença é inevitável”, diz o professor Lincoln Fernandes, do Pget (Programa de Pós-Graduação em Estudos da Tradução) da UFSC. O que faz a diferença é como o tradutor faz essas escolhas. “Eu acho que o tradutor tem que justificar o que ele faz dentro do estilo do autor”, defende Dirce.

Linguagens do sertão

Tarefa ambiciosa é a de Berthold Zilly, alemão que trabalha na UFSC como professor visitante há um ano. Ele tem o prazo até 2015 para entregar sua tradução de “Grande Sertão: Veredas”, de Guimarães Rosa. O livro já foi traduzido para o alemão nos anos 1960 por Curt Meyer-Clason, que inclusive dialogou com o autor, mas essa tradução se demonstrou insuficiente e a editora encomendou a Zilly uma nova leitura.

“Ele [Meyer-Clason] optou por uma estratégia que eu chamaria de assimiladora, de popularizadora. Ele criou um alemão bonito, inventivo, mas de fácil acesso. Ou seja, ele não recriou o caráter semi-enigmático do livro”, diz o novo tradutor. Em seu trabalho, Zilly tenta esmiuçar o estilo único de Guimarães Rosa, com seu vocabulário próprio, cheio de neologismos, e sua sintaxe inovadora. “Primeiro você tem que entender isso, depois tem que criar em outro idioma uma linguagem tão original quanto a dele.”

A tradução é uma atividade que Zilly, hoje com 67 anos, começou aos 50. Sua tradução para o alemão de “Os Sertões”, de Euclides da Cunha, até então inédito nessa língua, foi um projeto que ele assumiu para melhor compreender o livro e para compartilhá-lo com seus alunos de literatura brasileira. Conseguir uma editora para publicar o texto de um autor até então desconhecido na Alemanha não foi fácil, mas teve bons resultados. “A recepção foi muito boa, quase que entusiástica. O livro foi considerado uma descoberta, ninguém esperava que fosse tão impressionante tanto em termos literários quanto em termos de analise de problemas sociais”, conta o tradutor.

Apesar da extensa pesquisa de língua portuguesa, da história brasileira, das características dos períodos, locais e personagens retratados nos livros, e da experiência sensorial de ter visitado o sertão, Zilly nega que seja possível criar uma tradução definitiva. A sua é mais uma interpretação, e virão outras.

Berhold Zilly trabalha em uma nova tradução de "Grande Sertão: Veredas" para o alemão, com o cuidado de recriar a linguagem inovadora de Guimarães Rosa. Foto: Rosane Lima/ND

De Santa Catarina para o mundo

Florianópolis se tornou um importante núcleo de tradução, e isso acontece em um momento positivo no país. “Eu acho que a gente está em um momento bastante rico na tradução literária no Brasil. E Florianópolis está vivendo uma vanguarda, é o maior centro de estudos de tradução do país”, diz o professor Walter Costa, do Pget da UFSC, a primeira das pós-graduações em tradução no Brasil a ser criada.

Quando se trata da difusão dos autores locais através da tradução para outras línguas, porém, o processo ainda está começando. Luciana Rassier, que também é professora no Pget, é um exemplo de quem investiu nesse trabalho. Em 2007 ela e o francês Jean-José Mesguen publicaram a primeira tradução de um romance completo de Salim Miguel, “Primeiro de abril: narrativas da cadeia” em francês. A segunda tradução do autor, de “Nur na escuridão” para o árabe, por Youssef Mousmar, está em andamento.

“O tradutor tem também esse papel de fazer existir na língua estrangeira um texto do autor”, diz Luciana. Daí vem a importância de traduzir autores do Sul do Brasil, uma tarefa que ela assumiu, tendo publicado em francês também “Pequod”, do gaúcho Vitor Ramil. “Assim a gente faz existir um país que não é aquele exótico, tropical. É a contracorrente, um exótico dentro do exótico”, observa ela. A boa notícia é que a Biblioteca Nacional tem um plano para investir com peso na tradução de autores brasileiros nos próximos vinte anos. É mais uma oportunidade que pode ser aproveitada pelos catarinenses.

Chico Bento americano

A tradutora Elis Liberatti, de 25 anos, decidiu propor uma tradução para o inglês dos quadrinhos da Turma da Mônica em sua dissertação de mestrado na UFSC. Ela selecionou duas histórias do personagem Chico Bento e fez sua pesquisa para tentar transpor esse personagem essencialmente brasileiro para o público infantil norte-americano. “Eu queria uma coisa mais desafiadora e o Chico Bento tem essa linguagem não padrão, que a gente chama de pseudo dialeto caipira”, diz Elis. O Chico Bento americano, chamado de Chuck Billy, fala tão caipira em inglês quanto o brasileiro em português.

Em sua dissertação de mestrado, Elis Liberatti propõe a tradução dos quadrinhos do Chico Bento para o inglês, levando em conta as adaptações culturais necessárias para atingir o público infantil norte-americano. Foto: Janine Turco/ND

Outra peculiaridade do trabalho de Elis é a linguagem visual dos quadrinhos. “Os quadrinhos têm o texto não-verbal ,que tem que complementar o texto verbal ou fazer referência, nunca pode ir contra”, diz a tradutora. Como geralmente apenas o texto escrito é adaptado, esse é mais um desafio, já que mesmo as imagens podem não ter significado universal.

Há também preocupações com a censura, o que é adequado para crianças, que pode mudar de uma cultura para outra. E a linguagem também tem especificidades. “Se você for traduzir um texto infanto-juvenil, você tem que levar em conta que esta escrevendo para um grupo que está desenvolvendo a habilidade da leitura, não pode ter muitos nomes complicados, estruturas linguísticas que possam criar uma barreira”, diz o professor Lincoln Fernandes, que orientou Elis na dissertação.


Extraído do sítio ND Online

27 de julho de 2012

ABL INAUGURA EXPOSIÇÃO "JORGE AMADO - 100 ANOS", EM COMEMORAÇÃO AO CENTENÁRIO DO NASCIMENTO DO ACADÊMICO



A Academia Brasileira de Letras inaugura, no dia 31 de julho, terça-feira, às 16h30min, exposição em homenagem ao centenário de nascimento do Acadêmico e escritor Jorge Amado, que se completará no dia 10 de agosto de 2012. Trata-se de mais uma das comemorações programadas pela ABL para este ano em memória do escritor baiano. A mostra estará à disposição do público, de segunda a sexta-feira, no 1º andar do Centro Cultural do Brasil, sede da ABL, na Avenida Presidente Wilson, 203, até o dia o dia 28 de setembro, das 10 às 18 horas.

O público terá a oportunidade de conhecer, na mostra, as primeiras edições dos livros do escritor baiano, inclusive os editados na década de 30 do século passado, quando começou a ocupar espaço como autor. Toda a cronologia de sua história, desde seu nascimento na Fazendo Auricídia, então parte de Ilhéus, hoje município de Itajuípe, interior da Bahia. Paineis de fotos ao lado de personalidades brasileiras e estrangeiras. Reprodução de cartaz de propaganda de Jorge Amado para deputado pelo PCB. Painel com uma grande foto de Luiz Carlos Prestes. Entre essas e muitas outras peças que contam sua vida, estará também uma foto em que o escritor baiano é condecorado com o Prêmio Internacional Stálin, de 1951. Organizada pelo Acadêmico e cineasta Nelson Pereira dos Santos, a exposição contará ainda com a exibição de todos os filmes, novelas e séries de televisão que foram feitas com base em seus livros.

“Entendo que o centenário de Jorge Amado nos dá uma excelente oportunidade para fazer uma releitura de sua obra, tendo em vista uma reconstrução crítica da mesma. Desde que começou a publicar seus livros nos anos 30, a recepção deles variou muito. Foram amados ou execrados, muitas vezes, por motivos extraliterários, pelo fato de o autor ter pertencido ao Partido Comunista por muito tempo. Esta exposição aponta alguns pontos de referência nesse caminho. Personagens inesquecíveis, cenários marcantes, situações emblemáticas povoam seus romances. Em seu conjunto, a obra de Jorge Amado vai além da mera fruição: propõe ideias e levanta discussões. A elas, pois. É o convite que a ABL deixa a todos. Vamos ler ou reler Jorge Amado. E entrar nesses debates, a partir do que ele escreveu”, afirma a Presidente da ABL, escritora Ana Maria Machado.

Jorge Amado

Quinto ocupante da Cadeira 23 da ABL, eleito em 6 de abril de 1961, na sucessão de Otávio Mangabeira, Jorge Amado tomou posse em 17 de julho do mesmo ano. Jornalista, romancista e memorialista, tornou-se escritor profissional e viveu exclusivamente dos diretos autorais de seus livros. Estreou na Literatura em 1930, com a publicação da novela “Lenita”, escrita em colaboração com Dias da Costa e Édison Carneiro.

Seus livros, escritos ao longo de 36 anos (1941 a 1977) foram publicados em 52 países e traduzidos para 48 idiomas e dialetos. Muitos deles tiveram adaptação para o cinema, o rádio, a televisão, bem como para histórias em quadrinhos, não apenas no Brasil, mas também em Portugal, França, Argentina, Suécia, Alemanha, Polônia, Itália, Estados Unidos e Tchecoslováquia.

Autor de clássicos da Literatura brasileira, como Dona Flor e seus dois maridos, O país do carnaval, Capitães de areia, Gabriela, Cravo e Canela, Bahia de Todos os Santos, Tenda dos milagres, Teresa Batista cansada de guerra, entre muitos outros, Jorge Amado nasceu no dia 10 de agosto de 1912 e faleceu no dia 6 de agosto de 2001.


Extraído do sítio ABL

MUSEU OSCAR NIEMEYER ESTÁ ENTRE OS 20 MUSEUS MAIS BONITOS DO MUNDO


Projetado pelo importante arquiteto que leva seu nome, o Museu Oscar Niemeyer (MON) foi eleito um dos 20 museus mais bonitos do mundo pelo site norte-americano Flavorwire. Especializado em cultura e crítica de arte, o portal é responsável também pela edição, na internet, do guia cultural Flavorpill. O MON, que em 2012 completa dez anos, é a única instituição latino-americana a entrar nesse ranking.

Fazem parte da lista instituições de longa tradição no campo museológico, como o Museu do Louvre (França), o Museu d´Orsay (França), o Museu Hermitage (Rússia), o Museu Guggenheim de Bilbao (Espanha), o Museu de História Natural de Viena (Áustria). Os outros selecionados foram o Getty Center na Califórnia (EUA), o Museu Solomon R. Guggenheim, de Nova York (EUA), a Casa e Jardins Claude Monet, em Giverny (França), Museu de Arte Islâmica (Qatar), o Museu de Arte Nelson-Atkins (EUA), o Museu de Hanoi (Vietnã), o Museu de Arte Moderna de Fort Worth (EUA), o Museu Louisiana de Arte Moderna (Dinamarca), o Museu Royal Ontario (Canadá), o Museu MAS (Bélgica), o Museu Salvador Dali da Flórida (EUA), o Palácio Potala de Llasa (Tibet), o Museu Histórico do Estado de Moscou (Rússia) e o Museu Chora de Istambul (Turquia).

Com mais de 15 mil visitantes por mês, provenientes de diversas partes mundo, o Museu Oscar Niemeyer leva a Curitiba importantes mostras nacionais e internacionais. Em seus mais de 17 mil metros quadrados, o espaço já recebeu obras de Roy Lichtenstein, Candido Portinari, Frida Kahlo, Martin Chambi, Antanas Sutkus, Antoni Tàpies, Salvador Dalí, Marc Riboud, Brassaï, Fernando Botero, Tarsila do Amaral, Pablo Picasso, Di Cavalcanti, entre outros. No dia 26 de julho deste ano o museu abrirá a exposição “Modigliani, imagens de uma vida”, com 59 obras do artista italiano Amedeo Modigliani.

O MON também realiza ações educativas, abriga a Reserva Técnica e o Laboratório de Conservação e Restauro, onde as obras são armazenadas seguindo critérios internacionais. Possui ainda o setor de Documentação e Referência com cerca de 5 mil publicações e 1.300 periódicos para pesquisa.


Extraído do sítio Descubra Curitiba

SÓLO LE PIDO A DIOS - Leon Gieco



Sólo le pido a Dios
que el dolor no me sea indiferente
que la reseca muerte no me encuentre
vacío y solo sin haber hecho lo suficiente

Sólo le pido a Dios
que lo injusto no me sea indiferente
que no me abofeteen la otra mejilla
después de que una garra me arañó a esta suerte

Sólo le pido a Dios
que la guerra no me sea indiferente
es un monstruo grande y pisa fuerte
toda la pobre inocencia de la gente

Sólo le pido a Dios
que el engaño no me sea indiferente
si un traidor puede más que unos cuantos
que esos cuantos no lo olviden fácilmente

Sólo le pido a Dios
que el futuro no me sea indiferente
desahuciado está el que tiene que marchar
a vivir una cultura diferente

Sólo le pido a Dios
que la guerra no me sea indiferente
es un monstruo grande y pisa fuerte
toda la pobre inocencia de la gente.

Extraído do sítio Rock.com.ar


Sólo le pido a Dios - Leon Gieco

CONSUMO DE VINHO NA ESPANHA CAI PELA METADE NOS ÚLTMOS 25 ANOS

Nos últimos 25 anos, o consumo de vinho na Espanha caiu pela metade, de 47 litros per capita em 1987/88 para 22 litros de per capita na última campanha em 2010/11.

O consumo total do país seguiu quase a mesma porcentagem, 45% de queda no mesmo período. Em 1987/88 o consumo foi de 18,5 milhões de hectolitros de vinhos, a campanha de 2010/11 chegou somente a 10,2 milhões de hectolitros da bebida.

O diretor geral do Observatório Espanhol para o Mercado de Vinhos, Rafael Del Rey, diz que isso é por causa da diferença de consumo: "se consome menos, mas com maior qualidade", explicou ele.

Ele também cita a crise econômica, que veio a partir de 2008, com um dos fatores importantes, já que as pessoas passaram a preferir vinhos mais caros e com a crise passaram a comprar menos.

Extraído do sítio Revista Adega

26 de julho de 2012

DESAMOR PELA LÍNGUA PORTUGUESA - Maria Regina Rocha


Num dos passados domingos, na RTP1, ao serão, foi transmitida uma comédia americana produzida em 1996, Corações Roubados (título original: Two if by the sea), que começa com o roubo de um quadro do pintor francês Henri Matisse (1869-1954). Num diálogo entre dois dos investigadores do roubo, um deles refere-se ao pintor pronunciando o nome próprio à francesa. O outro corrige-o, pretendendo que ele diga o nome em inglês (Henry, e não Henri), e, à observação do companheiro de que o pintor era francês, o primeiro responde-lhe: “Mas tu és americano, falas inglês!”

Este simples diálogo entre personagens de um filme menor americano, em que simples figurantes sem qualquer responsabilidade a nível político ou cultural defendem a língua do seu país, fez-me pensar no que se passa em Portugal: a triste subserviência de responsáveis portugueses à língua inglesa em situações que têm projeção nacional ou internacional e o desamor pela Língua Portuguesa.

Alguns exemplos: Allgarve (porque não Algarve?), Eusébio Cup (porque não Taça Eusébio, em homenagem a Eusébio, o grande jogador a quem chamaram o “Rei” do futebol, palavra agora por vezes substituída por King !?), Troiaresort (empreendimento turístico recentemente inaugurado), RTP Mobile, ou, ainda, o termo chief executive officers (CEO) nome dado, num jornal, a jornalistas da direção de um canal de televisão.

Um dos domínios da técnica em que os anglicismos são usados de uma forma perfeitamente acrítica é o da informática. Não esqueço que, ao importarmos um aparelho ou um produto novo de origem inglesa ou americana, recebemos também o nome “de bónus” e que, num primeiro momento, poderá ser difícil encontrar ou formar a palavra portuguesa correspondente, mas será, certamente, exagero dizer, por exemplo, password em vez de senha (palavra portuguesa, e até mais pequena), online, em vez de em linha, home page (página inicial ou principal), software (a que correspondem os termos portugueses aplicações ou programas, dependendo do contexto).

Para terminar e parar por aqui, todos sabem que no sinal de trânsito de paragem obrigatória em Portugal está escrita a palavra STOP. Mas… saberão que no Brasil a palavra escrita nesse mesmo sinal é PARE? Sem comentários…

* ROCHA, Maria Regina. Desamor pela Língua Portuguesa. Do jornal Diário do Alentejo – Beja, Portugal. Publicado em: 12 jul. 2008. O texto está disponível no Ciberdúvidas da Língua Portuguesa.


Extraído do sítio Ventos da Lusofonia

NA MIRA DOS ARMEIROS DE TULA - Maria Domnitskaya

© Foto: ru.wikipedia.org/Celest/cc-by-sa 3.0 
“A Espingarda de Caça: um Olhar pela Mira da História” é o nome de uma exposição inaugurada no Museu das Armas de Tula. Se trata de uma cidade, a 190 quilômetros de Moscou, que é considerada a capital do armamento da Rússia. A nova exposição apresenta os melhores exemplares de armas de caça fabricados na Rússia e no estrangeiro desde o século XVIII até nossos dias.

O museu das armas de Tula é um dos mais antigos da Rússia, tendo surgido na fábrica de armas fundada por decreto do imperador russo Pedro o Grande em 1712, onde se começou a colecionar exemplares de armas. O museu ganhou fama internacional devido às suas ricas coleções de exemplares únicos que lhe valeram a entrada no catálogo “Os 100 Grandes Museus do Mundo”.

Hoje o património do Museu das Armas Estatal de Tula consiste em mais de 11 mil raridades e a coleção de “caça” é uma das mais numerosas e interessantes. Na exposição “A Espingarda de Caça: um Olhar pela Mira da História” são apresentados os 128 exemplares mais brilhantes deste tipo de arma de fogo, incluindo uma raríssima espingarda de caça austro-húngara de três canos do século XIX e espingardas e carabinas exóticas antigas da Alemanha, França, EUA e outros países.

Uma parte considerável da exposição é dedicada, por mérito, às armas fabricadas pelos mestres de Tula. Estas causam admiração pela mestria da execução, pela originalidade das soluções técnicas e pela sua beleza. As espingardas de caça decoradas pelos mestres de Tula são de pleno direito consideradas como obras de artesanato, explica-nos a vice-diretora do museu Elena Drozdova.

“É uma tendência que se desenvolveu em Tula ao longo dos tempos e é uma tradição que hoje se mantém. Se trata da decoração das espingardas com diversos tipos de incrustação como, por exemplo, com fio de ouro e de prata, marfim, chifre e com outras madeiras. Também são os dourados, as incrustações de ouro e diferentes tipos de aplicações. Ou seja, são armas muito bonitas, cujos canos são fabricados em aço damasco.”

A exposição apresenta, por exemplo, uma carabina de caça fabricada em memória da visita da imperatriz russa Catarina II à Fábrica de Armas de Tula em 1775. Distinguem-na a sua elegância e beleza, a coronha é decorada com ornamentação delicada e o ferrolho e a culatra com buquês e grinaldas de rosas de ouro. Num estilo parecido ao dessa carabina são decoradas as pistolas de caça com a secção interna dos canos quadrada. A decoração dos punhos com fio de prata contrasta com a leve gravação nos painéis laterais.

É raro o fuzil de caça de 1745 com secção interna da alma triangular. No seu fabrico foram utilizadas diferentes técnicas de trabalho do metal e da madeira: estampagem e gravação, incrustação de fio de ouro e de prata e os famosos “diamantes de aço” de Tula.

A exposição está organizada de maneira a os visitantes poderem seguir a evolução das armas de fogo usadas na caça. De entre os modelos modernos da fábrica de Tula está, por exemplo, representado o Zubr universal. Essa espingarda vem com um conjunto de vários canos duplos que permitem a sua utilização com uma otimização de resultados para os diferentes tipos de caça. O Zubr tem decorações originais de acordo com a tradição dos mestres de Tula.


Extraído do sítio Voz da Rússia

BIBLIOTECA NACIONAL E ITAÚ CULTURAL LANÇARÃO EM FRANKFURT REVISTAS COM TRECHOS TRADUZIDOS DE LITERATURA BRASILEIRA - Felipe Lindoso

O Instituto Itaú Cultural atendeu ao chamamento do edital de co-edição de publicações feito pela Fundação Biblioteca Nacional e propôs a edição de revista com excertos de obras literárias traduzidos para o inglês ou espanhol, dentro do programa de incentivo à tradução de autores brasileiros. A iniciativa do Itaú Cultural combina com o programa que a instituição já vem desenvolvendo há anos, o Conexões Itaú Cultural – Mapeamento Internacional da Literatura Brasileira, que recolhe informações sobre professores, pesquisadores e tradutores da nossa literatura no exterior.



A Biblioteca Nacional já iniciou a convocação, ontem, para o envio de excertos de romances, contos ou obras poéticas traduzidas ao inglês ou espanhol, para publicação nessa revista, destinada especificamente a despertar o interesse de editoras internacionais para os autores brasileiros. O primeiro número será lançado na Feira do Livro de Frankfurt deste ano e terá periodicidade trimestral. A convocatória pode ser lida aqui.

A revista ficará disponível em site específico e autores, editoras e agentes internacionais poderão publicar por conta própria separatas dos títulos que lhes interessarem. O Itamaraty, também parceiro da iniciativa, cuidará da difusão internacional através das representações brasileiras. A publicação também será distribuída nas feiras de livros nas quais o Brasil participe.

A ideia da revista vem sendo gestada há tempos e pode ser viabilizada com a publicação do edital para as co-edições, por parte da Biblioteca Nacional, e se insere no esforço que resultou na criação do Centro Internacional do Livro, dos programas de bolsas de tradução, da residência para tradutores do português e de incentivo à publicação de autores brasileiros nos países lusófonos.

De parte do Itaú Cultural, a iniciativa amplia e dá continuidade ao programa Conexões – Mapeamento Internacional da Literatura Brasileira, que a instituição mantém há vários anos, com curadoria do professor João Cezar de Castro Rocha e deste que assina, e que é vinculado ao Núcleo Diálogos do Itaú Cultural, sob a responsabilidade de Claudiney Ferreira. A Enciclopédia Virtual da Literatura Brasileira do Itaú Cultural também será linkada para oferecer informações sobre os autores brasileiros. Atualmente disponível em português, a Enciclopédia Virtual da Literatura Brasileira está sendo traduzida para o inglês e o espanhol.

Há anos, quando editor, já havia constatado a dificuldade de atrair o interesse de editores e agentes internacionais para as publicações dos nossos autores por conta de uma barreira complicada: são poucos os leitores de português disponíveis para a avaliação de textos apresentados em português. E as editoras só mandam para avaliação os textos que já atraíram de alguma maneira, sua atenção. Daí a importância de poder dispor de amostras de originais brasileiros já traduzidos para alguns dos idiomas com maior difusão internacional, como é o caso principalmente do inglês, e também do espanhol. O projeto da Revista prevê edições especiais em outros idiomas, como o alemão, o francês e até mesmo o chinês, no futuro. As grandes editoras e alguns agentes já fazem investimentos nesse sentido, de tradução de trechos das obras que apresentam no exterior. Agora, com a Revista, essa possibilidade se amplia para editoras de menor porte.

A constatação pessoal do meu tempo como editor tem sido amplamente reforçada pelos dados conseguidos pelo Conexões, entre os quase 230 mapeados que abastecem um banco de dados que é o único existente em nosso país. Os mapeados são professores e pesquisadores de literatura brasileira que trabalham no exterior há pelo menos cinco anos, e tradutores. O questionário respondido por esse grupo de batalhadores da difusão do idioma e de nossa literatura tem assinalado, de forma sistemática, um conjunto de dificuldades para a maior presença de nossas letras no exterior: a falta de traduções – decorrente da pouca presença do português no cenário internacional -, a inexistência de um órgão semelhante aos institutos Camões, Cervantes, Goethe ou Alliance Française para a difusão sistemática de nossa literatura no exterior, e também as deficiências de dicionários bilíngues, entre outros.

Quem estuda em nossas universidades as literaturas de outros países, como a alemã, a russa, a de língua espanhola ou a francesa, já dispõe de um corpus bastante extenso de textos traduzidos, desde os clássicos dessas literaturas até a produção contemporânea. Evidentemente, quem deseja se aprofundar no estudo deve dominar o idioma, mas, para o conjunto da população e para os estudantes de graduação, não é preciso saber russo para ler Dostoiévski e demais clássicos da literatura daquele país, e hoje dispomos até da tradução de autores de romances policiais russo contemporâneos. E assim por diante.

Para o português, entretanto, a situação é muito diferente. As vozes dos nossos romancistas, contistas e poetas, e a contribuição que temos a dar a essa República Mundial das Letras é obstaculizada pela falta de traduções e pelo do baixo domínio do idioma, seja pelos universitários, seja pela população em geral.

O esforço da Biblioteca Nacional, longe de significar arroubos nacionalistóides, parte da compreensão da importância de que nossas vozes sejam ouvidas. E corresponde a uma necessidade claramente constatada pelo Conexões – Mapeamento Internacional da Literatura Brasileira.

A revista terá um Conselho Editorial a ser nomeado pela Fundação Biblioteca Nacional e divulgado até o dia 17 de agosto, quando também será anunciado seu nome oficial. Esse conselho terá a voz final sobre os textos aceitos para publicação a cada número.

É preciso destacar que os textos, segundo a nota da Biblioteca Nacional, devem estar traduzidos, não com vistas a uma tradução de qualidade literária final, mas com uma qualidade que permita uma avaliação correta por parte dos editores estrangeiros do conteúdo do livro apresentado. Até porque a definição final dos tradutores caso o direito de edição daquele livro for comprado, será de responsabilidade do editor que adquirir esses direitos. Além disso, a publicação em inglês ou espanhol é uma porta de entrada para a tradução em outros idiomas. Todos os responsáveis pela edição de literatura estrangeiras pelo mundo afora dominam um desses idiomas, principalmente o inglês. Daí por que essas amostras de traduções podem ser a porta de acesso para a edição em qualquer outro idioma. Vale destacar que nem a Biblioteca Nacional nem o Itaú Cultural recebem por essa publicação nem detém nenhum direito, a ser negociado entre seus detentores e quem os publicar em tradução.

O primeiro número da Revista está convocando para a apresentação de trechos já traduzidos por encomenda das editoras, dos agentes ou dos autores. Essa exigência de textos já traduzidos para o primeiro número se deve à urgência de sua publicação até outubro. Para os números seguintes, entretanto, já se estudam modos como textos originais em português, (apresentados por autores, editoras e agentes), possa ser essa traduzido (até 15.000 caracteres), com recursos da BN ou com o apoio de alunos de literatura brasileira no exterior, mobilizados pela rede de professores que participa do Conexões Itaú Cultural.

A iniciativa da Biblioteca Nacional e do Itaú Cultural, e do Itamaraty, é mais um passo importante do fortalecimento de políticas públicas para o livro e leitura no nosso país. Juntamente com as ações e programas desenvolvidos no âmbito interno, como o fortalecimento de bibliotecas, o circuito de feiras nacionais e o Programa do Livro Popular, a Revista de traduções é mais um eixo do conjunto de ações para a constituição de uma política de Estado de apoio à nossa literatura, desenvolvimento do hábito de leitura e fortalecimento do mercado editorial, como estabelecido pelo Plano Nacional do Livro e Leitura – PNLL.

* Felipe Lindoso é jornalista, tradutor, editor e consultor de políticas públicas para o livro e leitura. Foi sócio da Editora Marco Zero, diretor da Câmara Brasileira do Livro e consultor do CERLALC – Centro Regional para o Livro na América Latina e Caribe, órgão da UNESCO. Publicou, em 2004, O Brasil pode ser um país de leitores? Política para a cultura, política para o livro, pela Summus Editorial. Mantêm o blog www.oxisdoproblema.com.br .

Extraído do sítio Publish News

VINHOS: OS NÚMEROS DA ITÁLIA EM 2011 - Nelson Luiz Pereira

Sempre é bom atualizar os números da Itália, consistentemente em segundo lugar na produção mundial de vinhos dos últimos anos. Há uma clara tendência na redução do volume de produção e também na redistribuição do vinho entre suas vinte regiões vinícolas. Os números abaixo mostram as regiões do Veneto e Emilia-Romagna assumindo a liderança de produção outrora liderada pelas produtivas regiões da Sicilia e Puglia. Nestas duas últimas regiões a ordem é modernização e busca pela qualidade em detrimento da quantidade. Há fortes investimentos nessas regiões de produtores consagrados em regiões famosas no centro e norte da Itália, sobretudo Veneto, Piemonte e Toscana.

De todo modo, a disputa entre Norte e Sul continua acirrada, e muito superior à produção das regiões centrais italianas (Toscana, Umbria, Molise, Abruzzo, Marche e Lazio). 


Quadro atual das regiões italianas

Quanto às denominações mais nobres, há um decréscimo visível nos chamados Vdt (vino da tavola), e um aumento consistentes das DOCG/DOC, juntamente com a crescente IGT. A tendência ainda maior de queda dos chamados Vino da Tavola é reforçada pelo incentivo de produção de vinhos DOCG/DOC e IGT nas regiões sulinas, sobretudo Puglia, Calabria, e Basilicata.


O gráfico acima mostra claramente esta equalização entre as principais denominações a despeito da forte tendência de queda na produção total de vinhos nos últimos anos, desde 2005.


Extraído do sítio Vinho Sem Segredo

AUSENCIA - Gabriela Mistral



Se va de ti mi cuerpo gota a gota.
Se va mi cara en un óleo sordo;
se van mis manos en azogue suelto;
se van mis pies en dos tiempos de polvo.

¡Se te va todo, se nos va todo!
Se va mi voz, que te hacía campana
cerrada a cuanto no somos nosotros.

Se van mis gestos, que se devanaban,
en lanzaderas, delante tus ojos.

Y se te va la mirada que entrega,
cuando te mira, el enebro y el olmo.

Me voy de ti con tus mismos alientos:
como humedad de tu cuerpo evaporo.

Me voy de ti con vigilia y con sueño,
y en tu recuerdo más fiel ya me borro.

Y en tu memoria me vuelvo como esos
que no nacieron ni en llanos ni en sotos.

Sangre sería y me fuese en las palmas
de tu labor y en tu boca de mosto.

Tu entraña fuese y sería quemada
en marchas tuyas que nunca más oigo,
¡y en tu pasión que retumba en la noche,
como demencia de mares solos!

¡Se nos va todo, se nos va todo!

AUSÊNCIA: Se vai de ti meu corpo gota a gota. / Se vai minha cara no óleo surdo; / Se vão minhas mãos em mercúrio solto; / Se vão meus pés em dois tempos de pó. // Se vai minha voz, que te fazia sino / fechada a quanto não somos nós. // Se vão meus gestos, que se enovelam, / em lanças, diante de teus olhos. // E se te vai o olhar que entrega, / quando te olha, o zimbro e o olmo. // Vou-me de ti com teus mesmos alentos: como umidade de teu corpo evaporo. // Vou-me de ti com vigília e com sono, / e em tua recordação mais fiel já me apago. // e em tua memória volto como esses / que não nasceram nem em planos nem em bosques // Sangue seria e me fosse nas palmas / de teu trabalho e em tua boca de sumo. // Tua entranha fosse e seria queimada / em marchas tuas que nunca mais ouço, / e em tua paixão que retumba na noite, / como demência de mares sós. // Se nos vai tudo, se nos vai tudo! 
(tradução de Maria Tereza Almeida Pina)

Extraído do sítio Poesia Latina

AUSENCIA, de Gabriela Mistral, 
interpretado pela poeta Francisca Avaria Muñoz.

25 de julho de 2012

A HISTÓRIA DE UMA LETRA - Cecília Meireles


Muita gente me pergunta se deixei de escrever o meu sobrenome com letra dobrada devido à reforma ortográfica; e quando estou com preguiça de explicar, digo que sim. Mas hoje tomo coragem, abalanço-me a confessar a verdade, que talvez não interesse senão aos meus possíveis herdeiros.

A verdade nunca é simples, como se imagina. E em primeiro lugar, devo dizer que o meu sobrenome simplificado só vale na literatura. Nos documentos oficiais prevalece a forma antiga, e eu por mim gosto tanto da tradição que não me importava nada carregar um ípsilon, um th, todas as atrapalhações possíveis que enrugam e encarquilham um idioma.

Por outro lado, as reformas ortográficas são sempre tão arrevesadas que já perdi as esperanças de estar algum dia completamente em condições de escrever sem erros, descansando assim no tipógrafo e no revisor, que são os grandes responsáveis pelas nossas faltas e pelas nossas glórias. Não foi, portanto, por afeição às reformas que sacrifiquei uma letra do meu nome. A história é mais inverossímil.

Todos na vida atravessamos certas crises. Dever-se-ia mesmo escrever sobre a gênese, desenvolvimento, apogeu e fim das crises. Se uma pessoa está sem emprego, o natural é que se empregue. Se está doente, o natural é que morra ou se cure. Mas o fenômeno da crise é importante precisamente por ser o contrário do natural. De modo que se a pessoa está desempregada, não há maneira de arranjar emprego, e se está doente não há maneira de se curar, etc...

As crises são muito variadas. Há crises sentimentais, econômicas, de inspiração, de talento, de prestígio — e o povo classifica essa situação, que ele, em sua sabedoria, já observou, com o fácil nome de azar.

O azar não é lógico. Isso é que o torna desesperador. A pessoa sai de casa, bem com a sua consciência, com as faculdades mentais em perfeita ordem, os músculos, os nervos, tudo bem governado, atravessa a rua como um cidadão correto, observando o sinal, e quando chega do outro lado, apanha na cabeça um tijolo que um operário, inocente, deixou cair do sétimo andar de uma construção.

Naturalmente, todo o mundo tem refletido sobre as razões secretas dessas coisas inexplicáveis. E foi assim que, com o correr do tempo, se chegou à caracterização de um certo número de fatos e objetos que servem de prenúncio ao azar: espelhos quebrados, relógios parados, sal entornado na mesa, sapato emborcado, tesoura aberta, gato preto, mariposas, sexta-feira dia treze, mês de agosto, gente canhota e estrábica, vestido marrom, para só falar dos principais.

Penetrando mais no estudo de todas essas superstições, pessoas entendidas têm procurado explicá-las pelas correlações existentes com as crenças do paganismo, estas por sua vez baseadas no empirismo e na ignorância dos nossos antepassados, e assim por diante, o que não impede que as pessoas ainda hoje se benzam, quando bocejam, para que o Demônio não lhes entre pela boca; e não cruzem a mãos, quando se cumprimentam, para não atrapalharem algum matrimônio, e não se deitem com os pés para a rua, e não façam muitas outras coisas, só pelo medo das suas conseqüências ocultas.

Outras pessoas, igualmente entendidas, dão rumo diverso aos seus estudos, descobrem o entrelaçamento das causas e efeitos universais, chegam até a afirmar que tudo quanto nos acontece nesta encarnação é fruto remoto de encarnações anteriores, e respeitam o que diz um provérbio oriental — que o simples roçar da roupa de um passante, na nossa roupa, é indício de alguma proximidade de vidas, em tempos imemoriais.

E há os que seguem o caminho dos astros, e com uma circunferência, umas retas, uns planetas, uns cálculos, dizem e predizem os nossos destinos, com todas as suas inesperadas trajetórias.

E há os que lêem nas linhas das mãos, e contam as nossas viagens, os nossos padecimentos de fígado, o que vamos fazer daqui a vinte anos, e o minuto em que empalidece a nossa estrela...

Está claro que creio em tudo isso. Eu justamente creio em tudo. Creio até no contrário disso. A minha faculdade de crer é ilimitada. Não compreendendo por que as pessoas crêem numas coisas e noutras não. Tudo é crivel. Principalmente o incrível. Não estou fazendo paradoxo. A vida é que já é por si mesma paradoxal, desde que seja vista não apenas pela superfície.

Ora, uma vez, todas as coisas começaram a correr contra mim. Fazendo a mais profunda e leal introspecção, estou bem certa de que não merecia tanto. Se punha roupa branca, chovia; se precisava ver a hora, o relógio estava parado; muitas coisas pequenas, assim e outras maiores, já com intervenção humana, e que, por isso, não é necessário contar.

Então, considerando que tal concordância de acontecimentos desagradáveis devia ter uma razão secreta, pus-me a procurá-la.

Ao contrário do que geralmente se faz, comecei por atribuir a mim mesma a razão dos meus males. É certo que todos temos muitos defeitos. Mas nunca me dei ao luxo de ter tantos que justificassem a conspiração que se fazia contra mim.

Admitida a minha inocência, passei ao exame das circunstâncias que por acaso estivessem sob a minha responsabilidade. Nem espelho partido nem vestido marrom nem gato preto nem número fatídico na porta.

E assim descendo de observação em observação, e consultando algum conhecido — e os nossos conhecidos sempre sabem essas coisas ocultas e se não nos ajudam com as suas luzes é pela timidez em não acreditarem o momento propício — passei a analisar o meu nome.

Esqueci-me de dizer que estava disposta a todos os despojamentos. Se a culpa fosse de algum mau sentimento, de alguma ação malvada, eu me castigaria energicamente. E até para me estimular recordava o exemplo daquela senhora americana que arrancou um olho e cortou a mão, convencida de que esses dois fragmentos do seu corpo estavam estragando a sua alma.

Foi nessa ocasião que me explicaram o valor cabalístico das letras, e a razão por que muitas pessoas mudam de nome, trocando aquele que lhes foi dado por outro em que haja uma combinação de valores mais favorável aos seus destinos.

Todos os conhecimentos têm uma profunda sedução. Quem conseguisse saber tudo ficava igual a Deus. Por isso é que muitos são de opinião que se saiba o menos possível, para não se ter a mesma sorte de Eva, que logo no princípio do mundo estragou o Paraíso com o pecado do saber.

Digo isto porque um tratado de biologia me atrai com a mesma força que um volume de ciências ocultas, e os números e as letras me parecem tão organizados, tão sensíveis, tão vivos, tão poderosos, enfim, como um animal, uma planta, um átomo.

Naturalmente, desmontei o meu nome, peça por peça, calculei, pesei, refleti, devo ter chegado a alguma conclusão de que já não me lembro, e não tenho a impressão de que os meus cálculos fossem assim desfavoráveis. Mas pelo sim, pelo não, como havia uma letra disponível, achei melhor sacrificar essa letra.

Há os que sacrificam os filhos, os carneiros, as aves, e há os que sacrificam o seu coração. Sacrifiquei o meu. Porque eu gostava de todas as minhas letras, fervorosamente. Ter de cortar uma, não foi assim coisa tão fácil como as reformas ortográficas ordenam. Uma letra é um signo, é uma coisa misteriosa que as gerações vêm carregando consigo, modificando de longe em longe, por mão inexperiente, por súbito esquecimento, por ignorância de algum escriba emprestado.

Deu-me um trabalho muito grande, ficar sem essa letra. Quando olhava para o meu nome sem ela, sentia como se me faltasse um pedaço, como se estivesse realmente mutilada, sem a mão ousem o olho. Consolava a letra perdida. Escrevia-a sozinha, do lado, sorria-lhe, contava-lhe coisas, para distraí-la. Tudo era muito infantil e muito triste. A pobrezinha ficava para trás, e dava-me saudade. Recapitulando estas coisas, sinto-me entristecer, e preciso recobrar a minha força de vontade para não alterar outra vez o sobrenome.

Afinal, como último trabalho convincente, estabelecemos este acordo. A letra não ficaria perdida: seria usada nos documentos oficiais, nesses lugares respeitáveis em que a firma é a garantia da nossa pessoa recebendo e pagando os lugares que nos vemos que merecem a consagração e a estima unânimes dos nossos colegas humanos.

Quanto às coisas literárias, essas efêmeras coisas pelas quais vamos morrendo dia a dia, não são assim de tal modo graves que precisem da firma autêntica, daquela firma por que os juízes nos podem perguntar um dia, brandindo um papel pavoroso e fulminante: "Dize, bandido, foste tu que assinaste este documento?" Não, as coisas literárias não chegam a esse ponto. O mais que nos pode acontecer é tirarem o nome que escrevemos no fim e substituírem-no por outro, sem juiz, sem fulminação, sem defesa...

Isto posto, a letra abandonada e eu nos abraçamos ternamente, e nos separamos. Como era uma letra suave, terá querido dizer com o seu romantismo: "Quero apenas que sejas menos infeliz. Acompanhei-te durante tanto tempo! Tiveste tanta dificuldade em aprender a escrever-me... Pensavas com inocência no mistério das letras dobradas... Sentias orgulho, na escola, por essa letra dobrada no nome... Mas talvez eu esteja pesando demais na tua vida. Não fiques triste. Adeus."

Fiquei muito triste. Faltava-me a letra. Já não era como se me faltasse um pedaço de mim, — mas, um parente, um amigo extraordinário.

A minha vida, porém, mudou tanto que, por mais saudade que me venha dessa letra perdida, não me animo a fazê-la voltar.

E está feita a confissão. Como se vê, uma história longa, que não se pode repetir a cada instante. Principalmente porque é uma história íntima, e ninguém deve cortar as letras do seu nome só por ter visto outras pessoas fazê-lo. E fica explicado para sempre que assino deste modo por motivos sobrenaturais, fantásticos, como quiserem, mas não pela reforma ortográfica, aliás muito cautelosa com os nomes próprios, respeitando-os tanto quanto me parece deverem ser respeitados, principalmente pelos mistérios que dentro deles vão navegando.

(Rio de Janeiro, A MANHÃ, 27 de dezembro de 1944.)

Extraído do sítio Hierophant Magazine

AS LIÇÕES DE GUERNICA 75 ANOS DEPOIS - Amy Goodman

Guernica, pintura de Pablo Picasso (1937), no Museu Nacional Centro de Arte Reina Sofia
Há 75 anos, a cidade espanhola de Guernica foi bombardeada e ficou reduzida a escombros. Esse ato brutal inspirou a um dos maiores artistas do mundo a realizar uma pintura para a qual dedicou três semanas de trabalho frenético. Em um óleo de 3,50X7,80 metros, "Guernica”, de Pablo Picasso, mostra de maneira crua os horrores da guerra, refletidos nos rostos das pessoas e dos animais. Não foi o pior ataque da Guerra Civil Espanhola; porém, converteu-se no mais famoso graças ao poder da arte. O impacto de milhares de bombas lançadas sobre Guernica, do fogo das metralhadoras disparadas das aeronaves contra os civis que tentavam fugir do inferno podem ser sentidos até hoje através dos sobreviventes que partilham com entusiasmo suas recordações e também nos jovens de Guernica, que lutam para forjar um futuro para sua cidade, algo distante de sua dolorosa história.

A Legião Condor da Luftwaffe (a Força Aérea Alemã durante a Alemanha nazista) realizou o bombardeio a pedido do General Francisco Franco, que encabeçava uma rebelião militar contra o governo democraticamente eleito da Espanha. Franco procurou a ajuda de Adolf Hitler e de Benito Mussolini, que estavam muito entusiasmados em pôr em prática as modernas técnicas de guerra contra os indefesos cidadãos espanhóis. O ataque contra Guernica foi a primeira vez na história europeia que uma cidade civil foi completamente destruída por um bombardeio aéreo. Apesar de que as casas e as lojas foram destruídas, várias fábricas de armas, uma ponte de importância chave e as linhas férreas ficaram intactos.

Ativo e lúcido aos 89 anos de idade, Luis Iriondo Aurtenetxea sentou-se junto a mim no escritório da organização Gernika Gogoratuz, que, em vasco, significa "Recordar a Guernica”. O vasco é um idioma antigo e um elemento fundamental da férrea independência do povo vasco, que vive há milhares de anos na região fronteiriça entre a Espanha e a França.

Quando Guernica foi bombardeada, Luis tinha 14 anos e trabalhava como assistente em um banco local. Era dia de mercado, pelo que todo o mundo estava na cidade; a praça do mercado estava repleta de gente e de animais. O bombardeio começou às 16:30 horas do dia 26 de abril de 1937. Luis recorda: "Não terminava nunca. O bombardeio continuava e continuava. Umas três horas e meia de bombardeio. Quando terminou, saí do refúgio e todo o povoado estava ardendo; tudo em chamas”.

Luis e outras pessoas fugiram para o povoado vizinho, Lumo, em cima da colina, de onde, ao cair da noite, viram como sua cidade natal queimava e suas casas eram destruídas pelas chamas. Alguém deixou que dormissem em um celeiro. Luis continuou: "À meia-noite, mas não sei bem que horas eram, pois não tinha relógio... algo me despertou. Ouvi que me chamavam. E fui até a porta que dava para a praça e vi a silhueta de minha mãe. Ao fundo, se via Guernica ardendo. Vi minha mãe, que havia encontrado aos outros três filhos (éramos quaro irmãos) e agora me encontrava”. Luis e sua família foram refugiados de guerra durante muitos anos e, finalmente, regressaram a Guernica onde, da mesma forma que Pablo Picasso em Paris, Luis vive e trabalha como pintor.

Luis me levou ao seu estúdio, cujas paredes estão cobertas por pinturas. A que mais se destaca é a que fez sobre aquele momento em Lumo, quando sua mãe o encontrou. Perguntei-lhe como tinha se sentido naquele momento. Seus olhos encheram-se de lágrimas. Pediu desculpas e disse que não podia falar sobre isso. A umas quadras do estúdio de Luis, encontra-se uma das fábricas de armas que ficou intacta após a destruição: uma planta denominada edifício Astra onde armas químicas e pistolas eram fabricadas. Astra se mudou, mas a empresa de amas continua tendo vínculos com a cidade, já que várias de suas armas automáticas levam o nome de "Guernica” e, segundo indica a empresa, estão "desenhadas por guerreiros, para guerreiros”.

Há alguns anos, um grupo de jovens ocupou a planta abandonada para exigir que fosse transformada em centro cultural. Oier Plaza é um jovem artista de Guernica. De pé, junto à planta, me disse: "Em princípio, a polícia nos expulsou; porém, voltamos a ocupá-la. Finalmente, a prefeitura comprou o edifício, em seguida, começamos esse processo de recuperá-lo para criar o projeto Astra”.

O objetivo do projeto Astra é converter essa fábrica de armas em um centro cultural onde sejam ministrados cursos de arte, vídeo e meios audiovisuais em geral. "Creio que devemos olhar o passado para poder compreender o presente e, se entendemos o presente, poderemos criar um futuro melhor. E creio que Astra é aprte desse processo: faz parte do passado, do presente e do futuro dessa cidade”.

A partir do "Guernica” de Picasso, o autorretrato de Luis Iriondo Aurtenetxa junto à sua mãe, passando pela iniciativa de Oier Plaza e seus jovens amigos, o poder da arte de converter espadas em arados e de resistir à guerra renova-se constantemente.[Denis Moynihan colaborou na produção jornalística dessa coluna.

Texto en inglés traduzido para o espanhol por Mercedes Camps. Edición: María Eva Blotta e Democracy Now! en español.
* Amy Goodman é a condutora de Democracy Now!, um noticiário internacional que se emite diariamente em mais de 550 emissoras de rádio e TV en inglés e em mais de 350 em espanhol. El é coautora do livro "Los que luchan contra el sistema: Héroes ordinarios en tiempos extraordinarios en Estados Unidos", editado por Le Monde Diplomatique Cone Sul].


Extraído do sítio Adital