20 de julho de 2012

"A MÚSICA VEIO ANTES DA ESCRITA", DIZ LUIS FERNANDO VERISSIMO - Stella Rodrigues


“Todos os músicos são profissionais, o único amador sou eu”, explica Luis Fernando Verissimo, com seu jeito doce, mas notoriamente sucinto de falar. O escritor-músico se apresenta nesta quinta, 19, e no sábado, 21, no bar Verissimo (onde mais?), em São Paulo, como parte do grupo Jazz 6. Mais conhecido como cronista, autor e “vítima” de diversas “farsas” na internet (que usam falsamente a assinatura dele em textos de qualidade duvidosa), o gaúcho é também fã de jazz e saxofonista desde a adolescência.

“A música veio antes da escrita. Aprendi a tocar com 16 para 17 anos. Na época não tinha nenhuma intenção de ser escritor, fui começar a escrever com mais de 30 anos. A música foi uma constante sempre, sempre preferi a música, tocava com mais gosto do que escrevia”, conta ele.

Porém, a vontade do jovem Verissimo nunca foi de transformar a arte sonora em profissão. Intuito que ele preserva até hoje, mantendo o grupo Jazz 6 como um hobbie. “Deveríamos ensaiar mais, acabamos ensaiando durante a apresentação. Se a gente se dedicasse com um pouco mais de seriedade, aí sim. Mas é uma coisa meio informal, passamos períodos grandes sem tocar, depois temos vários compromissos.”

Os compromissos incluem a divulgação dos discos. Já saíram cinco: Agora é Hora (1998), Speak Low (2001). A Bossa do Jazz (2003), Four (2007) e NasNuvens, do fim do ano passado, cujo show o grupo mostrará em São Paulo. A maioria dos trabalhos traz regravações de sucessos nacionais e do jazz internacional, cada um abordando uma temática mais específica.

“Nosso primeiro disco tem duas composições nossas. Temos a ideia de fazer um CD com mais músicas dos próprios integrantes, temos três compositores muito bons”, conta ele, ressaltando que ele próprio nunca compôs nada. Nada que a internet não resolva, não é mesmo? Se a carreira de músico começar a dar mais frutos, será que logo mais não aparece uma composição “dele” na internet? “[Risos]. Acho difícil, mas até que seria bom se aparecesse uma boa música por aí com o meu nome”

Sempre brincando que eles são o “menor sexteto do mundo”, já que logo no começo perderam um integrante, mas decidiram manter o nome, Verissimo investe na música, essa amante sedutora, sempre que o casamento com a exigente literatura dá uma brecha. “Depende muito das minhas viagens, viajo muito como autor”, explica. Os outros membros também tocam outros projetos como músicos e nas horas vagas integram o Jazz 6. Mas o escritor reflete que tem achado essa vida de turnê de músico mais instigante do que viajar promovendo livros. “É muito bom. O trabalho principal do escritor é sempre solitário. Ao contrário do músico, que trabalha coletivamente”, diz, concordando que outra diferença crucial é que o autor de livros escreve muito pouco em sua função de promover seus livros, enquanto a divulga de um disco acontece tocando em shows.

Outra piada recorrente de Verissimo, pelo menos desde que se apresentou na cidade de Natal, é que isso foi o mais próximo que chegou de tocar em Nova York, antro do jazz e lugar onde ele se apaixonou pelo estilo. “Ainda chegaremos em Nova York”, diz esperançoso. A cidade é berço de um cineasta que tem o jazz como “segunda profissão”, Woody Allen, um cronista das telonas. Quando perguntado se as semelhanças não seriam suficientes para ele investir e tentar uma parceria, ele se diverte. “Olha, seria engraçado. Duvido que ele tope isso, mas do meu lado seria muito bom!”, diz, emendando um “quem sabe?” descrente.

“É mais provável que eu pare com a música, que depende muito do fôlego”, afirma ele ao explicar que jamais pensou em largar as letras para ficar com as notas. “Tem que ter pulmão, resistência física. E isso está acabando. Já escrever não requer tanto esforço físico”, conclui o saxofonista de 75 anos que aparece no vídeo abaixo.


Extraído do sítio Rolling Stones

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