15 de julho de 2012

AUTORES ESTREANTES ENCONTRAM DIFICULDADES CRESCENTES NA ALEMANHA - Janine Albrecht

As editoras maiores chegam a receber 3 mil propostas de autores estreantes por ano, das quais 98% em média são descartadas. Para muitos, a opção são as plataformas digitais. Mas ainda há quem tire a sorte grande.

"Todo publicitário quer escrever um livro", afirma Wiebke Busch, autora de textos de publicidade e, faz pouco tempo, também romancista. O livro de 320 páginas em suas mãos representa um ano de trabalho. Os 19 capítulos contêm muitas vivências de uma mãe bacana. Neste livro está o sonho de uma vida. Não o de ser mãe, mas sim o de ser escritora.



Enquanto folheia seu livro recentemente lançado, Mama Cool (Mamãe Bacana), um sorriso passeia por seu rosto, nos olhos brilha um toque de orgulho.

Nova romancista: Wiebke Busch
Afinal, ela conseguiu aquilo com que a maioria de seus colegas ainda sonha. Calcula-se que 98% dos manuscritos submetidos todos os anos às editoras alemãs são rejeitados. Isso se aplica em especial às remessas não solicitadas.

"Não mantemos uma estatística exata, mas sem dúvida centenas de livros, manuscritos, resumos, fragmentos escolhidos chegam a cada mês às respectivas seções da empresa", relata Markus Naegele, diretor de programação da Heyne, editora de livros de bolso pertencente ao grupo Random House.

As remessas por e-mail elevaram os números expressivamente. Na Rowohlt, de Hamburgo, chegam ao departamento de ficção cerca de 3 mil manuscritos de estreantes, a cada ano. De todos esses, apenas um título foi publicado nos últimos 15 anos.

Estreantes se perdem na massa

Wiebke Busch enviou também a essas duas editoras o seu resumo e uma amostra da obra. Sem sucesso. A nova autora de 36 anos, que vive na zona oeste de Hamburgo com o marido e duas filhas, dedicou cada minuto livre a esse romance, francamente baseado em sua própria vida – fosse durante a sesta das meninas ou tarde da noite. "E aí, claro, também queria tê-lo nas mãos, como livro." Mas de início só vieram recusas.

Entrar no mercado literário
exige persistência e sorte
"Sobretudo nas grandes editoras é possível que algo bom se perca na massa dos textos", avalia Imre Török, presidente da Federação dos Autores Alemães (VS). Além disso, ela acredita que as casas menores sejam mais abertas a experimentos, oferecendo aos estreantes maiores chances de serem revelados.

Essa visão porém não é compartilhada por Markus Naegele, da Random House: "As editoras escolhem os autores e títulos nos quais veem um potencial literário ou comercial". Andrea Müller, diretora de programação do grupo Droemer Knaur, confirma: "Sempre tentamos chegar a uma boa mistura, entre autores estabelecidos e novas descobertas excitantes".

Potencial com risco

No entanto, ela não deixa de mencionar a notável queda nos faturamentos do comércio livreiro. "Manter até mesmo autores estabelecidos no nível de vendas uma vez alcançado exige grandes esforços. Impor novos autores, quem sabe torná-los best-sellers, é ainda mais difícil", relata Müller.

Por isso é um grande risco para uma editora incluir um estreante em seus quadros. Se o livro se revela um fracasso, ela não perde apenas os investimentos em publicidade e marketing, mas também o faturamento que pretendia alcançar com a nova aquisição.

"As editoras já planejam seus programas com um a dois anos de antecedência", diz Török da VS. "Isso torna sobretudo as grandes casas pouco flexíveis." Por isso, cada vez mais autores passaram a publicar, eles próprios, os seus livros, seja como e-book, seja por outras plataformas digitais.

Após alguns meses, Wiebke Busch também considerou se lançar na Books on Demand, site alemão em que os autores divulgam seus livros, os quais são então impressos de acordo com a demanda pela clientela.

"Mama Cool": finalmente nas livrarias
Golpe de sorte

Uma amiga se ofereceu como editora literária. Paralelamente, porém, a escritora fez uma última tentativa junto à editora Schwarzkopf&Schwarzkopf, de Berlim. Com sucesso. "Na época estávamos justo planejando uma série em que a temática do livro de Wiebke Busch se encaixava", lembra a editora Annika Kühn.

Outra vantagem de Busch foi ter escrito sobre algo que ela própria vivenciara: a rota da maternidade. "O autor se torna mais verossímil, claro, se de alguma forma ele também incorpora a narrativa", comenta Kühn.

Agora, só é preciso Mama Cool vender. Wiebke Busch vaga por uma pequena livraria em seu bairro. Entre guias de educação infantil e livros sobre gravidez, ela acaba encontrando seu romance. E, mais uma vez, aparece aquele sorrisinho de orgulho.

Extraído do sítio Deutsche Welle

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