26 de julho de 2012

BIBLIOTECA NACIONAL E ITAÚ CULTURAL LANÇARÃO EM FRANKFURT REVISTAS COM TRECHOS TRADUZIDOS DE LITERATURA BRASILEIRA - Felipe Lindoso

O Instituto Itaú Cultural atendeu ao chamamento do edital de co-edição de publicações feito pela Fundação Biblioteca Nacional e propôs a edição de revista com excertos de obras literárias traduzidos para o inglês ou espanhol, dentro do programa de incentivo à tradução de autores brasileiros. A iniciativa do Itaú Cultural combina com o programa que a instituição já vem desenvolvendo há anos, o Conexões Itaú Cultural – Mapeamento Internacional da Literatura Brasileira, que recolhe informações sobre professores, pesquisadores e tradutores da nossa literatura no exterior.



A Biblioteca Nacional já iniciou a convocação, ontem, para o envio de excertos de romances, contos ou obras poéticas traduzidas ao inglês ou espanhol, para publicação nessa revista, destinada especificamente a despertar o interesse de editoras internacionais para os autores brasileiros. O primeiro número será lançado na Feira do Livro de Frankfurt deste ano e terá periodicidade trimestral. A convocatória pode ser lida aqui.

A revista ficará disponível em site específico e autores, editoras e agentes internacionais poderão publicar por conta própria separatas dos títulos que lhes interessarem. O Itamaraty, também parceiro da iniciativa, cuidará da difusão internacional através das representações brasileiras. A publicação também será distribuída nas feiras de livros nas quais o Brasil participe.

A ideia da revista vem sendo gestada há tempos e pode ser viabilizada com a publicação do edital para as co-edições, por parte da Biblioteca Nacional, e se insere no esforço que resultou na criação do Centro Internacional do Livro, dos programas de bolsas de tradução, da residência para tradutores do português e de incentivo à publicação de autores brasileiros nos países lusófonos.

De parte do Itaú Cultural, a iniciativa amplia e dá continuidade ao programa Conexões – Mapeamento Internacional da Literatura Brasileira, que a instituição mantém há vários anos, com curadoria do professor João Cezar de Castro Rocha e deste que assina, e que é vinculado ao Núcleo Diálogos do Itaú Cultural, sob a responsabilidade de Claudiney Ferreira. A Enciclopédia Virtual da Literatura Brasileira do Itaú Cultural também será linkada para oferecer informações sobre os autores brasileiros. Atualmente disponível em português, a Enciclopédia Virtual da Literatura Brasileira está sendo traduzida para o inglês e o espanhol.

Há anos, quando editor, já havia constatado a dificuldade de atrair o interesse de editores e agentes internacionais para as publicações dos nossos autores por conta de uma barreira complicada: são poucos os leitores de português disponíveis para a avaliação de textos apresentados em português. E as editoras só mandam para avaliação os textos que já atraíram de alguma maneira, sua atenção. Daí a importância de poder dispor de amostras de originais brasileiros já traduzidos para alguns dos idiomas com maior difusão internacional, como é o caso principalmente do inglês, e também do espanhol. O projeto da Revista prevê edições especiais em outros idiomas, como o alemão, o francês e até mesmo o chinês, no futuro. As grandes editoras e alguns agentes já fazem investimentos nesse sentido, de tradução de trechos das obras que apresentam no exterior. Agora, com a Revista, essa possibilidade se amplia para editoras de menor porte.

A constatação pessoal do meu tempo como editor tem sido amplamente reforçada pelos dados conseguidos pelo Conexões, entre os quase 230 mapeados que abastecem um banco de dados que é o único existente em nosso país. Os mapeados são professores e pesquisadores de literatura brasileira que trabalham no exterior há pelo menos cinco anos, e tradutores. O questionário respondido por esse grupo de batalhadores da difusão do idioma e de nossa literatura tem assinalado, de forma sistemática, um conjunto de dificuldades para a maior presença de nossas letras no exterior: a falta de traduções – decorrente da pouca presença do português no cenário internacional -, a inexistência de um órgão semelhante aos institutos Camões, Cervantes, Goethe ou Alliance Française para a difusão sistemática de nossa literatura no exterior, e também as deficiências de dicionários bilíngues, entre outros.

Quem estuda em nossas universidades as literaturas de outros países, como a alemã, a russa, a de língua espanhola ou a francesa, já dispõe de um corpus bastante extenso de textos traduzidos, desde os clássicos dessas literaturas até a produção contemporânea. Evidentemente, quem deseja se aprofundar no estudo deve dominar o idioma, mas, para o conjunto da população e para os estudantes de graduação, não é preciso saber russo para ler Dostoiévski e demais clássicos da literatura daquele país, e hoje dispomos até da tradução de autores de romances policiais russo contemporâneos. E assim por diante.

Para o português, entretanto, a situação é muito diferente. As vozes dos nossos romancistas, contistas e poetas, e a contribuição que temos a dar a essa República Mundial das Letras é obstaculizada pela falta de traduções e pelo do baixo domínio do idioma, seja pelos universitários, seja pela população em geral.

O esforço da Biblioteca Nacional, longe de significar arroubos nacionalistóides, parte da compreensão da importância de que nossas vozes sejam ouvidas. E corresponde a uma necessidade claramente constatada pelo Conexões – Mapeamento Internacional da Literatura Brasileira.

A revista terá um Conselho Editorial a ser nomeado pela Fundação Biblioteca Nacional e divulgado até o dia 17 de agosto, quando também será anunciado seu nome oficial. Esse conselho terá a voz final sobre os textos aceitos para publicação a cada número.

É preciso destacar que os textos, segundo a nota da Biblioteca Nacional, devem estar traduzidos, não com vistas a uma tradução de qualidade literária final, mas com uma qualidade que permita uma avaliação correta por parte dos editores estrangeiros do conteúdo do livro apresentado. Até porque a definição final dos tradutores caso o direito de edição daquele livro for comprado, será de responsabilidade do editor que adquirir esses direitos. Além disso, a publicação em inglês ou espanhol é uma porta de entrada para a tradução em outros idiomas. Todos os responsáveis pela edição de literatura estrangeiras pelo mundo afora dominam um desses idiomas, principalmente o inglês. Daí por que essas amostras de traduções podem ser a porta de acesso para a edição em qualquer outro idioma. Vale destacar que nem a Biblioteca Nacional nem o Itaú Cultural recebem por essa publicação nem detém nenhum direito, a ser negociado entre seus detentores e quem os publicar em tradução.

O primeiro número da Revista está convocando para a apresentação de trechos já traduzidos por encomenda das editoras, dos agentes ou dos autores. Essa exigência de textos já traduzidos para o primeiro número se deve à urgência de sua publicação até outubro. Para os números seguintes, entretanto, já se estudam modos como textos originais em português, (apresentados por autores, editoras e agentes), possa ser essa traduzido (até 15.000 caracteres), com recursos da BN ou com o apoio de alunos de literatura brasileira no exterior, mobilizados pela rede de professores que participa do Conexões Itaú Cultural.

A iniciativa da Biblioteca Nacional e do Itaú Cultural, e do Itamaraty, é mais um passo importante do fortalecimento de políticas públicas para o livro e leitura no nosso país. Juntamente com as ações e programas desenvolvidos no âmbito interno, como o fortalecimento de bibliotecas, o circuito de feiras nacionais e o Programa do Livro Popular, a Revista de traduções é mais um eixo do conjunto de ações para a constituição de uma política de Estado de apoio à nossa literatura, desenvolvimento do hábito de leitura e fortalecimento do mercado editorial, como estabelecido pelo Plano Nacional do Livro e Leitura – PNLL.

* Felipe Lindoso é jornalista, tradutor, editor e consultor de políticas públicas para o livro e leitura. Foi sócio da Editora Marco Zero, diretor da Câmara Brasileira do Livro e consultor do CERLALC – Centro Regional para o Livro na América Latina e Caribe, órgão da UNESCO. Publicou, em 2004, O Brasil pode ser um país de leitores? Política para a cultura, política para o livro, pela Summus Editorial. Mantêm o blog www.oxisdoproblema.com.br .

Extraído do sítio Publish News

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