6 de julho de 2012

LISBOA - Tomas Transtörmer



No bairro de Alfama
os eléctricos amarelos
cantavam nas calçadas íngremes.
Havia lá duas cadeias.
Uma era para ladrões.
Acenavam através das grades.
Gritavam que lhes tirassem
o retrato.

“Mas aqui!”, disse o condutor
e riu à sucapa
como se cortado ao meio,
“aqui estão políticos”.
Vi a fachada, a fachada,
a fachada e lá no cimo
um homem à janela,
tinha um óculo e olhava
para o mar.

Roupa branca no azul.
Os muros quentes.
As moscas liam cartas
microscópicas.
Seis anos mais tarde perguntei
a uma senhora de Lisboa:
“será verdade ou só um sonho meu?"


Poema publicado no livro 21 Poetas Suecos, da editora Vega (1980), organizada por Vasco Graça Moura e Ana Hatherly. 


Tomas Tranströmer (Estocolmo, 15 de abril de 1931) é um poeta, tradutor e psicólogo sueco. A poesia de Tranströmer tem uma grande influência na Suécia e em todo o mundo, sendo ele o poeta sueco mais traduzido: os seus poemas estão traduzidos em mais de trinta línguas. Recebeu numerosos prémios literários, como por exemplo o Prémio Literário do Conselho Nórdico em 1990 e o Prémio Nobel da Literatura em 2011Tranströmer iniciou-se na poesia aos 23 anos de idade. O seu primeiro livro intitulava-se 17 dikter (17 poemas). A maior parte da sua obra é escrita em verso livre, embora também tenha feito experiências com linguagem métrica. Na sua escrita nota-se uma certa disciplina horacianaVive presentemente numa ilha, longe dos olhares do mundo e dos meios de comunicação. Foi psicólogo de profissão até 1990. Redigiu cerca de uma quinzena de obras numa longa carreira dedicada à escrita. Em 1990 foi vítima de um acidente vascular cerebral que o deixou em parte afásico  e hemiplégico. Continuou a escrever e publicou três obras, como "O Grande Enigma: 45 Haikus". (Wikipedia) 



Extraído do Sítio De Rerum Natura

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