10 de julho de 2012

LITERATURA ATUAL É FATALMENTE INÚTIL, CRITICA ESCRITOR ESPANHOL DURANTE A FLIP

Enrique Vila-Matas reivindicou o direito de nos afastarmos dos “medíocres” e de “não concordar com a estupidez geral”.

O aclamado romancista espanhol Enrique Vila-Matas não apenas retornou à Flip (Festa Literária Internacional de Paraty) este ano para celebrar seu aniversário de dez anos como também presenteou o evento neste sábado (07/07) com uma conferência a mais do que os organizadores haviam originalmente programado.

Após dialogar com o chileno Alejandro Zambra na última quinta-feira (05/07) sobre quais outros possíveis valores a literatura poderia carregar consigo além de um poder educativo e social, ele se propôs a avaliar a hipótese de morte da literatura em meio à contemporaneidade. Dono de destacada erudição, que percorre nomes como o do filósofo Ítalo Calvino e do clássico Miguel de Cervantes, julgou a prosa atual como “parte do mercado” e, assim, fatalmente, como algo “irremediavelmente inútil”.

Com sua obra traduzida para os idiomas de dezenas de países, defende “um estado geral da literatura no qual os escritores devem ser lidos e não vistos”. “O quê ocorreu para chegarmos a esse ponto”, questiona-se.

Para Vila-Matas, é premente “a necessidade de escrever, a de parar de escrever e a de se esquecer de escrever”. Ele argumenta que é preciso aprender a ser como um Picasso e produzir muito, ao mesmo tempo em que é igualmente necessário ser como um Duchamp e aprender a produzir pouco”. Só assim a literatura voltaria a alcançar o que lhe é hoje, supostamente, frágil e quase inexistente: seu poder de “manutenção da memória cultural”.

Fillipe Mauro/OperaMundi

Enrique Vila-Matas: “O quê ocorreu para chegarmos a esse ponto?”.

Recorrendo a Charles Baudelaire, a seu ver, um “moderno que não nos parece antiquado”, reivindicou o direito de nos afastarmos dos “diversos medíocres” e de “não concordar com a estupidez geral”. “É preciso olhar o mundo com outros instrumentos”, pois ele está “apoiado sobre entidades sutilíssimas”.

Em uma tentativa trazer ao público sua concepção sobre o que classifica como “o fazer da linguagem”, alegou, fatal e gravemente, como lhe é de costume, que alguma esperança de solução para tamanho dilema do pensamento contemporâneo estaria em “escrever sempre para derrotar a alma e, assim, conversar com a inteligência”.

A priori, a Flip aguardava para este sábado a presença do Prêmio Nobel de Literatura de 2008, Jean-Marie le Clézio. Contudo, o autor francês alegou problemas de saúde e cancelou sua viagem. Uma segunda conferência exclusiva para Enrique Vila-Matas foi então proposta pelo curador da festa, o jornalista brasileiro Miguel Conde, para preencher essa lacuna. Sua temática – a possível morte da literatura – é uma referência ao debate que promove particularmente em duas obras, Ar de Dylan e História abreviada da literatura portátil, ambos editados pela Cosac Naify.


Extraído do sítio Opera Mundi

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