18 de julho de 2012

TEATRO, MÚSICA, CINEMA E REDE INTERNACIONAL NOS 40 ANOS DAS "NOVAS CARTAS PORTUGUESAS"

A obra Novas Cartas Portuguesas, de Maria Isabel Barreno, Maria Teresa Horta e Maria Velho da Costa, vai ser levada à cena no Teatro Nacional de São João, no Porto, em 2013, pelo encenador Nuno Carinhas. Esta é apenas uma das iniciativas do projeto “Novas Cartas Portuguesas 40 Anos Depois”.

A apreensão do livro e o processo instaurado às três autoras – que ficou conhecido como o das “Três Marias” – provocou uma onda internacional de apoio, inédita na história da literatura portuguesa. Foto www.novascartasnovas.com.
Em 2013, a obra Novas Cartas Portuguesas, de Maria Isabel Barreno, Maria Teresa Horta e Maria Velho da Costa, subirá ao palco do Teatro Nacional de São João, no Porto, pelo encenador Nuno Carinhas. Esta é uma das iniciativas integradas no projeto “Novas Cartas Portuguesas 40 Anos Depois”, que tem por objetivo “criar uma rede transcultural e internacional em torno do livro” publicado em 1972 e censurado pelo fascismo.

A apreensão do livro e o processo instaurado às três autoras – que ficou conhecido como o das “Três Marias” – provocou uma onda internacional de apoio, inédita na história da literatura portuguesa. A filósofa francesa Simone de Beauvoir manifestou, na altura, e publicamente, apoio às mulheres portuguesas, oprimidas pelo regime fascista de Salazar, pelo conservadorismo de um país então dominado pela Igreja e pela ditadura.

A adaptação ao teatro daquela que é uma das obras portuguesas mais traduzidas em todo o mundo, estará a cargo do encenador Nuno Carinhas e das professoras universitárias Ana Luísa Amaral e Alexandra Moreira da Silva.

Divulgar um livro que “caiu bastante no esquecimento” é o principal objetivo, explica Alexandra Moreira da Silva, citada pela Lusa, sublinhando que se trata de uma “obra que resiste à catalogação”, mas que contém “matéria profundamente teatral”. Aliás, “a teatralidade da linguagem presta-se a vários tipos de práticas teatrais, desde monólogos a coros, a vídeo, a voz-off”, enumera a especialista em Estudos Teatrais.

A equipa ainda não começou “verdadeiramente a adaptar”, mas a ideia é “transpor para a cena a matéria lírica e epistolar” da obra. “Ainda nada está definido, o que é um desafio”, considera, realçando que “é possível fazer teatro com tudo” e que “será um trabalho a três, a partir de um projeto cénico, de escrita para o palco”.

O projeto “Novas Cartas Portuguesas 40 Anos Depois”: entre recitais, cinema e colóquios internacionais

O projeto “Novas Cartas Portuguesas 40 Anos Depois” (www.novascartasnovas.com), coordenado por Ana Luísa Amaral, escritora e professora na Faculdade de Letras da Universidade do Porto, começou em 2011 e tem financiamento até 2014.

Entre outras das iniciativas previstas está um ciclo de recitais – “Novas Cartas, Novos Cantos” – que deverá começar em Dezembro, no Porto, e que consiste em leituras de excertos da obra, acompanhadas ao piano por Álvaro Teixeira Lopes e com a participação de vários cantores líricos.

Está também a ser elaborado um documentário, realizado por Luísa Sequeira e Luísa Marinho, que deverá estar concluído em 2014, que terá entrevistas com as autoras e seguirá os passos das equipas ligadas ao projeto, espalhadas pelo mundo.

A 22 e 23 de Novembro, vai realizar-se um colóquio internacional sobre a obra, em Paris, na Universidade de Sorbonne (Paris 3), com o tema “Nouvelles Lettres Portugaises, généalogies et générations”.

Novas Cartas Portuguesas: há livros que “vêm antes do tempo”

Évora vai acolher, em Setembro de 2013, um outro colóquio em que serão apresentados publicamente os diferentes trabalhos das equipas de investigação. Será ainda lançada a edição portuguesa de “Novas Cartas Portuguesas – entre Portugal e o Mundo”.

A escolha de Évora não foi um acaso: é a universidade mais próxima de Beja, onde viveu a personagem central do livro, Mariana Alcoforado, e pretende “descentralizar”, justifica a professora universitária e coordenadora do colóquio Maria Fernanda Henriques.

A obra de Maria Isabel Barreno, Maria Teresa Horta e Maria Velho da Costa tomou por matriz as "Cartas Portuguesas" atribuídas a Mariana Alcoforado, supostamente enviadas ao marquês de Chamilly, no terceiro quartel do século XVII, e que mobilizaram a atenção de autores como Jean Jacques Rousseau, Alexandre Herculano, Camilo Castelo Branco ou Eugénio de Andrade, ao longo de mais de três séculos.

“O rótulo do feminismo colado às Novas Cartas Portuguesas ainda é um grande travão à sua leitura”, reconhece a docente de Filosofia Maria Fernanda Henriques, realçando que o livro “também é pouco lido porque é perturbador”, pertencendo às obras que “vêm antes do tempo”.


Extraído do sítio Esquerda.net

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