21 de agosto de 2012

GÓGOL NA AVENIDA - Sergio Maduro

“Avenida Niévski” e “Notas de Petersburgo de 1836”, de Nikolai Gógol, saem neste mês pela editora Cosac Naify, em dois pequenos volumes traduzidos por Rubens Figueiredo.

Os volumes vêm embrulhados em uma reprodução do jornal russo da época Foto: Divulgação

Premiado escritor de contos e romances, tendo recebido, entre outros, os prêmios Jabuti, São Paulo e Portugal Telecom de literatura, Rubens Figueiredo lança duas novas traduções diretas do russo neste mês: “Avenida Niévski” e “Notas de Petersburgo de 1936”, ambas de Nikolai Gógol.

“Gógol é um escritor absolutamente inusitado, um grande provocador que desestabiliza a língua russa. Ao traduzi-lo, estamos diante das mesmas dificuldades da tradução do texto poético”, disse a tradutora Arlete Cavalieri à Gazeta Russa.

Professora do departamento de Língua e Literatura Russa da USP e especialista em Gógol, anos atrás, Cavalieri também traduziu “Avenida Niévski” para a editora Paz e Terra. “Por que não tentar uma outra transcriação? Uma tradução nunca é definitiva, é um tipo de crítica”, completa.

“Avenida” é uma novela sobre o destino de dois homens que se deixam levar pelo encanto de passantes. “Notas” de certa forma contextualiza o outro volume, é uma apreciação crítica sobre o panorama cultural de São Petersburgo e foi originalmente publicada na revista “Sovremiénnik” (“O Contemporâneo”), editada por Púchkin.

O tradutor Figueiredo é um veterano que verteu para o português dezenas de títulos em diversos idiomas. Ele já traduziu Turguêniev, Tchekhov e Górki. Sua tradução de “Ressurreição”, de Tólstoi, foi laureada com o Prêmio Literário da Fundação Biblioteca Nacional.

Em tempos de box, pacote

A edição da Cosac Naify pertence à “coleção particular”, série composta por livros clássicos, de narrativa breve e projeto gráfico interpretativo.

“Procuramos um diálogo entre forma e conteúdo. É uma experiência de leitura, não é só o livro visto como fetiche, como livro-objeto”, explica a editora Paula Colonelli.

De fato, o próprio design da coleção já é uma interpretação de seu conteúdo. “Avenida Niévski” é ilustrado com gravuras da década de 1830, reproduzindo graficamente uma caminhada pela principal artéria de São Petersburgo. A ideia de passeio, de circularidade e de passagem do tempo ficam intimamente ligadas ao design do livro e à disposição e às cores dos parágrafos.

Sem orelhas ou prefácio, os volumes carecem de uma introdução, uma vez que situar Gógol no contexto da literatura russa do século 19 não é fácil. Fica sem explicação, por exemplo, a razão de se publicar ambos os livros juntos, já que se tratam de narrativas bem distintas do autor, uma ficcional, a outra, não.

“Temos dois Gógol, o que se pronuncia oficialmente como escritor e o ficcionista. Isso mostra a dubiedade de uma personalidade muito complexa”, lembra a professora Cavaliere.

“Avenida Niévski” e “Notas de Petersburgo de 1836” são revelações dessas duas facetas, a do homem público que faz as suas análises sobre a vida cultural, e a do criador, muitas vezes em contradição com o analista.

O escritor, nascido em 1809, é também autor de “O Nariz”, “O Capote” e “O Inspetor Geral”, entre outros, e morreu em 1852, enfraquecido por se recusar a comer, não sem antes queimar a parte final de seu “Almas Mortas”. Isso tudo só confirma o retrato que Cavaliere pinta de sua obra: simultaneamente real e grotesca, verdadeira e fantástica.

Extraído do sítio Gazeta Russa

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