31 de agosto de 2012

OBRIGADO PELO CHOCOLATE: UMA PARAGEM GOSTOSA NA HAVANA COLONIAL - Mireya Castañeda

A Havana colonial, Patrimônio da Humanidade, é o centro original da cidade São Cristóvão de Havana, fundada em 1519. Percorrê-la é imprescindível e interminável. Palácios, casas senhoriais, fortificações, ruas estreitas e amplas praças, museus, salas de concerto.

O Gabinete do Historiador leva adiante um trabalho impressionante de restauração, com frutos muito perceptíveis, que converteram seus quase três quilômetros quadrados no centro urbano melhor conservado da América.

Cada monumento, as arcadas das casas, seus balcões, portões de ferro forjado e pátios interiores são lugares de grande interesse para valorizar e fotografar, bem seja na Praça de Armas, ou a Praça Velha, nas ruas Obispo, Oficios ou Mercaderes.

Chega um momento nesse perambular por Havana em que é preciso parar para descansar, e nada melhor que em um lugar muito próximo da Praça de São Francisco, onde terá uma deliciosa e doce paragem. 

A confluência das ruas Mercaderes e Amargura é o lugar exato onde foi criado, em 2003, o Museu do Chocolate. Ali, além da exposição de artigos ligados à elaboração e consumo do chocolate, se pode apreciar a elaboração do chocolate de maneira artesanal e, naturalmente, adquirir bombons sólidos ou recheios e beber uma taça de chocolate quente ou frio.

O "XOCOLATL" DE MOCTEZUMA

O gosto pelo chocolate está muito estendido no mundo desde há séculos, portanto não é necessário estendermo-nos nesse tema. Até o cinema se ocupou dele. Fresa y Chocolate, dos cubanos Tomás Gutiérrez Alea e Juan Carlos Tabío; Chocolat, de Lasse Hallström, com Juliette Binoche e Johnny Deep; Merci pour le chocolat, do francês Claude Chabrol, com Isabelle Huppert; e Como agua para chocolate, do mexicano, Alfonso Arau.

Isso sim, lembrar que o nome científico da árvore do cacau é, nada mais nada menos, que theobroma cacau, que em grego significa "alimento dos deuses" e foi acunhado pelo cientista sueco Carlos Linneo, em 1737, sem dúvida como uma referência à mitologia asteca, na qual o deus Quetzalcoatl entregou aos homens o cacaueiro, antes de serem expulsos do Paraíso.

Segundo os cronistas das Índias, o rei Moctezuma consumia uma beberagem líquida espessa, escura e espumosa, que se bebia fria ou quente, chamada "xocolatl", na qual se mesclava a semente do cacau, aromatizada com ervas, baunilha, pimenta e outras especiarias.

Alguns dizem que chegou à Europa levada pelo almirante Cristóvão Colombo e outros por um monge que acompanhava Hernán Cortés, conquistador do México. Com certeza, seu gosto se arraigou rapidamente e se bebia espesso, à maneira espanhola, ou à francesa, com água, batido e espumoso.

Não foi até o século XIX em que se conseguiu degustar o chocolate em forma sólida. O suíço Daniel Peter foi o primeiro que tentou misturá-lo com leite, para torná-lo mais cremoso, mas não conseguiu até se unir com Henry Nestlé, quem teve a ideia de mesclá-lo com leite condensado açucarado. O chocolate como o conhecemos hoje, deve-se à adição de manteiga de cacau por parte de outro suíço, o confeiteiro Rodolphe Lindt.

CASANOVA

O chocolate, esta pasta sublime, tem muitos benefícios. Fala-se que o célebre libertino italiano Giacomo Casanova (1725-1798) tomava chocolate antes de entrar no leito das mulheres conquistadas, a causa da reputação como afrodisíaco sutil.

Registros farmacêuticos do século XVIII revelam seu poder curativo e nas farmácias se ofereciam diversas variedades, como o chocolate purgante e até chocolate antiveneno.

Agora, os viciados em chocolate têm mais uma razão para se alegrarem, já que um recente teste clínico demonstrou que uns poucos bocados de chocolate negro, cada dia, podem ter o mesmo efeito benéfico que uma aspirina, reduzindo a pressão arterial e prevenindo os infartos.

Fachada do Museu do Chocolate.
Foto: Brayan Collazo
Parte dessa história pode ser encontrada, em forma resumida, no Museo do Chocolate, em Havana, fundado na célebre Casa da Cruz Verde, residência dos condes de Lagunilla, que, nessa venta e revenda de propriedades, foi comprada, em 1880, por Maria de Regla Sañudo para seus três filhos: Lizardo, María Teresa e María de las Mercedes Muñoz Sañudo. Esta última se casou com o general do Exército Libertador Enrique Loynaz del Castillo, de cuja união nasceram quatro filhos, um dos quais foi a poetisa Dulce María Loynaz Muñoz (1902-1997), Prêmio Nacional de Literatura e Prêmio Cervantes.

Inspirado no Museu do Chocolate da Praça Real de Bruxelas, cuja diretora, Jo Draps, apoiou sua criação, conta com cartazes nos quais se podem conhecer as variedades que se cultivam em Cuba e as marcas mais famosas que existiram em Havana, como La Estrella, La Dominica, e a primeira fábrica cubana de chocolate, La Índia,de Santiago de Cuba.

Museu do Chocolate, Havana.
Conta com uma coleção de taças de chocolate de porcelana inglesas, alemãs, italianas e francesas dos séculos XIX e XX, com desenhos variados, e também chocolateiras de cerâmica, panelas, cântaros e taças de louça inglesa achadas em escavações e conservadas pelo Museu da Cidade e a repartição de Arqueologia do Gabinete do Historiador.

Diz um provérbio anônimo que “Deus deu asas aos anjos e chocolate aos humanos”, pelo que essa paragem no Museo do Chocolate,durante o percurso pela Havana colonial será, sem dúvida, gostosa demais.

Extraído do sítio Granma

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