28 de agosto de 2012

PATRIMÔNIO HISTÓRICO GREGO CORRE RISCO COM A CRISE, ALERTA ARQUEÓLOGA

Representante do Conselho Internacional de Museus relaciona cortes com queda de segurança das obras de arte na Grécia.

Crise na Grécia obrigará que serviço de preservação da Acrópolis seja realizado com menor efetivo. Wikicommons

Berço da civilização ocidental, da filosofia e da democracia, a cultura grega vive um período difícil devido à crise financeira, que coloca em risco os quase 20 mil sítios arqueológicos e monumentos históricos do país, além de 17 edificações tombadas como patrimônio mundial da UNESCO, como a Acrópolis em Atenas e a cidade medieval de Rhodes.

Sem recursos para financiar escavações arqueológicas, pagar os salários de profissionais e manter os museus, a Grécia vive um momento sem precedentes de escassez de recursos humanos e materiais, admitiu Marlen Mouliou, secretária do Comitê Internacional para Coleções e Atividades dos Museus das Cidades e membro do Conselho Internacional de Museus (ICOM).

“Não há dinheiro para a proteção de museus e patrimônios arqueológicos. O dinheiro chega especialmente de apoio europeu. O que mais a crise financeira afeta é a falta de recursos humanos e financeiros. É sempre um risco quando não temos recursos, pois assim não teremos pessoas suficientes para garantir a segurança”, afirmou Mouliou.

Durante o Encontro Internacional de Museus de Cidade, no Rio de Janeiro, a arqueóloga e museóloga grega falou ao Opera Mundi sobre os desafios de preservar o legado histórico secular no país em meio à política de austeridade que tem gerado cortes profundos nos orçamentos da Cultura.

Novo Ministério

Marlen Mouliou (foto ao lado), que leciona Museologia nas Universidades Nacional e de Capodistria de Atenas, afirma estar descrente quanto aos investimentos do governo na área da cultura nos próximos anos. Em junho, o então Ministério da Cultura e do Turismo foi desmantelado e fundiu-se a outras duas pastas, tornando-se o Ministério Helênico da Educação e Assuntos Religiosos, da Cultura e Esportes.

“Os recursos destinados sempre representaram menos de 1% do PIB. Agora, que nos juntamos ao ministério da Educação, serão ainda menores os recursos”, lamenta a pesquisadora.

Mouliou acrescentou ainda que, desde o ano passado, muitos profissionais de museus e de sítios arqueológicos foram dispensados ou tiveram sua aposentadoria antecipada de forma compulsória.

Cortes

Em junho, o sinal vermelho sobre a situação foi dado pela Associação de Arqueólogos Gregos, a qual faz parte Marlen Mouliou. Segundo a associação, dois mil funcionários do Ministério da Cultura foram demitidos e os arqueólogos que trabalham para o Estado sofreram cortes salariais de 10% a 40%.

A falta de pessoal obrigou os 216 museus espalhados pelo país a fecharem as portas para visitantes mais cedo. A segurança dos locais também foi afetada, segundo a especialista.

“Trabalhamos sob pressão. Temos que fazer o nosso trabalho em tempos ainda mais curtos. Tivemos que reduzir e apressar os trabalhos de escavações em obras de desenvolvimento do país, iniciados antes mesmo da crise. É uma luta, pois a sociedade precisa do desenvolvimento e a arqueologia tem suas metodologias e princípios que demandam tempo”, argumenta.

Questionada se os tesouros e os monumentos gregos estão em perigo, Mouliou rejeita esta possibilidade ainda que seja insuficiente o pessoal para fazer a segurança dos museus.

“As pessoas que trabalham com patrimônio cultural são muito dedicadas. Precisamos de recursos, mas também de administrar o que temos de forma sustentável. Precisamos fazer mudanças para manter uma boa gestão. Há realmente carência de recursos humanos, mas trabalha-se com muita paixão, o que certamente é algo importante”, ponderou.

População grega protesta nas ruas do país contra o corte de gastos realizado pelo governo para conter a crise econômica (03/07/2011). Wikicommons
Segundo a arqueóloga grega, os museus sempre foram locais seguros, mas adverte que o risco existe em sítios históricos mais afastados das cidades. “Especialmente em igrejas e mosteiros que estão isolados e abrigam um patrimônio cultural importante. São locais situados em áreas mais distantes e com menos população e onde precisamos de mais pessoas para salvaguardar”, ressaltou.

Alternativas

Para melhor preservar o legado milenar da cultura grega, Mouliou defende uma gestão mais responsável e a criação de redes entre museus domésticos e internacionais.

Uma outra forma de resguardar os monumentos é uma ajuda de financiamento por parte da União Europeia, que destina levas de recursos para projetos de preservação e conservação. O último pacote de ajuda ao patrimônio foi em 2011 e, segundo Mouliou, deve representar algo próximo a 200 milhões de euros em três anos.

As doações internacionais podem ser uma alternativa para sobreviver ao abalo econômico na Grécia, aponta a representante do Conselho Internacional de Museus. Ela afirma que o apoio internacional é bem-vindo, mas há “que se respeitar termos e condições, pois as antiguidades são de propriedade do Estado e vão continuar sendo. Isso não será negociado”, enfatizou.

Extraído do sítio Opera Mundi

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Os comentários serão moderados. Não serão mais publicados os de anônimos.