25 de setembro de 2012

A HELOÍSA DE ROUSSEAU - Luis Olímpio Ferraz Melo

Ilustração de "Júlia ou A Nova Heloísa" - Imagem em Domínio Público, retirada de Wikimedia.org (blog O Caminhante Solitário)  
Nenhum outro romance provocou tanto furor e inundações de lágrimas nos leitores daquela época como, "A nova Heloísa", de Jean-Jacques Rousseau. Lançado em 1761, "A nova Heloísa", tornou-se o livro mais vendido no século XVIII e projetou Rousseau no cenário literário com esse romance baseado em cartas escritas durante 13 anos, de 1732-45. Rousseau inaugurou um novo estilo de leitura que foi considerado uma revolução na literatura, assim como Montaigne criou um novo gênero literário no século XVI, os Ensaios, Rousseau trouxe o leitor de volta para vivenciar a leitura - Rousseau era obcecado pelo tema "leitura" e em, "Emile", sugeriu que a criança aprendesse a ler tarde: "quando estivesse madura para o aprendizado".

A procura pela "A nova Heloisa" rendeu setenta edições publicadas antes de 1800, mas mesmo assim, os livreiros ainda tinham que alugar livros por dia e até por hora para suprir a demanda da "A nova Heloísa" - em 1880 o livro chegou a 100ª edição. No primeiro prefácio de "A nova Heloisa", Rousseau diz: "Teatros são necessários para as grandes cidades e os romances para os povos corruptos". À primeira vista, foi uma contradição, porém, Rousseau tentou explicar, sem sucesso, nos outros prefácios: "Este romance não é um romance", pois dizia que era uma coleção de cartas entre dois amantes que viviam numa cidadezinha ao sopé dos Alpes e que ele seria apenas o editor. Naquela época, era comum os romances surgirem de forma anônima devido ao puritanismo e ao regime e Rousseau assumiu a autoria de "A nova Heloísa" que foi considerado um texto sentimentalista e pré-romântico. Em suas "Confissões", o brilhante Rousseau reconhece suas falhas morais e tenta explicar o abandono dos seus cinco filhos num orfanato alegando que seriam educados melhores do que se estivessem com ele e a sua esposa, Thérèse Levasseur - afinal, ninguém é perfeito...

Em fevereiro de 1777, Rousseau publicou uma "carta aberta" pedindo socorro financeiro em troca dos direitos autorais de seus manuscritos publicados e inéditos, porém, após a morte de Rousseau, muitos textos anônimos foram lhe atribuído autoria sem que haja prova da autenticidade. Rousseau desejou em, "A nova Heloísa" prestigiar os relacionamentos afetivos verdadeiros dando-lhes corpo e alma...

* Luís Olímpio Ferraz Melo é Psicanalista

Extraído do sítio Diário do Nordeste

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