25 de setembro de 2012

ACAMPAMENTO FARROUPILHA FESTEJA A CULTURA GAÚCHA EM PORTO ALEGRE - Cris Gutkoski

O Parque da Harmonia, onde se realiza o Acampamento Farroupilha, ocupa área de cerca de 30 hectares na orla do Guaíba, na região central de Porto Alegre Francielle
A cada setembro, a vida rústica do campo, com seus galpões de madeira e churrasco ao ar livre, ressurge no centro de Porto Alegre, no meio das toneladas de vidro e concreto armado dos prédios públicos. O Acampamento Farroupilha é um dos principais eventos turísticos do Estado e recebe dezenas de milhares de visitantes por dia no Parque da Harmonia, uma área verde na orla do Guaíba onde 375 grupos de acampados (os chamados piquetes) festejam as tradições gaúchas em atividades como o preparo do chimarrão, o encilhamento dos cavalos, as músicas e danças tradicionalistas.

Visitante vestida de prenda circula no Acampamento Farroupilha, uma festa que celebra as tradições gaúchas em Porto Alegre Cris Gutkoski/UOL
A entrada é franca, os portões ficam abertos da manhã à noite, até o dia 20 de setembro. Na pequena cidade montada dentro da capital gaúcha, circulam os moradores dos galpões (desmontados ao final do evento) e as visitas. Cada galpão abriga um piquete, um grupo de amigos, parentes ou colegas de trabalho, que recebe os turistas com chimarrão grátis e atividades programadas durante o dia, em horários específicos. Pode ser uma oficina de culinária campeira, uma palestra sobre flora e fauna locais ou dicas sobre como jogar o truco.

Alguns piquetes têm nomes curiosos: Xiru do Coice, Tropeiros da Lua, Mal Domado, Cuiudos Caborteiros, Bugio Roncador, Os Pá Nelas, Potro Sem Dono, Mangaço, Potro Xucro. À noite, a movimentação aumenta com os bailes no Centro de Eventos e os espetáculos com gaiteiros e dançarinos no palco principal. Como nas milongas de tango em Buenos Aires, os novatos não precisam sair dançando os passos certos do vanerão, do fandango, do xote. Ficar assistindo já tem a sua graça.

A oferta gastronômica é vasta, com bares e restaurantes da praça de alimentação funcionando das 7h à meia-noite. Estão lá os tradicionais churrasco e arroz-de-carreteiro e também especialidades como a carne de costela assada ao longo de 12 horas. O café da manhã campeiro, servido numa padaria, inclui lingüiça, pernil, filé de frango, omelete, suco de uva, bolos e tortas ao final. Um lanche dos mais populares é o Entrevero, com pão de hambúrger e pedaços de cinco ou seis tipos de carne dentro, mais tomate e cebola.

No linguajar regional, “entrevero” significa confusão, choque de forças. O sanduíche Entrevero já tem variações pelo país: nas festas da zona rural em São Paulo, por exemplo, ele ganha queijo. Em Lages, em Santa Catarina, acrescenta-se pinhão e pimentão.

Com este nome, o Acampamento Farroupilha existe na mesma área de Porto Alegre desde 1987, mas a história dos acampados com trajes típicos (botas, bombachas, chapéu e lenço vermelho no pescoço para os homens, vestidos longos de prenda para as mulheres) é anterior. A mobilização antecipa as comemorações da Revolução Farroupilha, cuja data oficial é 20 de setembro. O conflito durou 10 anos, de 1835 a 1845, e foi o mais longo do Brasil Imperial. Neste ano, o desfile temático da Semana Farroupilha, na avenida Beira-Rio, ao lado do Acampamento, acontece na noite de quarta-feira, 19 de setembro. São nove carros alegóricos e cerca de 1,5 mil participantes, boa parte deles desfilando com cavalos.

A cavalgada de abertura do Acampamento Farroupilha na edição de 2012, em 7 de setembro
Em anos recentes, os cavalos circulavam livremente pelas ruas de terra (ou lama, na chuva) do Parque da Harmonia. Mas tiveram a sua presença reduzida, por questões de segurança e higiene. Símbolo da cultura gaúcha e elemento associado à liberdade da vida no campo, o cavalo agora pode ser visto nas áreas especiais do Rodeio Crioulo e da Fazendinha, ou em piquetes como o Querência do Peão, que oferece aos visitantes uma oficina de encilhamento do animal.

Encilhar é “vestir” apropriadamente o cavalo antes da montaria, e as roupas e apetrechos são muitos. Antes de tudo, escova-se o pelo do bicho. O primeiro dos panos e couros a ser colocado sobre o lombo é a xerga, um tecido macio, que ajuda a segurar o suor do cavalo. Segue-se a carona, uma manta mais grossa, depois a sela de couro, o travessão para prender a sela e a cincha, que passa por baixo da barriga do cavalo. Por fim, o pelego que ajeita as pernas. E os freios na boca, e o laço na mão.

Seres urbanos que não possuem cavalos de estimação podem pelo menos levar de recordação um pelego fofo, de lã de ovelha, comprado nas lojas de artesanato do Acampamento Farroupilha.

Serviço:

Acampamento Farroupilha: Parque da Harmonia, av. José Loureiro da Silva, 255, em Porto Alegre
Tel: (51) 3289-8160

Transmissão pela Internet: Piquete Rodrigo Cambará

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