24 de setembro de 2012

ÁFRICA: OS HOMENS SÁBIOS


Quando os navegantes portugueses chegaram às praias da África no século XV, os povos desse continente ao sul do deserto do Saara tinham acumulado vastos conhecimentos que se manifestavam nas esferas econômicas e sociais.

Os europeus procedentes de uma sociedade com maior evolução econômica e social subestimaram a cultura dos nativos, cuja sabedoria provinha de experiências práticas transmitidas através de sucessivas gerações.

A descoberta e o trabalho do ferro remontavam a uma época relativamente longínqua, de acordo com a versão tradicional. O domínio desse metal foi essencial para o desenvolvimento econômico e a alimentação nas comunidades.

Os grupos étnicos que habitavam a África Central conheciam o ferro e fabricavam instrumentos destinados à agricultura, o que influiu no incremento das produções. Para essas etnias cuja atividade fundamental era a agrícola, esse fato teve um significado notável.

Segundo investigações, a entrada de Moçambique na história da África Sul-oriental situa-se com a utilização do ferro e a diversificação dos cultivos, na etapa em que apareceram as tribos bantus.

Os bantus eram originários da África Central e estabeleceram-se nos Camarões, no ocidente continental. Deste país realizaram diversas migrações para regiões do leste, oeste e sul chegando a Moçambique pelo norte.

No momento em que Moçambique estabeleceu relações comerciais com a Ásia Menor, Índia e o Longínquo Oriente por meio do oceano Índico, já possuía instrumentos de ferro produzidos pelos bantus.

Os ferreiros forjavam lanças de diversas formas utilizadas na caça maior ou de qualquer tipo, para enfeitar o cetro dos Kani (chefes), com vistas à cerimônia de casal, outras que só se utilizavam durante a batalha entre etnias inimigas, machados, braceletes e instrumentos musicais.

Os ofícios exercidos pelos alferes, tecelões e outros se generalizaram em todos os conglomerados étnicos. Nas artes foram notáveis as talhas de madeira, nas quais as figuras atingiam um realismo excepcional, além da confecção de aditamentos que serviam de enfeite às mulheres e diferentes peças.

A saúde 

Um papel importante correspondia aos nganga (mestres), que se ocupavam da proteção e da promoção da saúde de toda a sociedade, a quem a historiografia ocidental qualificava-os de feiticeiros, charlatães ou contistas.

Não eram magos, mas pessoas que demonstravam grandes conhecimentos nos campos da anatomia, botânica (plantas medicinais), geografia, história tribal e psicologia social; também não eram indivíduos com poderes sagrados.

Sua habilidade exercia-se no geral no campo sanitário. A experiência da condição humana era ampla e em todos os membros da etnia existia confiança nos diagnósticos desta sorte de galenos.

Um estava especializado na cura de luxações, sobretudo prática. O tratamento baseava-se em romper a pata de um frango; a volta da marcha normal deste entranhava necessariamente a restauração do doente. Nesse intervalo recebia massagens e imobilização das partes fraturadas.

Outro praticava a sangria, fosse para descongestionar (acabar com a acumulação mórbida de sangue nos vasos de um órgão), ou aliviar um doente de edema agudo do pulmão, de insuficiência cardíaca, de hipertensão arterial e outras. Para essas práticas utilizava ventosas de corno.

O mestre que curava toda classe de doenças era uma espécie de médico geral. Eram especializados na preparação de uma água particular destinada a banhar gêmeos, considerados seres extraordinários.

Para todos os assuntos se consultava o mestre: viagens, caça, pesca, casal, esterilidade, fecundidade, causa de doenças, de morte. Existia outra variedade de mestres como os que preparavam bebidas com o objetivo de tornar aptas para a reprodução às mulheres estéreis.

Também estava o mestre destacado pela sabedoria; era um filósofo, isto é, um homem que conhecia tudo quanto se acreditava saber, bem entendido nos limites de sua cultura. Passava horas e horas meditando num lugar retirado e tranquilo, propício para a reflexão.

A presença dos portugueses alterou a vida nas comunidades. Ao comércio com as populações costeiras, seguiu a conquista e quase de imediato a exploração. Os lusos iniciaram o comércio de escravos.

Milhares de homens e mulheres, fundamentalmente da África Ocidental, foram enviados para a América e o Caribe para trabalhar em regime de escravatura nas plantações agrícolas e minas.

No entanto, em solo africano as barbáries escravista e colonialista não puderam eliminar as tradições e cultura da população. Menos ainda os ensinamentos de homens sábios transmitidos de geração em geração.

Extraído do sítio Agência Prensa Latina

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