9 de setembro de 2012

JORGE... SEMPRE AMADO? - Rodrigo de Freitas Costa


A comemoração do centenário de nascimento de Jorge Amado é um evento que não passa despercebido. Lançamentos de livros, adaptação televisiva de um de seus romances, além de reportagens diversas vêm chamando a atenção de todos os brasileiros. É certo que isso cria um clima de louvor, o que não pode ser desprezado, principalmente quando se trata de uma obra vasta e que conquistou amplo público. No entanto, há que se perguntar: Jorge Amado sempre foi tão bem visto por todos os seus leitores?

É difícil falar em unanimidade quando se menciona a recepção de qualquer obra artística. Essa situação se torna ainda mais complexa quando tratamos de um homem que viveu quase noventa anos e que escreveu diversos livros. No caso da crítica literária, Jorge Amado foi muito discutido. Intelectuais como Alfredo Bosi e Walnice Nogueira Galvão, em textos da década de 1970, criticaram a escrita do baiano que hoje é aclamado como um dos grandes de nossa literatura. O que muda de um tempo para outro? Por que, em um passado recente, Amado não era muito bem visto nos meios intelectuais, mas hoje é bastante valorizado?

Empreendimentos editoriais, como o da Companhia das Letras, que têm trazido aos leitores caprichosas edições dos livros de Jorge Amado, assim como os projetos desenvolvidos pela TV Globo, contribuem bastante para uma maior divulgação e discussão do autor. No entanto, não acreditamos que esses sejam os únicos responsáveis pelas alterações da recepção da obra.

Cada época, ao recuperar elementos do passado, retira dele temas que julga significativos. Esse é um dos aspectos que pode nos levar a perceber que a leitura de Jorge Amado na atualidade está sustentada por preocupações diferentes das dos anos de 1970, por exemplo. Os temas que hoje são explorados na obra do autor, assim como a sua capacidade de diálogo com a atualidade, estão próximos de uma específica perspectiva de sociedade.

Assim, o que pode ser ressaltado é a possibilidade de contato com um escritor significativo de nossa literatura, um autor que não deve ser somente glorificado, mas discutido e analisado como um sujeito social que fez de seu ofício uma forma de dialogar com seu tempo e sociedade. Cabe a nós, hoje, tomar os variados escritos desse intelectual como a possibilidade de pensar sobre nós mesmos. Dessa forma, o escritor baiano será sempre atual e escapará das amarras que a glorificação impõe a qualquer grande mestre e, sem dúvidas, ele é um dos grandes.

* Rodrigo de Freitas Costa é doutor em História pela UFU, integrante do Núcleo de Estudos em História Social da Arte e da Cultura (Nehac) e professor do curso de História da UFTM (Uberaba-MG). E-mail: rfreitascosta@hotmail.com

Extraído do sítio Correio de Uberlândia

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