26 de setembro de 2012

O PARTIDO COMUNISTA NOS LIVROS DE JORGE AMADO - Carlos Pompe


Em 10 de agosto foi celebrado o nascimento de Jorge Amado, um dos mais conhecidos e lidos escritores brasileiros, de aberta militância política e que foi eleito deputado constituinte, em 1945, pelo Partido Comunista do Brasil, que então adotava a sigla PCB. Em parte de sua literatura, o escritor baiano apresentou personagens, reais ou fictícios, vinculados ao Partido, lutadores por um Brasil avançado, socialista.

Num de seus livros mais conhecidos, Capitães de Areia, que iniciou em março de 1937, trata de um grupo de crianças pobres ou abandonadas que vivem nas praias, brincando, praticando pequenos furtos, malandrando. Ao longo da história, os pequenos capitães vão crescendo, desenvolvendo caminhos próprios. O líder do grupo, Pedro Bala, ingressa numa organização clandestina que o autor não nomeia, mas insinua ser o Partido Comunista. Cita “os jornais de classe, pequenos jornais, dos quais vários não tinham existência legal e se imprimiam em tipografias clandestinas, jornais que circulavam nas fábricas, passados de mão em mão, e que eram lidos à luz de fifós” (pequenos lampiões de querosene), “publicavam sempre notícias sobre um militante proletário, o camarada Pedro Bala, que estava perseguido pela policia de cinco estados como organizador de greves, como dirigente de partidos ilegais, como perigoso inimigo da ordem estabelecida”.

Registra que no Estado Novo getulista, quando “todas as bocas foram impedidas de falar, no ano que foi todo ele uma noite de terror, esses jornais únicas bocas que ainda falavam clamavam pela liberdade de Pedro Bala, líder da sua classe, que se encontrava preso numa colônia. E, no dia em que ele fugiu, em inúmeros lares, na hora pobre do jantar, rostos se iluminaram ao saber da notícia. E, apesar de que fora era o terror, qualquer daqueles lares era um lar que se abriria para Pedro Bala, fugitivo da polícia. Porque a revolução é uma pátria e uma família”.

Um ano depois, indo de ônibus de Estância a Aracaju, Sergipe, prometeu a si escrever sobre a vida de Prestes, depois que o chofer, que havia sido da Coluna Invicta e da Aliança Nacional Libertadora, sugeriu-lhe a empreitada. O Cavaleiro da Esperança – Vida de Luiz Carlos Prestes, escrito em 1942, era um instrumento para servir à causa da anistia do líder da Coluna e de inúmeros outros comunistas e democratas perseguidos, encarcerados, torturados e mortos pela ditadura getulista. Proibido após o golpe militar de 1964, a obra foi novamente editada em 1979, quando o autor considerou que ela cumpriu “o objetivo visado, concorrendo para popularizar e intensificar a campanha pela anistia naquele então apenas iniciada” e afirmou que a sua volta às livrarias servia “ao mesmo objetivo que o inspirou: servir à causa da anistia aos presos (e exilados) políticos, campanha que é novamente a mais urgente e generosa bandeira de nosso povo”.

Os Subterrâneos da Liberdade, trilogia romanesca que se passa durante o Estado Novo e se centra na luta do Partido Comunista, em especial, e demais democratas contra a ditadura, foi escrito em 1954. Antes, em 1951, Amado, em O Mundo da Paz, relatou e opinou favoravelmente sobre o que viu da construção do socialismo na União Soviética e países do Leste Europeu recém-saídos da ocupação nazista.

Após os ataques feitos por Nikita Kruschev a Stalin e à orientação que, sob sua direção, o Partido Comunista adotou à frente da União Soviética, o escritor brasileiro continuou defendendo o socialismo, porém se distanciou da política partidária e nos seus livros deixou de construir personagens com atuação revolucionária partidista. Não mais permitiu reedições de 
O Mundo da Paz, mas manteve os outros livros aqui citados no seu catálogo. A crise na União Soviética e no Leste Europeu, no final do século passado, também o afetaram, mas não o fizeram abandonar a convicção da necessidade de um mundo novo, sem exploradores e explorados, de plena realização do ser humano.

Jorge Amado faleceu em 6 de agosto de 2001. Talvez se possa afirmar, sobre as obras aqui citadas, o que uma pessoa amiga lhe disse sobre o livro O Cavaleiro da Esperança e que ele registrou no prefácio da edição de 1979: “achou-o ingênuo; a classificação não me desgosta. A ingenuidade não representa um mal maior; perigoso é o cinismo que vem se transformando em hábito no pensamento político do país. A condição ingênua destas páginas, escritas quando Hitler ameaçava dominar o mundo e a ditadura do Estado Novo parecia inabalável, nasce de minha obstinada crença no Futuro”.

* Carlos Pompe é Jornalista e curioso do mundo.

Extraído do sítio Portal Vermelho

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