5 de setembro de 2012

SARAMAGO E PILAR REVELADOS EM LIVRO - Diogo Guedes

Livro reúne entrevistas feitas com o casal pelo diretor português Miguel Gonçalves Mendes.

Saramago, Pilar e Miguel nos bastidores da gravação do documentário José e Pilar

Quando fez o documentário José e Pilar, o diretor português Miguel Gonçalves Mendes parecia enfrentar uma questão: como fazer um perfil cinematográfico do amor entre duas figuras – o escritor português José Saramago e a jornalista espanhola Pilar del Río – avessas a todo romantismo? Como contar uma história tão bonita sem cair no risco de transformá-la em apologia, na publicidade do amor romântico que tanto incomoda Pilar?

No livro José e Pilar: conversas inéditas (Companhia das Letras, 224 páginas, R$ 35), o cineasta português reúne as entrevistas feitas com os dois personagens que não entraram no filme. Se a película, apesar da simplicidade narrativa, ia a fundo no tema de que tratava, o volume exclui da equação os momentos valiosos da relação de Saramago e Pilar: o cotidiano e as cenas acidentais.

Ainda assim, são duas figuras com um forte poder de fala. Mais do que uma apresentação de quem são o escritor (se é que um Nobel da Literatura como ele precisaria de alguma apresentação) e a jornalista, ali estão suas opiniões e, em parte, relatos de momentos-chave das suas vidas, representados principalmente no início da relação entre os dois. Assim, o jogo de Miguel é duplo: ver Pilar e Saramago por suas próprias visões e pela visão que um tem do outro.

O livro termina sendo quase burocrático: traz um conteúdo importante, mas que, nesse formato, interessa apenas a quem quer se aprofundar no casal. Mas há ao menos um caso belíssimo do poder das palavras do escritor sobre as pessoas. É Pilar quem conta, falando sobre a preocupação de todos com a velhice de Saramago. “Como outro dia, uma moça de Lisboa que dizia (...) que queria ir com um frasco recolhendo o tempo, que cada pessoa lhe desse o que pudesse, um lhe desse uma hora ou lhe desse dez minutos (...), e depois o tempo reunido ela daria a Saramago, porque nos faz muita falta...”. E ninguém negaria que ele faz falta sim.

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