15 de setembro de 2012

SEM CARTÃO DE MEMÓRIA - Mauro de Bias

Museu de Games planejado para o Brasil esbarra na falta de espaço físico para instalar seu material. Organização que juntou o acervo diz que seria o maior do gênero no mundo se tivesse apoio e investimento para ser colocado em prática.

Pac-Man foi sucesso mundial e permanece como um dos jogos mais clássicos da História
A acelerada transformação da ciência e tecnologia num mundo cada vez mais globalizado pode fazer com que, hoje, uma pessoa acostumada à vida conectada e virtualizada jure que um gadget fabricado nos anos 80 é um achado quase arqueológico. Mesmo diante das constantes mudanças ao longo das últimas décadas, alguns usuários brasileiros desses equipamentos acharam por bem preservá-los, em vez de jogá-los fora no momento em que se tornaram ultrapassados. Doados a uma associação, este conjunto de peças de colecionadores nacionais chega a mais de 200 consoles e 4 mil jogos e pode, inclusive, virar museu. O problema é que, por hora, ainda não há um espaço físico com interesse de receber o acervo: o museu permanece no plano das ideias.

A Associação Comercial, Industrial e Cultural de Games (Acigames) foi quem recebeu de colecionadores diversos equipamentos para compor o acervo – é de autoria deles o projeto que busca colocar tudo isso em prática. Moacyr Alves, presidente da organização, afirma que o museu seria o maior do gênero no mundo e lamenta o fracasso das negociações, que paralisou o projeto. “Estudamos dois lugares em São Paulo. Primeiro o Museu da Casa Brasileira, que fica muito bem localizado, mas não nos aceitaram. Depois tentamos o Museu da Imagem e do Som (MIS), mas eles também não se mostraram interessados”, disse. De acordo com ele, o museu receberia visitantes para jogar nos videogames antigos (jogos como Pac-Man, Enduro, Asteroids, Super Mario Bros) além de assistir à exposição do material que contasse um pouco da história do videogame.

Memória dos jogos

André Pereira Leme Lopes, professor de História da Universidade de Brasília, reconhece a relevância da iniciativa de preservar a memória dos jogos. “É importante observar que são produtos culturais e, portanto, dignos de serem preservados. Eles estão plenamente inseridos em nossa cultura de massa e há muito ultrapassaram o domínio dos jogos para se incorporarem à vida cotidiana”, afirma o pesquisador. “Além disso, já há um intenso tráfego de mão dupla entre os jogos e outras formas de arte, com interessantes expressões surgindo a partir dessa interação. Os videogames viveram uma era de ouro no final da década de 1970 e início da de 1980, com os arcades e os consoles caseiros, especialmente oAtari 2600. É a época dos jogos clássicos, como Space Invaders, Pac-Man e Pong”, conta Leme Lopes, que explica ainda que a crise vivida pelo setor nos anos seguintes se deveu a um excesso de títulos no mercado. Nessa fase, surgiram jogos mais ligados à inteligência do que à ação. “É quando acontece a difusão dos jogos de aventura, dos RPGs e jogos de estratégia”, relata.

Enduro foi o primórdio dos jogos de corrida
Leme Lopes chama atenção para o game Doom por ter sido um dos mais inovadores e influentes da história. “Foi a popularização de um novo gênero, o de tiro em primeira pessoa, o retorno dos jogos de ação”, lembra. “De lá para cá, houve um grande aumento na capacidade do hardware, o que levou a jogos cada vez mais complexos e caros. Hoje um jogo custa mais do que um filme para ser produzido”, enfatiza o professor.

Enquanto não se encontra um espaço para instalar o acervo do museu, a memória dos games no Brasil permanece apenas no imaginário dos jogadores de outrora.

Extraído do sítio Revista de História

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