2 de setembro de 2012

SUÍÇA DEFENDE UMA ARQUITETURA MAIS HUMANA EM VENEZA - Guilherme Aquino

A Suíça na Bienal de Veneza (swissinfo)

A 13ª Bienal de Arquitetura de Veneza entra em cartaz trazendo um balanço geral das construções, desta vez sob a ótica do tema “Terreno Comum”. Neste ano ela foi idealizada por um curador inglês, o arquiteto David Chipperfield.

O pavilhão nacional da Suíça apresenta a exposição “E agora juntos”. Ela foi elaborada pelo arquiteto Miroslav Šik, de origem checa e professor da Politécnica de Zurique (ETH).

Tanto o tema central quanto a proposta suíça criticam a arquitetura individualista e defendem o diálogo entre as partes envolvidas, ou seja, entre os arquitetos e os habitantes de uma cidade, respeitando o contexto histórico na elaboração dos projetos, mas sem deixar de agregar valor e incrementar a qualidade de vida.

O grande desafio é a dissimulação da arquitetura dentro do tecido urbano. Miroslav Šik aproveita a oportunidade para revisitar o seu projeto Arquitetura Análoga de 1986-87, segundo o qual a arquitetura do cotidiano deveria ser uma arte popular ao invés de elitista. Para ele, a arquitetura participativa deve ser promovida e a isolada deve ser demolida. “Nos últimos 20 anos tivemos o crescimento de arquiteturas esculturais, lembro a de Bilbao, lindas formas, mas elas pecam pela falta de diálogo com o entorno. Eles saem nas revistas, mas não se integram com os arredores. A nova geração cresceu neste mundo. Não vai ser fácil para eles. Eu sou arquiteto e professor. Parece que tudo já foi feito. Eu espero que eles lutem para não repetir esse modelo”, disse o professor à swissinfo.ch

Terra Comum é o tema da 13a Bienal de Veneza (swissinfo)
Tradição e inovação

Miroslav Šik segue os passos de seu mestre, o arquiteto italiano Aldo Rossi, de quem foi aluno na Politécnica de Zurique, onde hoje é professor. Ele usa a mesma técnica de “colagem” do antigo professor para ilustrar “E agora juntos”, nas instalações do pavilhão suíço. O curador transformou as paredes em gigantescos murais com fotografias de construções realizadas nos últimos quinze anos no país.

Diferentes obras “dialogam” entre si e revelam as forças de tensão que as mantém fiéis a um estilo arquitetônico que adapta o passado às exigências do presente. Elas foram projetadas em cidades diferentes mas têm harmonia graças à presença de conceitos semelhantes como a sintonia com a paisagem dos arredores ou a adaptação ao que já existia antes, além de uma grande atenção ao volume entre as construções. “Eu digo sempre que cada prédio tem que se relacionar com a sua vizinhança. É um problema de querer que isso ocorra. Use a cor, o volume, enfim, temos muitos instrumentos para realizar este desejo”, explica Miroslav Šik à swissinfo.ch.

As construções escolhidas foram concebidas por duas duplas de arquitetos. Axel Fickert e Kaschka Knapkiewicz, de Zurique, trazem o conjunto residencial Klee. Quintus Miller e Paola Marana, de Basileia, apresentam suas ideias em prédios residenciais e de escritórios e hotéis históricos. As obras revelam como é possível interagir e integrar a memória urbana coletiva de uma cidade com a recuperação de áreas e construções abandonadas. A receita parece simples: fidelidade ao passado e inovação, mas não é. “Não é uma questão simples, a produção de algo novo. A história deve ser melhor ensinada e estudada. Hoje, só a consciência do que existia ontem não é suficiente” diz à swissinfo.ch Kaschka Knapkiewicz.

Miroslav Šik, professor na ETH, organizou a exposição no Pavilhão da Suíça (swissinfo)
Vários espaços

A presença da Suíça nesta Bienal não se restringe à exposição no pavilhão nacional. Ela se espalha por Veneza como as águas dos canais. Nos galpões do Arsenale estão nomes de conhecidos da arquitetura suíça. Eles foram convidados pelo curador da Bienal, David Chipperfield.

Junto com arquitetos de outros países, os suíços apresentam projetos afins mesmo tendo sido elaborados para realidades bem diferentes. “Queremos realçar o território comum compartilhado pela profissão, mesmo diante de uma aparente diversidade na produção arquitetônica”, afirma David Chipperfield. Entre os participantes estão nomes conhecidos como Mario Bota, Valerio Olgiati, Herzog&De Meuron.

Os suíços também foram convidados para a mostra paralela Traces of Centuries & Future Steps, preparada pela organização não governamental GlobalArtAffairs Foudantion, com sede na Holanda. Os arquitetos e escritórios da Suíça Men Duri Arquint, Barbara Holzer & Tristan Kobler; Graeme Mann & Patricia Capua Mann + Ueli Brauen & Doris Wälchli, Luca Selva fazem parte de um grupo pouco conhecido de 60 arquitetos, de 26 países.

Todos os trabalhos estão expostos no “palazzo” Bembo, a poucos passos da praça San Marco. Em comum eles possuem a capacidade de salientar pontos de vista originais, de trabalhar fora de suas fronteiras culturas diferentes.

Em outro “palazzo”, Trevisan degli Ulivi, é local de debates das questões teóricas que permeiam a profissão, dando vida ao Salon Suisse, criado pelo curador inglês Robert Guy Wilson, designado pela Pro Helvetia. Há uma longa lista de convidados como Miroslav Šik, Adam Caruso, Quintus Miller para debater o “toque suíço” na arquitetura A ideia é promover o diálogo entre o público e os arquitetos.

Tudo isso, tendo em comum a ideia de preservar a identidade local e experimentar novas técnicas, materiais e modelos de vanguarda.

Extraído do sítio Swissinfo.ch

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