16 de outubro de 2012

ÁSIA NO MAPA DE PEIXOTO - Pedro Galinha

Macau e a Coreia do Norte são o mote dos mais recentes trabalhos de José Luís Peixoto e marcam uma incursão pela literatura de viagens. A garantia foi dada ontem pelo escritor português, que esteve à conversa na Livraria Portuguesa.


Macau volta a estar no mapa das publicações portuguesas, agora pela mão do escritor José Luís Peixoto e das ilustrações do cartoonista André Carrilho. A dupla conheceu-se na primeira edição do festival literário “Rota das Letras”, que teve lugar em Macau no início deste ano, e vai assinar um trabalho sobre o território na revista Volta ao Mundo.

“O texto, na medida do possível, pode transportar as pessoas para uma realidade [Macau], dando-lhes um pouco dos detalhes que dão realidade à realidade”, explica José Luís Peixoto, que esteve ontem na Livraria Portuguesa.

Apesar de não saber a data em que o trabalho será publicado, o autor de “Livro” e “Abraço” fez questão de revelar os poucos pormenores que podem ser avançados: “Porque é importante para os portugueses que estão cá saberem que em Portugal há quem pense neles”.

A registo de literatura de viagens tem sido explorado pelo escritor alentejano nos últimos tempos. “É um desafio crescente, que nasceu das colaborações com a revista de viagens e que agora se desenvolveu num livro, que é um projecto mais de fundo”, conta José Luís Peixoto, antes de colocar no centro da conversa o mais recente livro que irá publicar em Portugal, no dia 16 de Novembro: “Dentro do Segredo – Uma Viagem na Coreia do Norte”.

A nova obra do autor de Galveias – em fase de conclusão – é o resultado de uma viagem de duas semanas no país do “Grande Líder” Kim Il-sung, em Abril deste ano. No entanto, a ideia começou a ser idealizada em 2011, mais precisamente em Los Angeles. Na altura, José Luís Peixoto conheceu uma descendente de norte-coreanos, num bar chamado Koreatown. O encontro aumentou a curiosidade pelo país, que o escritor classifica com uma “ficção”.

“A fronteira entre aquilo que sabemos e aquilo que especulamos é, às vezes, um pouco dúbia. Depois, existem uma série de ficções. Existe a ficção que o próprio estado da Coreia do Norte cria sobre si próprio, existe aquilo que se imagina e depois a situação e os detalhes extremos daquele país”, enumera o autor.

Pôr em marcha um projecto desta dimensão revelou prontamente dois obstáculos. Primeiro, o facto da Coreia do Norte ser “um país fechado, que recusa o olhar dos estrangeiros”. Depois, os próprios custos da viagem.

“Sabia que seria muito difícil a vários níveis, mas queria escrever sobre isso”, conta o escritor, que teve de provar às autoridades norte-coreanas que não era jornalista, apesar de colaborar em várias publicações portuguesas, e de assinar um documento em que declarava que não iria escrever sobre o país.

“Para mim, esse papel não faz sentido. Não consigo comprometer-me em não escrever sobre o que quer que seja”, revela José Luís Peixoto.

“Dentro do Segredo – Uma Viagem na Coreia do Norte” nasce, assim, de uma “obrigação de escrever” e de “reflectir sobre o mundo”. Não se quer assumir como uma obra documental ou um retrato fiel, até porque há lugar para divagações.

“Mas quando especulo, deixo bem claro que são suposições daquilo que vi”, comenta o escritor, que foi vigiado diariamente por dois guias.

Sem medo

Fica claro que José Luís Peixoto quebrou a promessa de não escrever sobre a Coreia do Norte. Ainda assim, este pormenor não inquieta o escritor: “É um país com tantos problemas internos que não tem de se preocupar com o meu modesto livro. Em nenhum momento é agressivo”, garante.

Peixoto diz mesmo que se trata de um “olhar benévolo sobre o povo” norte-coreano. Gente que ainda teme o estrangeiro, especialmente nas zonas que ultrapassam os limites da capital Pyongyan.

“Aí, a reacção das pessoas era completamente diferente. Muitas vezes, fugiam e ficavam impressionadas”, narra o escritor.

A viagem de José Luís Peixoto coincidiu com o 100º aniversário de Kim Il-sung. A data é comemorada a 15 de Abril, com honras de feriado nacional e manifestações de afecto para com o “pai” da nação norte-coreana. “Há um culto da personalidade” e uma “fé cega” para com o “Grande Líder”, descreve Peixoto, que espera ver o novo livro traduzido para outras línguas e publicado fora de Portugal.

Extraído do sítio Ponto Final

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