16 de outubro de 2012

ESPANHA PLANEJA TER MAIS 1 MILHÃO DE CICLISTAS ATÉ 2020 - Naira Hofmeister


Madri - Ao contrário de muitas cidades europeias como Berlim ou Amsterdam, em Madri, capital da Espanha, ainda é raro ver um trabalhador utilizando a bicicleta como meio de transporte diário. Por enquanto é realmente durante os finais de semana que a população tira a “magrela” de casa para passear por parques e pelas ciclovias que a prefeitura vem construindo para incentivar o uso desse veículo.

“Seria importante que Madri fosse um exemplo para a Espanha, mas concretamente é uma das piores cidades para ciclistas em todo o país”, admite Manuel Martín Fernández, diretor técnico da ConBici, federação que reúne 54 associações e coletivos em defesa do transporte em duas rodas e sem motor.

Em compensação, cidades como Barcelona, Sevilha e São Sebastião possuem políticas exemplares de indução ao uso deste modal. Na capital da Catalunha, por exemplo, a prefeitura disponibiliza aos cidadãos 400 estações onde há bicicletas para alugar e complementar os trajetos feitos em transporte coletivo ou em carro.

“A implantação do serviço em 2007, supôs um incremento exponencial do uso da bicicleta, chegando a um máximo de 100.840 deslocamentos internos diários em apenas um ano, quatro vezes mais do que em 2000”, apresenta a página web do município.

Sevilha tem um sistema semelhante e São Sebastião implementou inclusive um Observatório da Bicicleta cuja função é acompanhar o desenvolvimento do Plano Diretor da Bicicleta, consultar usuários sobre a qualidade dos serviços públicos oferecidos e receber sugestões de melhorias na infraestrutura existente.

“Vitória, Zaragoza, Córdoba e Valência também implementaram bons sistemas de ciclovias, embora em nem todos os casos tenha sido resultado da atuação de suas autoridades. A demanda da rua está muito adiante do que fazem as prefeituras, mas progressivamente elas vão se unindo”, assinala Fernández.

A Direção Geral de Trânsito (DGT) sabe da importância de aumentar o uso desse modal de deslocamento no país. “Estimular esse uso significa menos poluição, cidadãos mais saudáveis e trânsito menos violento”, admite a porta-voz da DGT, Nuria de Andrés.

Por isso, propõe que, até 2020, pelo menos 1 milhão de novos ciclistas sejam incorporados aos atuais 2 milhões de espanhóis que circulam rotineiramente sobre duas rodas e sem motor – e sem que se incremente a taxa de mortalidade, conforme aponta o Plano Estratégico de Segurança Viária 2011-2020.

Esse é um ponto chave na política de segurança no trânsito espanhola, já que os índices de mortes de ciclistas são bem mais baixos do que os de outros países. Atualmente a porcentagem de ciclistas entre mortos e feridos graves totais é de 3%, e a redução do índice de falecimentos desse tipo de condutor foi de 28,2% entre 2003 e 2009 – quando 54 pessoas morreram na Espanha montando uma magrela.

“A bicicleta não é tão perigosa quanto parece. Ao contrário, é um dos meios mais seguros que há. Quando o motorista vê um ciclista, tira o pé do acelerador”, comenta Fernández.

Dificuldade para padronizar o uso

O grande problema para tornar mais homogêneo o uso desse meio de transporte na Espanha é que sua regulamentação depende da atuação de prefeituras. “São os municípios que organizam a circulação urbana. O que estamos fazendo é convidá-los a que repensem seus modais e deem mais prioridade aos pedestres, ciclistas e usuários de transporte público”, observa a porta-voz da DGT, Nuria de Andrés.

Mas a crítica do diretor técnico da ComBici, Manuel Martín Fernández é que inclusive nas poucas ações que dependem exclusivamente da DGT há atrasos. A Lei de Trânsito nacional é considerada pelos usuários de bicicleta atrasada em relação às normativas municipais, o que prejudica as prefeituras mais vanguardistas. “Muitos municípios não podem colocar em prática suas leis porque estão em desacordo com a norma federal”, lamenta Fernández.

Embora considere a bicicleta um veículo de locomoção, esse documento não a diferencia dos demais por suas características especiais. Com isso, as normas que proíbem estacionar na calçada ou circular em áreas exclusivas para pedestres acabam valendo também para as magrelas.

Razão pela qual a DGT está tratando de chegar a um denominador comum com a ComBici e com outros coletivos para dar o impulso necessário para atingir a meta proposta. “Estamos trabalhando para que antes do final do ano tenhamos uma normativa nacional avançada sobre o tema, de maneira que os municípios possam se encorajar a propor esse veículo aos seus cidadãos”, revela Nuria.

Os ciclistas, entretanto, querem ir mais longe. Propõem que as penas para infrações sejam mais brandas para esse coletivo. “Um acidente provocado por um caminhão, um automóvel e até mesmo por uma moto provavelmente serão mais violentos e trarão mais problemas à população”, justifica.

Eles pedem ainda vantagens de circulação “para compensar o incômodo que supõe estar em bicicleta em dias de chuva, ou de calor excessivo”: que possam passar sinais vermelhos de baixa periculosidade e circular em ambos sentidos mesmo em ruas de mão única – com a velocidade dos automóveis limitada a 30 km/h para evitar colisões.

Extraído do sítio Carta Maior

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