28 de outubro de 2012

ROUBOS PODEM AMEAÇAR ACESSIBILIDADE DE OBRAS EM MUSEUS EUROPEUS - Laura Döing


Depois do espetacular roubo de obras de arte em Roterdã, museus europeus estão discutindo os riscos de expor suas coleções. O aumento de gastos com segurança pode encarecer ainda mais o preço das entradas.

"É um pesadelo", disse Emily Ansenk, diretora do museu Kunsthal, em Roterdã, na Holanda, depois do roubo que aconteceu na madrugada de 16 de outubro. Ela ainda não acredita que sete obras de Pablo Picasso, Claude Monet, Henri Matisse, Paul Gauguin, Meyer de Haan e Lucian Freud foram roubadas – todas elas da coleção da Fundação Triton, propriedade do casal holandês Willem e Marijke Cordia, adquirida ao longo de décadas. A identidade dos criminosos permanece desconhecida.

Obras registradas

Um pesadelo pelo qual Ulrich Krempel, diretor do Museu Sprengel, em Hannover, também já passou. Em 2008, ladrões levaram duas pinturas de Picasso que pertenciam ao museu. As obras estavam numa exposição na Suíça, onde foram roubadas.

Krempel manteve a esperança: "Todas as partes envolvidas e os investigadores disseram que podíamos esperar que os quadros voltassem, mas acreditavam que isso não aconteceria logo". Finalmente, depois de três anos, um detetive especializado em arte rastreou as obras na Sérvia. Krempel reencontrou as obras num quarto de hotel em Belgrado, confirmando a autenticidade delas. Mas a identidade dos criminosos continua desconhecida.

"Assim como no caso em Roterdã, houve muita especulação", disse Krempel. Como, por exemplo, suposições de que um bilionário haveria encomendado o crime. "Acho que essas especulações são coisa de ficção, mais comuns em filmes de Hollywood ou em romances policiais do que na realidade."

Kunsthal: sem vigilância noturna, apenas sistema de alarme
A hipótese não parece de todo irreal. Porque é praticamente impossível vender as obras de arte roubadas. Os Picassos de Hannover e os sete quadros de Roterdã estão listados no Art Loss Register, o maior banco de dados de obras de arte roubadas. As obras registradas nele não são comercializadas por nenhum marchand nem expostas em museus e galerias ou vendidas em casas de leilão.

Ainda assim, criminosos continuam roubando grandes obras. O maior roubo de arte da história aconteceu em 1990 no Museu Gardner, em Boston. Dois ladrões apareceram durante a noite no museu e alegaram estar respondendo a uma ligação de emergência. Quando entraram, amarraram o guarda e levaram o equivalente a 230 milhões de euros em obras de arte. As pinturas de Vermeer, Rembrandt, Manet e outros mestres continuam desaparecidas até hoje.

Galeria de arte ou bunker?

O esquema de segurança do museu em Roterdã vem sofrendo severas críticas. Na noite do crime, o Kunsthal estava protegido apenas por um único sistema de alarme. O alarme disparou, mas quando a polícia chegou, alguns minutos depois, os ladrões já haviam fugido.

O mundo da arte está assolado por incertezas, colocando organizadores de exposições numa situação difícil. "Por um lado, queremos que a arte seja acessível para todos, mas tais incidentes estão nos forçando a transformar os museus e galerias de arte em bunkers", disse Roger Diederen, curador da Hypo-Kunsthalle, em Munique.

O custo com segurança é alto e coloca pequenas e grandes instituições no limite de seus orçamentos. O resultado é que os visitantes precisam gastar mais para ver arte. "O público se pergunta por que tem que pagar 10 ou 12 euros para ver uma exposição. Poucas pessoas entendem os altos custos que temos com transporte, seguro e exibição de uma obra de arte. Isso é um enorme problema", explicou Diederen.

Outro problema é que galerias de arte, como a Hypo-Kunsthalle em Munique, têm que contar com o empréstimo de outros museus, pois não dispõem de uma coleção própria. Se roubos como os de Roterdã forçarem os museus a serem ainda mais cautelosos, não haverá mais empréstimos, e as galerias de arte não poderão mais realizar exposições por falta de obras.

Arte como memória visual

"Cabeça de Arlequim", de Pablo Picasso foi roubada em Roterdã
Mas Krempel pretende continuar emprestando obras do acervo do Museu Sprengel. Para ele, a arte deve ser exposta ao público e não ficar apenas nos depósitos dos museus. "A arte é um tipo de memória visual que só funciona se os visitantes têm a possibilidade de olhar e apreciar as obras da melhor maneira possível, ou seja, com a cabeça, com os olhos, com o entendimento – e não através de roubos".

Desde o roubo dos dois Picassos, ele tem olhado com mais cuidado as especificações de segurança nos relatórios que os curadores enviam pedindo empréstimos. E ele ainda acredita na bondade humana. "De um modo geral, a arte também está protegida porque muitas pessoas a consideram, de uma forma maravilhosa, como um bem comum".

Os dois Picassos roubados podem ser vistos novamente no Museu Sprengel, em Hannover. Uma das telas sofreu um pequeno dano em sua moldura.

Extraído do sítio Deutsche Welle 

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