30 de novembro de 2012

POVO DE SUICIDAS - Rui Pereira

É obrigatório inverter a queda da natalidade para assegurar um futuro aos portugueses. 


Foi publicada, há dois anos, uma colectânea de textos de Miguel Unamuno sobre o nosso País, profeticamente intitulada ‘Portugal Povo de Suicidas’. Dos textos, traduzidos e compilados por Rui Caeiro, sobressai a seguinte afirmação do grande pensador espanhol: "Portugal é um povo triste, e é-o até quando sorri. A sua literatura, incluindo a sua literatura cómica e jocosa, é uma literatura triste. Portugal é um povo de suicidas, talvez um povo suicida. A vida não tem para ele sentido transcendente. Desejam talvez viver, sim, mas para quê..."

A afirmação de Unamuno aplica-se, literalmente, ao povo português no seu conjunto, que apresenta hoje uma das taxas de natalidade mais baixas do mundo. A nossa taxa bruta de natalidade (correspondente ao número de crianças que nascem anualmente por cada mil habitantes) foi, em 2011, segundo dados da Pordata, de apenas 9,2 – muito distante do valor de 24,1 que atingíamos em 1960. Em média, cada mulher portuguesa em idade fértil tinha, em 2010, 1,36 filhos, o que compromete a renovação de gerações – que requer a média de 2,1 filhos.

As explicações para esta vertiginosa queda da natalidade não são inteiramente lineares, mas importa reter alguns dados que nos podem ajudar a compreendê-la melhor. Assim, as mulheres portuguesas estão a retardar cada vez mais a natalidade e os nascimentos verificam-se hoje, maioritariamente, entre os 30 e os 34 anos. A leitura parece óbvia: as mulheres esperam pela estabilidade profissional para ter o primeiro filho aos 30 anos – esperam pela sua própria estabilidade e talvez pela estabilidade de maridos e companheiros, sujeitos a trabalhos precários.

Ninguém se pode dar ao luxo de apregoar o neoliberalismo ou outra ideologia qualquer que não enfrente este problema como uma prioridade. Na verdade, a primeira obrigação de uma comunidade é a autopreservação e é obrigatório inverter a queda da natalidade para assegurar um futuro aos portugueses. Todos temos responsabilidades. O CM, por exemplo, celebra e apoia a festa da vida em cada nascimento. Ao Estado cabe prestar um apoio decisivo a jovens casais, no emprego, na habitação e na educação, através de medidas políticas concretas.

Extraído do sítio Correio da Manhã

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