12 de novembro de 2012

RESISTIR EM TEMPOS DIFÍCEIS - Antonio Campos


A Fliporto é mais do que uma festa literária: é um movimento cultural permanente. O portal www.fliporto.net funciona o ano todo e a festa literária é a culminação do trabalho do ano do movimento Fliporto. O portal tem rádio e web tv. Lançamos, em agosto, a Revista Artfliporto, tendo como editor o jornalista Schneider Carpeggiani. É uma revista de cultura e ensaios, quadrimestral, dialogando com a festa. Durante a Fliporto, lançaremos a segunda edição da publicação.

Deixaremos um legado permanente. A Casa do Livro Infantil e da Leitura em Olinda é um exemplo, e demonstra o nosso compromisso social. Um espaço permanente para ações de leitura e de formação de jovens leitores, bem como de valorização do livro e da criação literária para o público infantil e juvenil, localizado no coração da Cidade histórica de Olinda. Haverá um espaço para o Legado Fliporto, uma exposição ‘Pernambuco, Jardim de Baobás’, que é um projeto cultural e ambiental da nossa parte de sustentabilidade ambiental e a semente do nosso braço digital, a E-Porto Party. Sem esquecer que iremos coincidir com o Olinda Arte em Toda Parte, numa comunhão em que ganhamos todos.

A nossa missão é não entregar o mundo nas mãos dos intolerantes. Vivemos um momento de recessão mundial e uma grave ruptura do mundo islâmico com o ocidente. Vivemos em rede, mas muitas vezes sozinhos. A tecnologia é um meio, jamais um fim. É preciso construir pontes entre pessoas, artes, religiões, culturas. Que a Fliporto seja para você o que tem sido para mim: um porto de diálogos.

O teatro, ou a literatura oral, é nossa marca para 2012. Maria Bethânia faz a grande abertura, e nos mostra como a poesia é. Abrirá a Fliporto com o espetáculo Bethânia e as Palavras, interpretando poesias com as quais tem intimidade e que foram importantes para sua vida.

Nosso grande homenageado é Nelson Rodrigues, lembrado por seu centenário. O pernambucano, radicado no Rio de Janeiro, é considerado um dos maiores dramaturgos que o Brasil pode conhecer. Em entrevista concedida ao jornalista Geneton Moraes Neto, o escritor revelou gostar do Recife “pra burro”, onde esteve, pela última vez, em 1929. O seu medo de avião impedia que ele voltasse à sua terra natal. Mas, ainda assim, não se esquecia de valorizá-la, mesmo que de longe. No mesmo relato, Nelson Rodrigues ressaltou o gosto inesquecível de pitanga e caju que teve a sua infância na capital pernambucana. “Só sei que a pitanga ardida ou o caju amargoso foi a minha primeira relação com o universo. Ali eu começava a existir”, disse.

A Festa Literária Internacional de Pernambuco tem estimulado, a cada edição, o encontro entre as várias artes. Parte a parte, segmento a segmento, o diálogo das artes com o literário, e do literário com as artes, se vai ampliando de um jeito tal que podemos dizer que a Fliporto se singulariza entre as festas atualmente realizadas no país por insistir na riqueza da cultura e, sem distinções menores, nas suas raízes ibero-americanas. Assim vem sendo. Assim continua a ser, ano após ano, diálogo a diálogo. E cada vez mais: democrática, aberta e plural.

Antônio Campos, advogado, escritor, editor, membro da Academia Pernambucana de Letras e Curador da Fliporto.

Extraído do sítio Jornal do Brasil

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