1 de novembro de 2012

VALTER HUGO MÃE DIZ QUE JOVENS EM PORTUGAL VIVEM "QUEDA NO ABISMO" - Alfredo Prado

O escritor português participou na Feira do Livro de Porto Alegre e ficou entusiasmado. Em entrevista ao Portugal Digital, Valter Hugo Mãe falou dessa experiência e da realidade, bem menos agradável, que os portugueses estão a viver.


Brasília - "A minha maior surpresa tem a ver com a quantidade de gente que visita a feira; mesmo nas grandes feiras em Portugal não há nenhuma que se compare". A afirmação é do escritor português Valter Hugo Mãe, que esteve esta semana na Feira do Livro de Porto Alegre, no Brasil.

Para o autor de "O filho de mil homens" e de "A máquina de fazer espanhóis", é entusiasmante ver "tanta participação", como aconteceu no encontro com o público da capital gaúcha, que contou com o apoio da Embaixada de Portugal - Instituto Camões. O ano passado, a feira literária de Porto Alegre foi visitada por cerca de 1,7 milhão de pessoas. A edição 2013 não ficará a perder em números.

O escritor português, nascido em 1971 em Angola, é licenciado em Direito e pós-graduado em Literatura Portuguesa Moderna e Contemporânea. Com a obra "O remorso de baltazar serapião" ganhou em 2006 o Prémio José Saramago.

Com quatro dos seus cinco romances já editados no Brasil, Valter Hugo Mãe desenvolve agora uma nova trama, que tem por cenário a fria Islândia, enquanto em fevereiro de 2013 chegará às livrarias brasileiras "Apocalipse dos trabalhadores", editado pela Cosac Naify, uma casa especializada em monografias e catálogos de arte.

A ficção da escrita e a construção das frases não afastam o autor da realidade em que se move. E a crise em Portugal é uma realidade incontornável, mesmo para quem estava mais distanciado. "Alguns autores que não tinham uma visão social, coletiva, começam a acordar", diz o escritor em entrevista por telefone ao Portugal Digital.

A crise econômica, social e política que se vive em Portugal não se faz sentir apenas no plano das consciências. Ela obriga a mudanças no mercado livreiro, à procura de novas formas de vender, de fazer chegar os livros aos leitores. "Os editores procuram experimentar novos modos de fazer chegar os livros aos leitores, de publicar livros mais baratos, de desenvolver novo marketing, de promover a criatividade". "Mas, o mais importante – diz Valter Hugo Mãe - é que alguns escritores tenham levantado a voz, saindo da sua zona de conforto".

A crise está a afetar todos. Os jovens, no entanto, estão particularmente vulneráveis. "Há mais que um vazio. Há um desamparo total, uma queda no abismo". "Os jovens licenciados estão automaticamente desenganados (...) a juventude portuguesa tem os olhos no estrangeiro". Esse é o caminho?, pergunta o jornalista. "Não, não é", responde. "Essa é uma aberração do governo, da União Europeia, também corresponsável por esta situação", diz.

O escritor bate com força. "A população portuguesa volta a ser empregada das grandes nações (...), hoje temos uma emigração ainda mais perversa daquela que tivemos noutras épocas; esta é uma emigração de gente que saiu muito cara ao país!".

No sábado, Valter Hugo Mãe regressa a Portugal. Antes de voltar ao outro lado do Atlântico, o escritor, um dos quatro selecionados para a etapa final do prêmio de literatura Portugal Telecom, voltará a estar com os seus leitores, desta vez em São Paulo.

Extraído do sítio Portugal Digital

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