4 de dezembro de 2012

"SERIA INGÊNUO PENSAR QUE O GOVERNO PUDESSE SALVAR-NOS" - João Céu e Silva

Valter Hugo Mãe. Fotografia © Paulo Spranger - Global Imagens

Quatro horas antes de ser anunciado que Valter Hugo Mãe era o vencedor do Prémio Portugal Telecom de Literatura em Língua Portuguesa, o escritor deu uma entrevista mais política do que literária ao DN. E foi claro quanto à situação nacional: "Frustra-me este impasse entre uma esquerda e uma direita que não vai a lado nenhum."

Para o escritor que tem entusiasmado os leitores portugueses a cada romance publicado, e recebido a adoração dos leitores brasileiros, Portugal está , neste momento, "encurralado pela Europa inteira e as decisões não dependem de qual for a opção nacional". Não acredita que "alguma pessoa no Governo português pudesse salvar-nos do pé para a mão", nem vislumbra ninguém "capaz de tomar uma posição em Portugal como aconteceu na Islândia". Daí que conclua: "Enquanto isto for assim, estamos entregues aos bichos."

Valter Hugo Mãe, que é dos poucos escritores portugueses a introduzir nas suas obras um posicionamento político sem receio, afirma que "não é só Portugal que está a frustrar os seus cidadãos, é uma Europa que nos foi prometida que está a falhar completamente". Segundo o autor, a "Europa é hipócrita". Vai mais longe, ao considerar que a Europa "está a fascizar-se". E alerta para o facto de que "a humanidade precisa de aprender algumas coisas e de uma vez por todas".

Quanto ao seu sucesso no Brasil, Valter Hugo Mãe diz que teve sorte: "Fui exposto de um modo veloz e tive a sorte de o público tomar conhecimento de quem sou. Mas não acho que gostem mais de mim aqui do que em Portugal, onde tenho bastantes leitores muito impressionados e impressionantes." Mas não nega que já há muita gente que o critica: "Fui ao Brasil, emocionei-me e houve quem dissesse que me destruí como autor. Mas eu chorei muito em Portugal, em muitas sessões e sítios."

Uma coisa é certo, mesmo com tanto sucesso, Valter Hugo Mãe continuará a viver no bairro mais pobre de Vila do Conde: "Sempre digo ao fim de uma semana fora que não há Nova Iorque que chegue aos pés das Caxinas! A perspetiva de voltar às Caxinas é-me essencial para um conforto mental."

Extraído do sítio Diário de Notícias

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