4 de janeiro de 2013

A LÍNGUA MIRANDESA RESISTE EM PORTUGAL - Iracema Sodré


O mirandês é falado por cerca de 10 mil pessoas na região de Miranda do Douro, no nordeste de Portugal, e desde 1999 foi reconhecido como a segunda língua oficial da República Portuguesa.

Um turista desavisado poderia passar pela região de Miranda do Douro, no nordeste de Portugal, e nem perceber que lá se fala outra língua. Mas basta um olhar mais atento para notar que nestas aldeias o idioma principal é o mirandês.

Em 1999, o mirandês foi reconhecido como o segundo idioma oficial de Portugal, o que ajudou a desfazer um pouco do preconceito que cercava a língua. Até então, ela vista apenas como um dialeto usado por gente humilde, que não sabia falar direito.

Hoje cerca de 10 mil pessoas se orgulham de falar esta língua neolatina derivada do leonês, que era falado no antigo Reino de Leão, onde hoje é o noroeste da Espanha.

O professor de mirandês Duarte Martins declarou: “Até 1884, o mirandês foi sempre uma língua oral, transmitida sempre de geração em geração. Portanto, há que dar mérito também às pessoas que transmitiram esta língua aos seus filhos, aos seus netos, oralmente até aos dias de hoje.”

As montanhas de Miranda do Douro mantiveram essas aldeias isoladas durante séculos. Isso ajudou não só a preservar o idioma mirandês, mas também tradições que só existem nesta região de Portugal.


Célio Pires é um dos três tocadores de gaita de fole mirandesa na pequena aldeia de Constantim e também fabrica os instrumentos típicos da região. Segundo ele, a música e a dança têm um papel fundamental na divulgação do idioma mirandês.

“Cada vez mais os grupos saem por este mundo afora tanto a tocar, e levam consigo tanto a língua mirandesa e a música, obviamente”, disse ele.
“Por beilar l pingacho, dórun m’un-rialBeila-lo, beila-lo picorcito,Beila-lo, que te quiero um pouquito…“

O estudioso da língua mirandesa Amadeu Ferreira acha que o idioma está sendo cada vez mais reconhecido em Portugal. “No fundo, as pessoas dizem: ‘Bom, os mirandeses são portugueses; falam uma outra língua, mas essa língua também é uma língua nossa; e afinal os mirandeses até gostam de ser portugueses!’”, declarou Amadeu.

Mas o futuro do mirandês é incerto: hoje, os jovens da região estão mais expostos ao português e ao espanhol, e ainda há muito o que fazer para que as próximas gerações continuem a usar o idioma de seus pais e avós. 

* Originalmente publicado no sítio da BBC Brasil.

Extraído do sítio Ventos da Lusofonia

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