22 de janeiro de 2013

FACULDADE ALEMÃ ENSINA A FAZER LIVROS MANUALMENTE - Ronny Arnold


Em plena era digital, jovens do mundo todo recorrem à Academia de Artes Visuais de Leipzig para estudar a produção artesanal de livros. O que no passado era um trabalho técnico, hoje é uma forma de arte.

O estudante Benjamin Buchegger gosta de comparar a relação entre livro e internet com aquela entre pintura e fotografia. "O livro morre como dispositivo de informação para se tornar, ele próprio, arte", diz Buchegger. O jovem austríaco estuda há três anos e meio na Academia de Artes Visuais de Leipzig (HGB, na sigla em alemão) – um local onde o livro já se tornou há muito objeto de arte.

Buchegger: livro como arte

Em nenhum outro lugar da Europa os estudantes se debruçam tanto sobre a mídia livro como nesta instituição de ensino. Eles não aprendem apenas como os livros foram artesanalmente feitos através dos séculos, mas também como eles poderão continuar funcionando no futuro, ou seja, como objeto de arte e também como produto industrial. Em plena era digital, os estudantes fazem experimentos para ver como livros de pequenas tiragens têm, mesmo assim, seu público específico, ou seja, eles descobrem onde há nichos, nos quais o livro pode sobreviver.

Reinterpretação de ideias antigas

Artes editoriais é o nome da graduação oferecida pela HGB, onde se pode também estudar design gráfico. O curso tem duração de cinco anos. "Em função da nossa história, temos naturalmente um conhecimento especial sobre a maneira de produzir livros", explica o professor Oliver Klimpel. Afinal, a HGB é uma das universidades mais antigas da Alemanha, fundada em 1764. Em Leipzig, cidade que abriga uma feira do livro famosa e várias editoras, questões relacionadas ao mercado editorial sempre desempenharam um papel importante.

Academia de Artes Visuais de Leipzig, uma das mais antigas universidades da Alemanha
Klimpel, ele próprio ex-aluno da HGB, é professor de design de sistemas na escola. Aos 39 anos, ele vive entre Leipzig e Londres, onde tem um escritório de design gráfico. O conceito de "arte editorial" é visto por ele como ambíguo, "pois ele força uma ideia tradicional de livro artesanal". "Na HGB, por outro lado, procuramos encontrar novas formas e formatos, que preservem o livro como tal, mas contribuam para sua evolução", ressalta Klimpel. Como, por exemplo, ao ver o livro como um acréscimo importante às fontes de informação digitais, como a internet ou as mídias visuais.

Vaga cobiçada também por estudantes estrangeiros

Para entender como surgiu o livro e que valor ele tem, os estudantes da HGB em Leipzig imprimem livros eles próprios e trabalham com uma prensa tipográfica. Ou seja, eles aprendem na universidade um ofício antiquíssimo, que tende cada vez mais a desaparecer na era digital.

A suíça Aurelia Mark queria estudar em Leipzig de qualquer forma

As salas de aula da HGB são pequenas, com uma média de apenas 10 a 15 alunos novos iniciando a graduação a cada ano. E há muito mais candidatos do que vagas. No momento, estudam ali 600 alunos. Muitos deles vêm, como Benjamin Buchegger, do exterior, pois a graduação em arte editorial é uma raridade fora da Alemanha.

Interesse pela tradição

No primeiro ano de curso, os estudantes têm aulas genéricas de matérias fundamentais, como pintura, fotografia e design. Depois disso, há dois semestres de cursos básicos específicos da graduação escolhida. E é só nos últimos semestres que eles se especializam nos diferentes setores da arte editorial, como tipografia, design de sistemas, ilustração ou texto.

A suíça Aurelia Markwalder, que estudou durante cinco anos em Leipzig e está prestes a se formar, só tem elogios para a HGB, onde começou sua graduação aos 26 anos, já com dois aprendizados técnicos no currículo. "Me candidatei em outros lugares, mas queria vir para Leipzig de qualquer forma", conta ela. "Foi por essas oficinas e pela tradição que me decidi", conclui a estudante.

Letras de chumbo e madeira

Oliver Klimpel: amor ao ofício de fazer livros
De fato, existe ainda na universidade um arsenal imenso de antigas prensas tipográficas e fontes, que são usadas até hoje pelos estudantes para a confecção de livros. O professor Oliver Klimpel passeia pelas oficinas, puxa gavetas grandes e mostra um respeitável estoque de letras de chumbo e madeira. E cada letra tem realmente um peso, o que faz da visita ao local uma verdadeira aula de história. "Aqui ainda é possível colocar as mãos na massa e entender o que é o processo de fazer um livro e no que ele se diferencia daqueles que utilizamos hoje", conclui Klimpel.

Antigamente, era um trabalho duríssimo, ressalta a estudante Aurelia Markwalder. Mas foi exatamente esse esforço em função de cada uma das letras que a ajudou a compreender e valorizar de outra forma o livro, e a querer preservá-lo para o futuro, diz ela. "A produção de um livro é, para mim, um ofício precioso, não importa se desenho a mão, escrevo ou uso o computador", resume a estudante.

Extraído do sítio Deutsche Welle

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