11 de janeiro de 2013

PARA SEMPRE CACHOEIRO - Cristina Romanelli

Rubem Braga na proa de um veleiro [Foto: divulgação]

Não é qualquer um que consegue manter a compostura após ser chamado de “burro”. Em Cachoeiro de Itapemirim, no Espírito Santo, há quem diga que o cronista Rubem Braga (1913-1990) atirou um livro na direção do professor de matemática quando tinha apenas 15 anos, após ouvir o insulto. Depois do episódio, ele foi embora da cidade, mas o povo capixaba não o esqueceu. A primeira grande exposição sobre o escritor, com cerca de 250 documentos, fotos e objetos, será inaugurada em Vitória no dia 28. De lá, ela segue para São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte e Recife, até que se instale definitivamente na Casa dos Braga, em Cachoeiro, em 2014.

A exposição, assim como outros eventos que já acontecem pelo país, comemoram o centenário de Braga, que será neste sábado, dia 12 de janeiro de 2013. O Instituto Moreira Sales (IMS), por exemplo, realiza hoje, às 20h, no Rio de Janeiro, o evento “Assim canta o sabiá”, com depoimento da escritora Ana Maria Machado. Já a Rádio Batuta, também do IMS, disponibiliza em seu site (http://ims.uol.com.br/radiobatuta) a leitura de duas crônicas do escritor: “Homem no mar” e “Faço questão do córrego”.

Nas livrarias haverá novidades ao longo de todo o ano de 2013. Um dos principais destaques é Retratos parisienses, da editora José Olympio. A obra reúne 31 textos que retratam personalidades como o artista Henri Matisse (1869-1954) e o filósofo e escritor Jean-Paul Sartre (1905-1980). Inéditos em livro, eles foram escritos no período em que Braga foi correspondente em Paris.

O Grupo Editorial Record traz ainda mais novidades, como a edição especial de 200 crônicas escolhidas, a reedição de Na cobertura de Rubem Braga, do jornalista e escritor José Castello, e dois lançamentos: o infantil O menino e o Tuim, eRubem Braga – O lavrador de Ipanema, que reúne textos que revelam a paixão do escritor pela natureza.

Lá em Cachoeiro

Apesar de tantos eventos que ainda estão sendo programados pelo país, deve ser mesmo em Cachoeiro de Itapemirim onde as atenções se concentrarão. A casa que abrigou a família Braga desde 1913 foi tombada pelo estado do Espírito Santo em 2011 e será totalmente restaurada antes de receber a exposição.

No local hoje funciona uma biblioteca pública estadual e uma exposição, onde podem ser vistos recortes de jornais, fotos e até o retrato a óleo preferido de Rubem, feito pelo músico Dorival Caymmi (1914-2008). “Rubem foi o que mais se destacou na família, mas ano passado comemoramos o centenário de Newton, um dos irmãos dele, poeta que teve grande projeção no Rio de Janeiro. Relançamos a trilogia dele e publicamos um livro inédito com críticas literárias”, diz Cristiane Paris, secretária de cultura da cidade. 

A exposição sobre Rubem vai aproveitar parte do acervo na Casa dos Braga, mas também reuniu uma equipe para pesquisar no acervo da família, na Casa de Rui Barbosa - onde há alguns documentos sobre o cronista -, e também na Fundação Roberto Marinho, onde ele trabalhou em seus últimos anos. “Colhemos depoimentos de personagens como Ziraldo e Ana Maria Machado, reunimos muitas fotos antigas, passaportes diplomáticos e até cadernos de anotações da época em que ele foi correspondente de guerra”, conta o produtor cultural Robson Outeiro.

Rubem acompanhou a Segunda Guerra Mundial como correspondente do Diário Carioca na Itália e cobriu outros episódios históricos, como a Revolução Constitucionalista, em São Paulo, em 1932. Mas, apesar dos diversificados trabalhos na imprensa, ele se destacou mesmo como cronista. Seu primeiro livro no gênero foi O Conde e o Passarinho, de 1936, mas Rubem já vinha publicando desde 1928. “As primeiras crônicas saíram no Correio do Sul, jornal fundado pelos irmãos dele, Armando e Newton, em Cachoeiro. Ele escrevia lá quando tinha 15 anos. Nós conseguimos exemplares dessa época, que agora já estão digitalizados e vão entrar na exposição”, conta Carol Abreu, esposa de um dos sobrinhos de Rubem.

Carol foi a responsável por reunir e organizar todo o acervo existente no Espírito Santo, incluindo o que estava na Casa dos Braga. “Nada disso estava organizado. Conseguimos tanto material que muita coisa vai ficar de fora da exposição. Por isso, acho importante colocar o acervo na internet”, diz.

Os fãs do sabiá da crônica agradecem.

Exposição “Rubem Braga – O Fazendeiro do Ar”
De 29 de janeiro a 26 de maio de 2013
Palácio Anchieta - Praça João Climaco s/n, Cidade Alta, Centro – Vitória - ES
De terça a sexta, das 8h às 18h; fim de semana e feriados, das 9h às 17h

Depoimento de Ana Maria Machado no IMS-RJ
11 de janeiro, às 20h
Distribuição de senhas a partir das 19h
Rua Marquês de São Vicente, 476, Gávea
Tel.: (21) 3284-7400/ (21) 3206-2500

Extraído do sítio Revista de História

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