22 de janeiro de 2013

RESTAURAÇÃO SEM TRAUMAS - Mauro de Bias

Academia Brasileira de Letras decide restaurar três manuscritos do século XVIII sobre marquês de Pombal.

Três relíquias literárias portuguesas com mais de 200 anos vão voltar tinindo à biblioteca da Academia Brasileira de Letras (ABL). A instituição decidiu restaurar livros manuscritos sobre o marquês de Pombal (1699-1782). Eles estavam em seu acervo e jamais chegaram a ser impressos. Após o processo, as obras serão ainda digitalizadas para facilitar a consulta. Os livros em questão são Vida de Sebastião de Carvalho e Mello; Apresentação do Marquês de Pombal e Representações que tive agora, depois das viagens. Eles não estão datados, mas segundo pesquisadores, sabe-se que os dois primeiros foram escritos durante a vida do marquês.

Segundo o escritor e membro da ABL Alberto da Costa e Silva, as obras são raras. Da primeira, escrita antes de Sebastião de Carvalho e Mello ser nomeado o famoso marquês, só existe uma cópia que se tenha conhecimento, e ela está guardada na Torre do Tombo, em Lisboa.

De acordo com Costa e Silva, ao contrário do que chegou a ser especulado, os livros não foram uma descoberta, tampouco uma surpresa. “Já se sabia onde eles estavam. Mas agora nós decidimos restaurá-los”, afirma o escritor. As obras pertenciam à coleção de Marcos Carneiro de Mendonça (1894-1988), que trabalhou como historiador e goleiro do Fluminense e da seleção brasileira.

O processo de recuperação dos livros históricos é longo e pode levar de seis meses a um ano, segundo o acadêmico. E o trabalho não será nada fácil. “A tinta usada era muito corrosiva”, diz Costa e Silva. “Por isso decidimos restaurar na Biblioteca Nacional, que faz um excelente trabalho nessa área. Depois, os livros serão digitalizados”, conclui o imortal.

Patrícia Giordano, especialista em restauração de livros e obras raras do Instituto Hercule Florence, ressalta as particularidades desse tipo de recuperação. “Com tinta ferrogálica, usa-se fitato de cálcio. É um tratamento complexo, neutraliza a oxidação do documento. Antes, porém, é necessário fazer uma análise, ver se o papel aguenta”. Se não aguentar, o processo pode destruir as folhas, segundo a especialista. “O grau de intervenção vai ser definido pelo próprio documento”, analisa.

O historiador Francisco José Calazans Falcon afirma que os textos escritos durante a vida do marquês de Pombal podem conter imprecisões. “Ele era autoritário, não admitia opiniões contrárias, e foi se livrando dos adversários conforme eles apareciam. Enquanto ele viveu, a maioria ou ficou calada ou teceu elogios. Então, os elogios da época em que ele estava vivo, nós temos de colocar sob suspeita”, afirma o professor.

Depois que o marquês foi dispensado e exilado pela rainha Maria I, em 1777, seus detratores surgiram aos montes. “Aí os ratos saltaram no convés. Todo o mundo botou as unhas de fora”, brinca Falcon. A própria soberana era um desafeto. A “demissão” do nobre foi seu primeiro ato no poder. Hoje, o Brasil dispõe de pouco acervo sobre Pombal. Agora, obras renovadas e digitalizadas vão melhorar o trabalho dos pesquisadores.

Extraído do sítio Revista de História

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