29 de janeiro de 2013

SONHOS E QUADROS DE MEYER AXELROD - Armen Apressian

Kolkhoz judaico no Crimea. © Fotos concedidas pelo serviço de imprensa da galeria Vellum

No final de janeiro, no centro de exposições “Artefakt” em Moscou, será inaugurada a exposição “Está tudo nestas linhas: e o que foi sonhado...”. Na mostra são apresentadas cerca de 30 obras do conhecido pintor do século XX Meyer Axerold.

As obras de Meyer Axerold (1902-1970) tiveram um destino estranho e complexo: seus trabalhos não se inseriam no contexto da arte soviética, eles eram muito originais, muitos incompreendidos, muito românticos. Seus professores foram os reconhecidos mestres russos Vladimir Favorski e Serguei Gerassimov. Meyer Axelrod atingiu a fineza da escola clássica, mas não se deteve no que alcançou: ele era admirador dos mestres do Renascimento italiano, entusiasta dos impressionistas e pós-impressionistas franceses. Um apreciador da arte vê com facilidade em seus trabalhos a influência de Modigliani e Van Gogh.


Por um lado não o proibiam e não perseguiam, ele não ficava sem trabalho: decorava livros, era conhecido com pintor teatral, foi autor de frescos para o filme de Serguei Eisenstein “Ivan, o Terrível”, que é considerado um clássico do cinema mundial. Ao mesmo tempo, havia má vontade em expor os seus trabalhos, em vida realizaram-se apenas duas exposições pessoais dele e mesmo assim em Rostov sobre-o-Don, ou seja, na província, tendo a primeira grande exposição retrospetiva acontecido na capital apenas em 1972, dois anos depois da morte do pintor. Ainda em vida comparavam-no com Marc Chagall, e o conhecido crítico de arte Mikhail Alpatov escreveu: “ A arte de Axelrod será, com o tempo, avaliada como arte do maior pintor de nossa época”.

A filha do pintor, Elena Axelrod, lembrava como, depois de sua morte, “os museus como que caíram em si e começaram a comprar os seus trabalhos, os colecionadores, nacionais e estrangeiros começaram a procurá-los.” Foi então que as suas obras foram compradas pela Galeria Tretiakov, pelo Museu Russo e pelo Museu de Artes Plásticas Pushkin e muitos museus da província. A popularidade de Meyer Axelrod cresce de ano para ano, suas obras aparecem com cada vez maior frequência à venda em casas de leilões russas e europeias, nos últimos anos foram organizadas várias grandes exposições.

A base da exposição, a ser inaugurada em 28 de janeiro, é constituída de trabalhos gráficos de 1920-30. São ilustrações de obras de conhecidos escritores tais como Sholom Aleichem, Isaac Babel, Anton Tchekhov e muitos outros, e também esboços de povoados judeus, onde o pintor passou a infância e juventude e que deixaram uma profunda marca em sua vida e obra.

Atraem em especial a atenção seus “contos” em têmpera sobre regiões onde ele esteve já na segunda metade do século XX. Em primeiro lugar a região do Báltico, onde o artista plástico viu o “país dos contos dos irmãos Grimm”: colunas, ogivas e altas torres góticas, tendo por fundo o céu azul.

“Ei-la, a concretização paisagística do sonho do intelectual moscovita sobre o paraíso na Terra – diz a curadora da exposição, crítica de arte Liubov Agafonova – nos anos 60, quando a região do Báltico era a única lufada de liberdade para a intelectualidade soviética, os melhores representantes desta “camada” procuraram ir lá e gravar o que viam em versos e prosa, no papel e na tela. Depois, presentear-nos, no leste totalitário, com o sonho quase ocidental de liberdade, do mar, dos barcos, de tudo aquilo que faz falta no eterno outono moscovita”.

O nome da exposição é uma citação de versos do contemporâneo de Meyer Axelrod, o notável poeta moscovita Pavel Kogan, morto na guerra. Ambos chegaram à capital vindos das regiões ocidentais do antigo império, ambos eram representantes típicos da juventude criadora moscovita de meados do século e até viviam perto, junto de estações vizinhas do metrô.

Extraído do sítio Voz da Rússia

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