7 de fevereiro de 2013

A GRANDE PROVA DA SEGUNDA GUERRA MUNDIAL - Makhmut Gareiev

Foto: TASS
Durante a Grande Guerra Patriótica [como a Segunda Guerra Mundial é conhecida na Rússia – nota do editor] houve também outras vitórias, não menos brilhantes, das forças soviéticas – tanto pelos seus resultados estratégicos, quanto pelo nível da arte militar. Por que, então, a batalha de Stalingrado recebe tanto destaque?

Os interesses da ciência histórica e o desenvolvimento da cooperação entre os povos obrigam a história militar libertar-se do espírito de confronto e subordinar as investigações dos cientistas aos interesses da verdadeira e objetiva da história da Segunda Guerra Mundial, incluindo a batalha de Stalingrado.

Em primeiro lugar, algumas pessoas tentam adulterar a história da Segunda Guerra Mundial, combater novamente a guerra no papel. Na historiografia mundial não há um único entendimento sobre o significado da batalha de Stalingrado para o curso e o resultado da Segunda Guerra Mundial.


Após o fim da guerra, surgiram afirmações na literatura ocidental de que não foi a batalha de Stalingrado, mas a vitória das tropas aliadas em El Alamein, o ponto mais importante da mudança no decorrer da Segunda Guerra Mundial. Naturalmente, por uma questão de objetividade, é preciso reconhecer que, em El Alamein, a vitória dos aliados foi grande, trazendo uma contribuição substancial para a derrota do inimigo comum.

No entanto, em termos militares estratégicos, a batalha de Stalingrado aconteceu em um território enorme (quase 100 mil quilômetros quadrados), enquanto a operação de El Alamein foi conduzida na relativamente estreita costa africana. Além disso, mais de 2,1 milhões de pessoas, 26 mil armas e morteiros, 2,1 mil tanques e 2,5 mil aviões de combate participaram de ambos os lados em diferentes fases da batalha em Stalingrado. O comando alemão atraiu 1.011.000 homens, 10.290armas, 675 tanques e 1.216 aviões, enquanto em El Alamein, o Afrika Korps de Rommel contava somente com 80 mil homens, 540 tanques, 1.200 armas e 350 aviões.

A batalha de Stalingrado durou 200 dias e noites [de 17 de julho de 1942 até 2 de fevereiro de 1943]; já o combate de El Alamein durou 11 dias [de 23 de outubro a 4 de novembro de 1942], sem falar da impossibilidade de comparar a tensão e a crueldade entre estas duas batalhas.

Se em El Alamein o bloco fascista perdeu 55 mil pessoas, 320 tanques e cerca de mil armas, as perdas alemãs em Stalingrado e seus satélites foram 10 a 15 vezes maiores. Ali cerca de 144 mil pessoas foram aprisionadas e um agrupamento de 330 tropas foi destruído. Foram também muito grandes as perdas das tropas soviéticas, chegando a 478.741 pessoas.

É também incomparável o significado político e militar dos eventos ocorridos. A batalha de Stalingrado aconteceu no principal palco europeu das ações militares, onde decidia-se o destino da guerra. Realizada no norte da África, a operação em El Alamein ocorreu em um palco secundário da guerra, portanto, sua influência sobre o curso dos acontecimentos pode ser considerada indireta. A atenção do mundo inteiro não estava voltada para El Alamein, mas justamente para Stalingrado.

Por sua vez, as grandes derrotas e os enormes prejuízos da Wehrmacht em Stalingrado pioraram drasticamente a situação político-militar e econômica na Alemanha, afundando o país em uma crise violenta. Os prejuízos dos tanques inimigos e veículos na batalha de Stalingrado equivaleram, por exemplo, a seis meses de fabricação de armas da Alemanha. E para compensar essas perdas tão grandes, a indústria militar alemã foi forçada a operar sob extrema tensão. As perdas humanas também intensificaram a crise.

O desastre no Volga teve um impacto significativo sobre a moral da Wehrmacht alemã. Cresceu o número de casos de deserção e desobediência e os crimes militares no exército alemão tornaram-se mais frequentes. Depois de Stalingrado, o número de sentenças de morte proferidas por tribunais para os soldados alemães aumentou significativamente. Esses soldados passaram a ser menos obstinados nas suas ações militares, começaram a temer ataques dos flancos e vizinhanças. Entre alguns políticos e representantes dos oficiais de alto escalão cresceu a oposição a Hitler.

A vitória do Exército Vermelho em Stalingrado chocou o bloco militar fascista, causou um efeito deprimente sobre os satélites da Alemanha, e levou pânico e contradições insolúveis para o seu acampamento.

Para escapar da catástrofe iminente, os governantes da Itália, Romenia, Hungria e Finlândia começaram a procurar pretextos para sair da guerra, ignorando as ordens de Hitler de enviar as tropas para o conflito. Em 1943, não só soldados e oficiais se rendiam ao Exército Vermelho, mas também divisões inteiras e partes dos exércitos romeno, húngaro e italiano. As relações tornaram-se tensas entre os soldados da Wehrmacht e os Aliados.

A derrota esmagadora dos fascistas em Stalingrado causou um efeito de sobriedade sobre os círculos governantes do Japão e Turquia. Eles desistiram de suas intenções de sair para a guerra contra a URSS.

O sucesso alcançado pelo Exército Vermelho em Stalingrado e nas operações subsequentes da Campanha de Inverno de 1942-1943, Alemanha foi ficando cada vez mais isolada na arena internacional. Nessa época, o governo soviético estabeleceu relações diplomáticas com a Áustria, Canadá, Holanda, Cuba, Egito, Colômbia, Etiópia, e retomou os laços, suspensos anteriormente, com Luxemburgo, México e Uruguai.

Por todos os motivos supracitados, é possível perceber que foi justamente a batalha de Stalingrado que desestruturou a coluna vertebral da Wehrmacht e deu início a uma mudança radical na Segunda Guerra Mundial em favor da coligação anti-Hitler.

* Makhmut Akhmetovich Gareiev é presidente da Academia de Ciências Militares, Doutor em Ciências Militares e Doutor em Ciências Históricas. Gareiev também participou da Grande Guerra Patriótica.

Extraído do sítio Gazeta Russa

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