2 de fevereiro de 2013

O VALOR DA IDADE - Amelia Pang

Jared Diamond fala sobre seu mais recente livro, “The World Until Yesterday: What Can We Learn from Traditional Societies?” (O mundo até ontem: o que podemos aprender das sociedades tradicionais?), em Manhattan dia 7 de Janeiro de 2013 (Samira Bouaou/The Epoch Times)

NOVA YORK – Ele, sentado em frente a sua televisão, está frustrado por não conseguir descobrir como usar seu controle-remoto de 42 botões, embora seu filho tenha deixado instruções escritas.

O autor Jared Diamond, vencedor do Prêmio Pulitzer, ainda sabe como usar a régua de cálculo para o cálculo de logaritmos, importante até os dias de hoje.

“Eu, aos 75 anos, tornei-me incompetente em habilidades essenciais necessárias à vida quotidiana norte americana,” disse Diamond em tom de brincadeira.

Embora ele não saiba como fazer sua televisão funcionar, Diamond é um renomado especialista em vários campos: geografia, ornitologia, ecologia e história ambiental. Ele é mais conhecido por ser o autor do livro “Guns, Germs, and Steel: The Fates of Human Societies, and Collapse: How Societies Choose to Fail or Succeed”(Armas, Germes e Aço: Os Destinos das Sociedades Humanas, e Colapso: Como as Sociedades Escolhem Falhar a Ter Sucesso).

Seu livro mais recente, “The World Until Yesterday: What Can We Learn from Traditional Societies?” (O mundo até ontem: o que podemos aprender das sociedades tradicionais?) explora o modo como as sociedades tribais lidam com algumas das questões que agora estão ganhando importância nos Estados Unidos.

Diamond falou do capítulo cujo tema é cuidar dos idosos na Universidade The New School (A Nova Escola), EUA, dia 7 de Janeiro.

Diamond não recomenda que as sociedades modernas voltem ao estágio da caça e colheita, ao contrário, defende que há muito a aprender sobre o modo como as sociedades tradicionais tratam e consideram os “aposentados”.

Problemas com serviço de enfermagem em casa e fundos para Segurança Social são problemas crescentes nos Estados Unidos, especialmente quando se estima que o crescimento da população idosa será num ritmo mais rápido do que no passado.

Em 1860, metade da população americana tinha menos de 20 anos; em 1994, metade tinha 34 anos ou mais, de acordo com o Instituto de Censos dos Estados Unidos.

Em 2000, havia 34.991.753 americanos com idade acima de 65, isto é, 12,4% da população. Dez anos depois, o número aumentou para 40.267.984, isto é, 13% da população.

A população com mais de 65 anos em 2050 é estimada em 88,5 milhões pessoas e comporá 20% da população dos Estados Unidos.

As pessoas se preocupam com a melhor forma de facilitar o processo de envelhecimento, porém Diamond argumenta que não devemos esquecer que a população idosa ainda tem muito a contribuir para a sociedade.

Diamond acredita que não deva haver um processo de aposentadoria formal. Assim como os idosos de comunidades tribais, que embora tenham alcançado certa idade, continuam a ensinar e a cuidar de seus netos, a fazer ferramentas ou a conseguir comida, Diamond considera que os idosos das sociedades modernas devem continuar a disponibilizar seus conhecimentos e sua experiência nos ambientes de trabalho ou doméstico.

“Tenho visto esse [grande] valor nos meus amigos de 60, 70, 80 anos que ainda continuam atuando como agricultores, advogados e cirurgiões”, disse Diamond.

Segundo Diamond, as pessoas mais velhas são melhores em sintetizar informações e experiências, proporcionando um tipo particular de conhecimento que não pode ser encontrado em livros ou no Google.

A sabedoria adquirida com a experiência pessoal de ter vivido acontecimentos como a Segunda Guerra Mundial ou a Grande Depressão não pode ser aprendida apenas com fontes secundárias.

“A Maioria dos nossos eleitores e dirigentes atuais não possuem experiência pessoal sobre essas coisas, embora milhões de Americanos tenham “, disse Diamond. “Infelizmente, situações horríveis como essas podem voltar a acontecer. Mesmo que não aconteçam, temos de ser capazes de planejar com base na experiência obtida de acontecimentos como esses”.

Diamond passou décadas pesquisando as sociedades tribais: os índios da Amazônia, o povo San Kalahari, de Ilhas do Pacífico e outros. Ele se refere a tais sociedades tribais – pequenas sociedades que ainda vivem basicamente da caça e da colheita ou agricultura – como sociedades tradicionais.

Nos anos em que conviveu com povos tribais, a história de uma mulher idosa, em particular, ficou marcada em sua mente.

Em 1976, Diamond visitou Rennell, uma ilha remota da Polinésia, no Oceano Pacífico do Sul. Lá, ele conheceu uma mulher idosa em seus 80 anos que já não enxergava e não podia andar. Porém, as chances de sobreviver a um novo desastre natural estavam fortemente apoiadas na experiência dessa mulher.

Em 1910, quando ela ainda era uma adolescente, um ciclone atingiu essa ilha e destruiu a maior parte de sua produção. A população conseguiu sobreviver comendo espécies de frutas silvestres que normalmente seriam consideradas não comestíveis.

“Se outro grande ciclone atingir a ilha Rennell, a única coisa que poderá salvar os habitantes da ilha de morrerem de fome será a memória dessa velha mulher”, disse Diamond. “Ela é a única pessoa viva que ainda se lembra dessas frutas normalmente consideradas não comestíveis e que são seguras de se comer quando não se tem mais nada para se comer”.

Embora muitas coisas possam ser facilmente encontradas na sociedade moderna através da Internet ou dos livros, há mais valor no conhecimento que vem da experiência pessoal do que o encontrado na World Wide Web.

As pessoas idosas não devem ser colocadas para jogar bingo entre si em casas de idosos. Ao invés disso, devem sair de casa para compartilhar suas memórias, pois elas são os guardiões de pequenos fatos, tais como árvores frutíferas exóticas comestíveis ou como conseguir a melhor carne durante um racionamento de comida. Nós nunca sabemos quando tal informação poderá um dia ser útil.

Extraído do sítio The Epoch Times

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