28 de fevereiro de 2013

OBESIDADE, UM PROBLEMA FEDERAL - Aracy P.S. Balbani


A Organização Mundial de Saúde calcula que 2,8 milhões de pessoas morram a cada ano em consequência da obesidade, tornando esta epidemia a mais grave do início do século 21. No Brasil, os números do problema engordam cada vez mais. O país tem pelo menos 70 milhões de cidadãos acima do peso, dos quais 18 milhões são obesos. Cerca de 34% das crianças de cinco a nove anos e 21,7% das crianças e adolescentes de 10 a 19 anos pesam mais do que deveriam. A epidemia de obesidade na adolescência fez com que se reduzisse o limite de idade para realizar cirurgia bariátrica de 18 para 16 anos. 

Sabe-se que 80% das pessoas obesas na infância continuarão a padecer desse mal na idade adulta, com maior risco de sofrerem lesões dolorosas nos joelhos e no quadril, hipertensão arterial, diabetes tipo 2, sintomas digestivos, apneia obstrutiva do sono, obstrução das artérias pelo colesterol elevado e também o preconceito social. 

Pesquisas comprovam que fatores genéticos contribuem muito para a ocorrência da obesidade, assim como a existência de determinado tipo de bactéria no intestino, o hipotireoidismo, a vida sedentária e a mudança de hábitos alimentares, com maior consumo de lanches e alimentos industrializados.

O sedentarismo e a alimentação inadequada se disseminaram pelas áreas urbanas e rurais em todo o território nacional. Os deslocamentos de moto ou carro substituíram as caminhadas e o uso da bicicleta. Mesmo nas áreas ribeirinhas da Amazônia diminuiu o consumo de peixe e aumentou a ingestão de iogurtes, biscoitos recheados e outras guloseimas altamente calóricas.

Um brasileiro consome 51 kg de açúcar por ano. Apenas 1/3 dos alunos do ensino fundamental das escolas particulares comem hortaliças e frutas cinco vezes ou mais por semana. Crianças e adolescentes de todas as classes sociais ingerem grandes quantidades de refrigerantes, salgadinhos, biscoitos e chocolates, passam mais tempo em frente ao computador ou à TV e praticam menos atividades físicas. 

Combater a fome e a desnutrição sempre foi um desafio no Brasil. Agora há outra questão: controlar a epidemia de obesidade e seus efeitos na vida das pessoas e no sistema de saúde. As filas para cirurgia bariátrica no SUS cresceram tanto que vários pacientes, após três anos de espera, têm movido ações judiciais para tentarem obter uma vaga em hospital público. Crianças gordinhas aumentam a demanda por consultas para tratar a hipertensão arterial e o colesterol alto. Não há serviços públicos de polissonografia que consigam suprir a necessidade de exames para diagnóstico de apneia do sono em obesos. Isso levou o Ministério da Saúde a implementar um programa contemplando a obesidade no âmbito do controle das doenças crônicas não transmissíveis.

Há uma distância entre as recomendações dos médicos e nutricionistas - muitos dos quais estão acima do peso - para emagrecer com saúde e o que os pacientes colocam em prática. Falar é fácil, mas mudar o estilo de vida para emagrecer de forma saudável e manter o peso é difícil. Enquanto o Ministério da Saúde e as entidades médicas discutem a proibição da comercialização de anfetaminas, revistas semanais batem recordes de venda com matérias de capa sobre dietas e remédios para “derreter” a gordura corporal. É urgente que o governo tome iniciativas para combater a obesidade. Corremos o risco de ficarmos conhecidos como Brasil, um país de gordos. 

A autora, Aracy P. S. Balbani, é médica otorrinolaringologista, colaboradora do JC.

Extraído do sítio Revista Bicicleta

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